sexta-feira, 7 de maio de 2010

O Perdão - I. Como perdoar a ti mesmo


1. Nenhuma dádiva do Céu foi tão mal entendida como o perdão. De facto, o perdão converteu-se numa praga: uma maldição quando o seu propósito era abençoar, uma cruel burla da graça, uma caricatura da santa paz de Deus. Mas aqueles que ainda não escolheram dar os primeiros passos da oração não podem usá-lo senão dessa maneira. A doçura do perdão, no princípio, parece difusa, porque não se entende o que é a salvação, nem se caminha realmente ao seu encontro. E, aquilo que tinha como propósito curar é utilizado para causar dano, porque não se deseja o perdão. A culpabilidade não se converte em salvação e o remédio parece ser uma terrível alternativa à vida.

2. O perdão-para-destruir ajusta-se muito melhor ao propósito do mundo do que o verdadeiro objectivo do perdão e do que os meios honestos mediante os quais ele se alcança. O perdão-para-destruir não se esquecerá de nenhum pecado, de nenhum crime, de nenhum resquício de culpa que possa encontrar e "amar". Para ele, o erro é algo de muito estimado, pelo que os enganos aumentam, crescem e expandem-se perante os seus olhos. Ele selecciona cuidadosamente todas as coisas perversas e despreza as amorosas como se de uma praga se tratassem: algo odioso que representa um perigo de morte. O perdão-para-destruir é a morte e é isto que vê em tudo o que contempla e odeia. A misericórdia de Deus converteu-se numa lâmina perversa que quer matar o santo Filho que Ele ama.

3. Gostarias de te perdoar a ti mesmo para fazer isto? Aprende, então, que Deus te deu os meios através dos quais podes regressar a Ele em paz. Não vejas os erros. Não lhes concedas realidade. Selecciona tudo o que é amoroso e perdoa todos os pecados preferindo, em seu lugar, o rosto de Cristo. De que outra forma pode a oração devolver-te a Deus? Deus ama o Seu Filho. Como poderias recordar-te Dele e, simultaneamente, odiar o que Ele criou? Se odeias o Filho que Ele ama, odiarás o Seu Pai, pois tal como vejas o Filho, assim te verás a ti mesmo, e tal como te vês a ti mesmo isso será Deus para ti.

4. Tal como rezas sempre para ti, da mesma forma é a ti que o perdão sempre é concedido. É impossível perdoar a outro, pois são unicamente os teus pecados aquilo que vês nele. Queres vê-los nele, não em ti. É por isso que perdoar a outro é uma ilusão. No entanto, é o único sonho feliz em todo o mundo: o único que não conduz à morte. Somente podes perdoar-te a ti mesmo em outro, pois fizeste-o culpado dos teus pecados e, agora, tens de encontrar a tua inocência nele. Quem, senão os pecaminosos, precisam de ser perdoados? Jamais penses que podes ver o pecado em alguém a não ser em ti mesmo.

5. Este é o grande engano do mundo, e tu és o que mais se auto-engana. Sempre parece que o outro é que é mau e que, como resultado do seu pecado, tu és prejudicado. Como é que a liberdade poderia ser possível se isto fosse verdade? Serias o escravo de todos, pois o que qualquer um fizesse ditaria o teu destino, os teus sentimentos, o teu desespero ou as tuas esperanças, o teu sofrimento ou a tua alegria. Não serias livre a menos que ele te concedesse a liberdade. E ele, ao ser mau, só pode dar maldade. Não podes ver os pecados dele sem ver os teus. Mas podes libertá-lo a ele e, também, a ti mesmo.

6. Perdoar verdadeiramente é onde radica a tua única esperança de liberdade. Tal como tu, os outros cometerão erros enquanto este mundo parecer ser a tua morada. Não obstante, o próprio Deus deu, a todos os seus Filhos, um remédio para todas as ilusões que julgam ver. A visão de Cristo não se serve dos teus olhos, mas tu podes olhar através dos olhos Dele e aprender a ver tal como Ele vê. Os enganos não são senão sombras efémeras que desaparecem rapidamente e, só por um instante, parecem ocultar o rosto de Cristo, o qual permanece imutável por detrás de todas elas. A sua constância permanece em tranquilo silêncio e em perfeita paz. Cristo não sabe de sombras. Dele são os olhos que olham, além do erro, para o Cristo em ti.

7. Pede-lhe, pois, a Sua ajuda, e como aprender a perdoar tal como a Sua visão permite que seja o perdão. Tens necessidade do que Ele dá, e a tua salvação depende de aprenderes o que Ele te ensina. Não se pode dar asas à oração para que se dirija ao Céu, enquanto o perdão-para-destruir continuar a ser o teu objectivo. A misericórdia de Deus quer eliminar este pensamento mordaz e venenoso da tua santa mente. Cristo perdoou-te, e, na Sua maneira de ver, o mundo torna-se tão santo como Ele. Ele não vê maldade no mundo, vê tal como faz, pois a quem Ele perdoou jamais chegou a pecar, pelo que a culpa não pode continuar a existir. O plano de salvação foi consumado e a sabedoria chegou.

8. O perdão é o chamamento à sabedoria, pois quem senão os dementes contemplariam o pecado quando, no seu lugar, poderiam ver o rosto de Cristo? Esta é a escolha que fazes: a mais simples e, no entanto, a única que podes fazer. Deus pede-te que salves o Seu Filho da morte oferecendo-lhe o amor de Cristo. Isto é algo de que necessitas, e Deus oferece-te esta Dádiva. Tal como Ele quer dar, assim tens de dar tu, também. E, deste modo, se restaura a oração ao indeterminado que está para além de qualquer limite à intemporalidade, sem nada do passado que a impeça de se reintegrar no canto ininterrupto que toda a criação entoa a Deus.

9. Mas, para alcançar este fim, primeiro tens de aprender, antes de poderes chegar ao ponto além do qual a aprendizagem não pode ir. O perdão é a chave, mas quem é que pode utilizar uma chave quando não sabe onde está a porta para a qual a chave foi feita e onde unicamente pode funcionar? Assim, pois, fazemos distinções para que a oração possa ser libertada da obscuridade e chegar à luz. A função do perdão tem de ser invertida e limpa de todos os usos perversos que fazem dele, e dos seus objectivos odientos. O perdão-para-destruir deve ser denunciado em toda a sua perfídia e, de seguida, abandonado para sempre. Não deve restar nenhum vestígio dele, se é que se quer realizar o plano que Deus estabeleceu para regressar e completar a aprendizagem.

10. Este é o mundo dos opostos. E, enquanto este mundo continuar a ser real para ti, a cada instante tens de escolher entre eles. Tens de aprender, porém, quais são as alternativas de que realmente dispões, ou não chegarás a ser livre. Permite-te, pois, entender o que é que, na realidade, o perdão significa para ti e aprende o que deveria ser para te libertar. O nível da tua oração depende de isto, pois é aqui que aguarda a tua liberdade para ascender, acima do mundo do caos, até à paz.

O Canto da Oração
A Oração. O Perdão. A Cura.
Um Ampliação de Um Curso Em Milagres

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