terça-feira, 4 de maio de 2010

O pequeno jardim


1. É apenas a consciência do corpo que faz o amor parecer limita­do. Pois o corpo é um limite para o amor. A crença no amor limitado foi a sua origem e ele foi feito para limitar o ilimitado. Não penses que isso é apenas alegórico, pois ele foi feito para limitar a ti. E possível que tu, que te vês dentro de um corpo, conheças a ti mesmo como uma idéia? Tudo o que reconheces identificas com coisas externas, algo fora de ti. Não podes sequer pensar em Deus sem um corpo ou alguma forma que pensas re­conhecer.

2. O corpo não pode conhecer. E enquanto limitas a tua cons­ciência aos seus sentidos diminutos, não verás a grandeza que te cerca. Deus não pode vir a um corpo, nem tu podes unir-te a Ele lá. Os limites ao amor sempre parecerão deixá-lo de fora e man­ter-te a parte Dele. O corpo é uma cerca diminuta em torno de uma pequena parte de uma idéia gloriosa e completa. Ele dese­nha um círculo, infinitamente pequeno, em tomo de um segmen­to diminuto do Céu, desintegrado do todo, proclamando que aí dentro se encontra o teu reino, onde Deus não pode entrar.

3. Dentro desse reino o ego governa e cruelmente. E para defen­der esse pequeno monte de poeira, ele te pede para lutar contra o universo. Esse fragmento da tua mente é uma parte tão diminuta dela que, se apenas pudesses avaliar o todo, imediatamente ve­rias que ele é como o menor dos raios de sol é para o sol ou como a mais leve onda na superfície do oceano. Em sua surpreendente arrogância, esse diminuto raio de sol decidiu que é o sol, essa onda quase imperceptível aclama a si mesma como se fosse o oceano. Pensa em quão solitário e assustado é esse pequeno pen­samento, essa ilusão infinitesimal, mantendo-se à parte, contra o universo. O sol passa a ser o “inimigo” do raio de sol, aquele que quer devorá-lo, e o oceano aterroriza a pequena onda e quer en­goli-la.

4. Entretanto, nem o sol e nem o oceano estão sequer conscientes de toda essa estranha atividade sem significado. Meramente con­tinuam, inconscientes de estarem sendo temidos e odiados por um diminuto segmento deles mesmos. Mesmo esse segmento não esta perdido para eles, pois não poderia sobreviver à parte. E o que ele pensa ser, de forma alguma muda a sua total dependência em relação a eles para ser o que é. Toda a sua existência ainda permanece neles. Sem o sol, o raio de sol desapareceria e a onda sem o oceano é inconcebível.

5. Tal é a estranha posição em que aqueles que vivem em um mundo habitado por corpos parecem estar. Cada corpo aparenta abrigar uma mente separada, um pensamento desconectado, vi­vendo solitário e de nenhuma forma ligado ao Pensamento pelo qual foi criado. Cada fragmento diminuto parece estar contido em si mesmo e precisar de outros para algumas coisas, mas sem ser de modo algum dependente do seu único Criador, já que ne­cessita do todo para lhe dar. E nem tem qualquer vida à parte e por conta própria.

6. Como o sol e o oceano, o teu Ser continua sem ter em mente que essa parte diminuta considera a si mesma como se fosse tu. Ela não está perdida, não poderia existir se estivesse separada nem o todo seria um todo sem ela. Não é um reino separado, governado por uma idéia de separação do resto. E nem existe uma cerca em torno dela, impedindo-a de unir-se ao resto e man­tendo-a afastada do seu Criador. Esse pequeno aspecto não é diferente do todo, sendo contínuo em relação a ele e um com ele. Ele não leva uma vida separada, porque a sua vida é a unicidade na qual o que ele é foi criado.

7. Não aceites esse aspecto cercado e separado como se isso fosse o que tu és. O sol e o oceano são como o nada diante do que tu és. O raio de sol só brilha à luz do sol e a onda dança à medida em que descansa sobre o oceano. No entanto, nem no sol, nem no oceano, está o poder que descansa em ti. Irias querer perma­necer dentro do teu reino diminuto, um triste rei, um amargo ditador de tudo o que ele supervisiona, alguém que olha para o nada e, no entanto ainda quer morrer para defendê-lo? Esse pe­queno ser não é o teu reino. Em arco bem alto acima dele e cer­cando-o de amor está o todo glorioso, que oferece toda a sua felicidade e o seu profundo contentamento a todas as partes. O pequeno aspecto que pensas ter colocado à parte não é nenhuma exceção.

8. O amor não conhece corpos e alcança todas as coisas criadas como ele próprio. Sua total falta de limites é o seu significado. Ele é completamente imparcial no que dá, abrangendo apenas para preservar e manter completo aquilo que quer dar. No teu reino diminuto tu tens tão pouco! Nesse caso, não deveria ser para lá que deverias chamar o amor para que ele entre? Olha para o deserto —seco e improdutivo, alquebrado e sem alegria — que compõe o teu pequeno reino. E reconhece a vida e a alegria que o amor traria a ele do lugar de onde vem e para onde retornaria contigo.

9. O Pensamento de Deus cerca o teu pequeno reino, aguardando na barreira que tu construíste para vir para dentro e brilhar sobre a terra estéril. Vê como a vida brota em toda parte! O deserto vem a ser um jardim, verde e profundo e quieto, oferecendo des­canso àqueles que perderam o seu caminho e vagam no pó. Dá-lhes um local de refúgio, preparado pelo amor para eles onde antes havia um deserto. E cada um a quem dás boas-vindas trará amor com ele do Céu para ti. Eles entram um por um nesse lugar santo, mas não partirão como vieram, sozinhos. O amor que trouxeram consigo ficará com eles, assim como ficará contigo. E sob a sua beneficência, o teu pequeno jardim se expandirá e alcançará a todos os que tem sede da água viva, mas estão por demais cansados para seguirem adiante sozinhos.

10. Sai e acha-os, pois trazem consigo o teu Ser. E conduze-os gentilmente ao teu jardim de quietude e lá recebe a sua benção. Assim ele crescerá e se espalhará através do deserto, sem deixar nem sequer um pequeno reino isolado, trancado para o amor, contigo lá dentro. E reconhecerás a ti mesmo e verás o teu pe­queno jardim gentilmente transformado no Reino do Céu com todo o amor do seu Criador brilhando sobre ele.

11. O instante santo é o teu convite para que o amor entre em teu reino desolado e sem alegria e o transforme em um jardim de paz e boas-vindas. A resposta do amor é inevitável. Ela virá porque tu vieste sem o corpo e não interpuseste nenhuma barreira que interferisse com a sua vinda alegre. No instante santo, só pedes ao amor o que ele oferece a todas as pessoas, nem mais nem me­nos. Pedindo tudo, tu o receberás. E o teu Ser resplandecente elevará o aspecto diminuto que tentaste ocultar do Céu diretamente para o Céu. Nenhuma parte do amor chama pelo todo em vão. Nenhum Filho de Deus permanece fora da Sua Paternidade.

12. Tem certeza disso: o amor entrou no teu relacionamento espe­cial e entrou inteiramente a teu débil pedido. Não reconheces que o amor veio porque ainda não abriste mão de todas as barrei­ras que manténs contra o teu irmão. Tu e ele não sereis capazes de dar boas-vindas ao amor separadamente. Não serias mais ca­paz de conhecer a Deus sozinho, do que Ele de conhecer a ti sem o teu irmão. Mas juntos, vós já não poderíeis estar inconscientes do amor, assim como seria impossível o amor não vos conhecer ou falhar em reconhecer a si mesmo em vós.

13. Vós alcançastes o final de uma antiga jornada sem ainda reco­nhecer que ela terminou. Ainda estais desgastados e cansados e o pó do deserto ainda parece enevoar os vossos olhos e mantê-los sem ver. No entanto, Aquele a Quem destes as boas-vindas veio a vós e quer dar-vos as boas-vindas. Ele esperou muito para dar-­vos isso. Recebei agora Dele, pois Ele quer que O conheçam. Só uma pequena parede de poeira ainda se interpõe entre tu e teu irmão. Soprai-a de leve, com um riso alegre, e ela cairá. E cami­nhai para dentro do jardim que o amor preparou para vós.


Um Curso Em Milagres

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