sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A base do sonho



1. Não é fato que nos sonhos surge um mundo que parece ser bastante real? Entretanto, pensa sobre o que é esse mundo. Claramente não é o mundo que viste antes de dormir. É mais uma distorção do mundo planejada somente em torno daquilo que terias preferido. Aqui estás “livre” para refazer qualquer coisa que aparentemente te tenha atacado e fazer dela um tributo ao teu ego, que foi ultrajado pelo “ataque”. A não ser que tenhas visto a ti mesmo como se fosses um com o ego, que sempre olha para si próprio e, portanto, para ti como alvo de ataque e alta­mente vulnerável a esse ataque, tal não seria o teu desejo.

2. Os sonhos são caóticos porque são governados pelos teus dese­jos conflitantes e não têm, portanto, qualquer preocupação com o que é verdadeiro. Eles são o melhor exemplo que poderias ter de como a percepção pode ser usada para substituir a verdade por ilusões. Não os levas a sério quando acordas, porque o fato da realidade neles ser violada de forma tão ultrajante passa a ser evidente. No entanto, são uma maneira de olhar para o mundo e de mudá-lo para agradar mais ao ego. Eles provêem exemplos gri­tantes tanto da incapacidade do ego de tolerar a realidade, quanto da tua disponibilidade para mudar a realidade a favor dele.

3. Não achas perturbadoras as diferenças entre o que vês durante o sono e ao despertares. Reconheces que o que vês quando acor­das é obliterado nos sonhos. Entretanto, ao acordares, não espe­ras que tenha desaparecido. Nos sonhos, tu arranjas tudo. As pessoas vêm a ser o que queres que sejam e o que fazem é o que tu ordenas. Nenhum limite em termos das substituições que po­des fazer te é imposto. Durante um certo tempo, é como se o mundo te fosse dado para que faças dele o que desejas. Não reconheces que o estás atacando, tentando triunfar sobre ele e fazer com que sirva a ti.

4. Os sonhos são cenas temperamentais da percepção, nos quais literalmente gritas: “Quero que seja assim!” E assim parece ser. E, no entanto, o sonho não pode fugir da sua origem. A raiva e o medo o perpassam e, em um instante, a ilusão de satisfação é invadida pela ilusão do terror. Pois o sonho de que tens a capaci­dade de controlar a realidade substituindo-a por um mundo que preferes é aterrador. As tuas tentativas de obliterar a realidade são muito amedrontadoras, mas isso não estás disposto a aceitar. E assim as substituis pela fantasia de que é a realidade que é amedrontadora e não o que queres fazer dela. E desse modo a culpa se faz real.

5. Os sonhos te mostram que tens o poder de fazer o mundo con­forme queres que ele seja e, porque o queres, tu o vês. E enquan­to o vês, não duvidas de que ele seja real. Contudo, aqui está um mundo, é óbvio que ele está dentro da tua mente, mas aparenta estar do lado de fora. Não respondes a ele como se o tivesses feito e nem reconheces que as emoções que o sonho produz ne­cessariamente vêm de ti. São as figuras no sonho e o que fazem que parecem fazer o sonho. Tu não reconheces que estás fazendo com que representem para ti, pois se reconhecesses, a culpa não seria delas e a ilusão de satisfação desapareceria. Nos sonhos, essas características não são obscuras. Pareces despertar e o so­nho se foi. Entretanto, o que falhas em reconhecer e que aquilo que causou o sonho não se foi com ele. O teu desejo de fazer um outro mundo que não é real permanece contigo. E aquilo para o qual pareces despertar, não é senão uma outra forma desse mes­mo mundo que vês nos sonhos. Todo o teu tempo é gasto em sonhar. Os teus sonhos, quando estás dormindo, e os teus so­nhos, quando estás acordado, têm formas diferentes e isso é tudo. Seu conteúdo é o mesmo. Eles são o teu protesto contra a reali­dade e a tua idéia fixa e insana de que podes mudá-la. Nos teus sonhos quando estás acordado, o relacionamento especial tem um lugar especial. Ele é o meio pelo qual tentas fazer com que os teus sonhos, enquanto estás dormindo, venham a ser verda­deiros. Disso, tu não despertas. O relacionamento especial é a tua determinação de manter-te apegado à irrealidade e impedir a ti mesmo de despertar. E enquanto deres maior valor ao sono do que ao despertar, não abrirás mão dele.

6. O Espírito Santo, sempre prático em Seu juízo, aceita os teus sonhos e os usa como um meio de fazer com que despertes. Tu os terias usado para permaneceres adormecido. Eu disse ante­riormente que a primeira mudança, antes dos sonhos desapare­cerem, é que os teus sonhos de medo são transformados em sonhos felizes. É isso o que o Espírito Santo faz no relacionamen­to especial. Ele não o destrói, nem o arranca de ti. Mas Ele o usa de um modo diferente, como uma ajuda para fazer com que o Seu propósito seja real para ti. O relacionamento especial perma­necerá, não como uma fonte de dor e culpa, mas como uma fonte de alegria e liberdade. Ele não será apenas para ti, pois é aí que está a sua miséria. Assim como a sua não-santidade o manteve como uma coisa a parte, a sua santidade virá a ser um ofereci­mento para todas as pessoas.

7. O teu relacionamento especial será um meio de desfazer a cul­pa em todas as pessoas abençoadas através do teu relacionamen­to santo. Será um sonho feliz e um sonho que irás compartilhar com todos aqueles que vierem a estar diante da tua vista. Através dele, a benção que o Espírito Santo derramou sobre ele será estendida. Não penses que Ele se esqueceu de pessoa alguma no propósito que te deu. E não penses que Ele se esqueceu de ti, a quem deu a dádiva. Ele usa todas as pessoas que O chamam como meios para a salvação de todos. E Ele despertará a todos através de ti, que ofereceste o teu relacionamento a Ele. Se ape­nas reconhecesses a Sua gratidão! Ou a minha através da Sua! Pois nós estamos unidos em um único propósito, sendo uma só mente com Ele.

8. Não permitas que o sonho assuma o controle a ponto de te fechar os olhos. Não é estranho que os sonhos possam fazer um mundo que não é real. É o desejo de faze-lo que é inacreditável. O teu relacionamento com o teu irmão agora veio a ser um relacio­namento no qual esse desejo foi removido, porque o seu propósito foi mudado de um propósito de sonhos para um propósito de verdade. Não estás certo disso, porque pensas que talvez esse seja o sonho. Estás tão habituado a escolher entre sonhos, que não vês que finalmente fizeste a escolha entre a verdade e todas as ilusões.

9. No entanto, o Céu é garantido. Isso não é um sonho. Que ele tenha vindo significa que escolheste a verdade e ela veio porque tens estado disposto a deixar que o teu relacionamento especial satisfaça as suas condições. No teu relacionamento, o Espírito Santo gentilmente colocou o mundo real, o mundo dos sonhos felizes, dos quais o despertar é tão fácil e tão natural. Pois, assim como os teus sonhos, quando estás dormindo, e os teus sonhos, quando estás acordado, representam os mesmos desejos em tua mente, também assim o mundo real e a verdade do Céu se unem na Vontade de Deus. O sonho do despertar é facilmente transfe­rido para a realidade de estares desperto. Pois esse sonho reflete a tua vontade unida à Vontade de Deus. E o que essa Vontade quer que se realize nunca deixou de estar feito.

Um Curso Em Milagres




sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O perdão e o fim do tempo


1. Em que medida estás disposto a perdoar o teu irmão? Em que medida desejas a paz, ao invés da batalha, da miséria e da dor sem fim? Essas questões são a mesma, em formas diferentes. O perdão é a tua paz, pois dentro dele está o fim da separação e do sonho de perigo e destruição, pecado e morte, de loucura e de assassinato, pesar e perda. Esse é o “sacrifício” que a salvação pede e alegremente oferece a paz em lugar disso.

2. Não jures morrer, tu, o Filho santo de Deus! Tu fizeste uma barganha que não podes manter. O Filho da Vida não pode ser morto. Ele é imortal como o seu Pai. O que ele é não pode ser mudado. Ele é a única coisa em todo o universo que tem que ser una. O que parece ser eterno, tudo isso terá um fim. As estrelas desaparecerão e a noite, e o dia não mais existirão. Todas as coisas que vêm e vão, as marés, as estações e as vidas dos homens; todas as coisas que mudam com o tempo; que florescem e murcham, não retornarão. Onde o tempo estabeleceu um fim, não é onde o eterno pode ser encontrado. O Filho de Deus nunca pode mudar em função daquilo que os homens fizeram dele. Ele será o mesmo, ontem e hoje, pois o tempo não designou o seu destino, nem estabeleceu a hora do seu nascimento e da sua morte. O perdão não o mudará. Entretanto, o tempo aguarda o perdão para que as coisas do tempo possam desaparecer porque não têm nenhuma utilidade.

3. Nada sobrevive a seu propósito. Se algo é concebido para morrer, então, necessariamente morrerá, a não ser que não tome esse propósito como seu. A mudança é a única coisa que pode vir a ser uma bênção aqui, onde o propósito não é fixo, por mais imutável que pareça ser. Não penses que podes estabelecer uma meta que não é como o propósito de Deus para ti, e estabelecê-la como imutável e eterna. Tu podes dar a ti mesmo um propósito que não tens. Mas não podes remover o poder de mudar a tua mente e ver nela outro propósito.

4. A mudança é a maior das dádivas que Deus deu a tudo o que tu queres fazer com que seja eterno, para assegurar que só o Céu não passará. Tu não nasceste para morrer. Não podes mudar porque a tua função foi fixada por Deus. Todos as outras metas são estabelecidas no tempo e mudam de forma que o tempo possa ser preservado, com exceção de uma. O perdão não tem por objetivo preservar o tempo, mas fazer com que ele termine quando não tiver mais utilidade. Findo o seu propósito, ele desaparecerá. E onde ele antes tinha aparente trânsito, restaurou-se agora a função que Deus estabeleceu para o Seu Filho em plena consciência. O tempo não pode estabelecer um fim para a sua realização nem para a sua imutabilidade. A morte não mais existirá porque os vivos compartilham a função que o seu Criador lhes deu. A função da Vida não pode ser morrer. Tem que ser a extensão da vida, para que ela seja uma só para todo o sempre, sem fim.

5. Esse mundo atará os teus pés e as tuas mãos e matará o teu corpo só se pensares que ele foi feito para crucificar o Filho de Deus. Pois embora ele tenha sido um sonho de morte, não precisas deixar que represente isso para ti. Permite que isso seja mudado e nada no mundo deixará de ser mudado também. Pois tudo aqui é definido apenas pelo propósito que tu vês nas coisas.

6. Como é belo o mundo cujo propósito é o perdão do Filho de Deus! Como é livre do medo, como é cheio de bênçãos e felicidade! E que coisa alegre é habitar por um breve momento em um lugar tão feliz! Nem se deve esquecer, em tal mundo, que o momento é breve até que a intemporalidade venha em quietude tomar o lugar do tempo.

Um Curso Em Milagres

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A resposta silenciosa


1. Em quietude todas as coisas são respondidas e todos os proble­mas serenamente resolvidos. Em conflito, não pode haver respos­ta nem resolução, pois o propósito do conflito é fazer com que a solução não seja possível e assegurar que nenhuma resposta seja simples. Um problema estabelecido no conflito não tem resposta, pois é visto de formas diferentes. E o que seria uma resposta de um ponto de vista, não é uma resposta em uma luz diferente. Tu estás em conflito. Assim, tem que ficar claro que não podes res­ponder a coisa alguma, pois o conflito não tem efeitos limitados. Entretanto, se Deus deu uma resposta, necessariamente existe um caminho no qual os teus problemas estão resolvidos, pois o que é Vontade de Deus já foi feito.

2. Assim, o tempo não pode estar envolvido e cada problema pode ser respondido agora. Entretanto, em teu estado mental, a solução tem que ser impossível. Por conseguinte, Deus tem que ter te dado um caminho para alcançar um outro estado mental, no qual a resposta já esteja presente. Tal é o instante santo. É aqui que todos os teus problemas devem ser trazidos e deixados. É aqui que devem estar, pois aqui está a resposta para eles. E onde está a resposta, o problema não pode deixar de ser simples e facilmente resolvido. Não tem sentido tentar resolver um pro­blema onde a resposta não pode estar. Entretanto, com a mesma certeza, ele não pode deixar de ser resolvido se for trazido para onde a resposta se encontra.

3. Não tentes solucionar nenhum problema a não ser na seguran­ça do instante santo. Pois lá o problema será respondido e resolvi­do. Fora não haverá solução, pois “lá não existe nenhuma resposta que possa ser achada. Em nenhum outro lugar jamais se pergunta uma questão única e simples. O mundo só pode perguntar uma questão dupla. Uma questão com muitas respostas não pode ter resposta. Nenhuma delas será satisfatória. O mundo não coloca uma pergunta para que ela seja respondida, mas apenas para rea­firmar seu ponto de vista.

4. Todas as questões que são colocadas dentro desse mundo não passam de uma maneira de olhar, não são perguntas. Uma ques­tão colocada com ódio não pode ser respondida, porque é uma resposta em si mesma. Uma pergunta dupla pergunta e respon­de, ambas atestando a mesma coisa em formas diferentes. O mundo não coloca senão uma questão. Ela é a seguinte: “Dessas ilusões, qual é verdadeira? Quais delas estabelecem a paz e ofere­cem alegria? E quais podem trazer um modo de escapar de toda a dor da qual é feito esse mundo?” Seja qual for a forma que tome a questão, o seu propósito é o mesmo. Ele pergunta apenas para estabelecer o pecado como algo real e responde na forma de prefe­rências. “Que pecado preferes? Esse é o que deverias escolher. Os outros não são verdadeiros. O que pode o corpo conseguir que queiras mais do que tudo? Ele é teu criado e também teu amigo. Basta dizer a ele o que queres e ele irá servir-te amorosamente e bem.” E isso não é uma pergunta, pois te diz o que queres e aonde ir para consegui-lo. Não deixa espaço para que suas crenças sejam questionadas, exceto pelo fato de afirmar algo em forma de pergunta.

5. Uma pseudo-questão não tem resposta. Ela dita a resposta en­quanto pergunta. Assim, todo o questionamento dentro do mundo é uma forma de propaganda dele mesmo. Da mesma maneira que as testemunhas do corpo não são senão os sentidos dentre dele, também assim as respostas para as perguntas do mundo estão contidas dentro das perguntas que são feitas. Onde as respostas representam as perguntas, elas não acrescentam nada de novo e nada se aprende. Uma questão honesta é um instrumento de aprendizado que pergunta alguma coisa que não sabes. Não estabelece condições para a resposta, mas apenas pergunta qual deveria ser a resposta. Mas, ninguém em estado de conflito está livre para colocar essa questão, pois ele não quer uma resposta honesta em que o conflito termine.

6. Só dentro do instante santo é possível que uma questão hones­ta seja honestamente colocada. E do significado da questão vem a significação da resposta. Aqui é possível separar os teus dese­jos da resposta, de tal forma que ela possa te ser dada e também ser recebida. A resposta é dada em todos os lugares. No entanto, é só aqui que ela pode ser ouvida. Uma resposta honesta não exige sacrifício porque responde a questões verdadeiramente co­locadas. As questões do mundo apenas perguntam de quem se exige o sacrifício, sem perguntar se o sacrifício tem qualquer sig­nificado. E desse modo, a não ser que a resposta diga “de quem”, ela permanecerá irreconhecível, inaudível, e assim a pergunta é preservada de forma intacta porque deu a resposta a si mesma. O instante santo é o intervalo no qual a mente está suficiente­mente silenciosa para ouvir uma resposta, que não está atrelada à questão colocada. Ele oferece algo novo e diferente da questão. Como poderia a questão ser respondida, se ela apenas se repete?


7. Portanto, não tentes solucionar nenhum problema em um mun­do no qual a resposta foi barrada. Em vez disso, traze o problema ao único lugar que guarda a resposta amorosamente para ti. Aqui estão as respostas que irão solucionar os teus problemas, porque estão à parte deles e vêem o que pode ser respondido, o que é a pergunta. Dentro do mundo, as respostas simplesmente levan­tam uma outra questão, embora deixem a primeira sem resposta. No Instante santo, podes trazer a pergunta até à resposta e receber a resposta que foi feita para ti.

Um Curso Em Milagres

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Auto-conceito versus Ser


1. O que se aprende desse mundo é construído em cima de um auto-conceito que é ajustado à realidade do mundo. Ele cabe bem nele. Pois essa é uma imagem apropriada a um mundo de som­bras e de ilusões. Aqui ela caminha em casa, onde o que vê é uno com ela. O aprendizado do mundo serve para construir um auto­conceito. Esse é o seu propósito: que venhas sem um autoconcei­to e o faças à medida em que segues adiante.E na- época em que atingires a “maturidade”, tu o terás aperfeiçoado para enfrentar o mundo em termos iguais, em unidade com as suas exigências.

2. Um autoconceito é feito por ti. Ele não tem absolutamente qualquer semelhança contigo. É um ídolo feito para tomar o lu­gar da tua realidade como Filho de Deus. O auto-conceito que o mundo quer ensinar não é o que aparenta ser. Pois ele é feito para servir a dois propósitos, apenas um dos quais a mente é capaz de reconhecer. O primeiro apresenta a face da inocência, o aspecto que é encenado. É essa face que sorri e cativa, e até mes­mo parece amar. Ela busca companheiros e às vezes olha com pena para os que sofrem e às vezes oferece alívio. Acredita que é boa dentro de um mundo mau.

3. Esse aspecto pode ter raiva, pois o mundo é ruim e não é capaz de prover o amor e o abrigo que a inocência merece. E assim, freqüentemente, essa face se banha de lágrimas pelas injustiças que o mundo faz para com aqueles que querem ser generosos e bons. Esse aspecto nunca ataca em primeiro lugar. Mas a cada dia, uma centena de pequenas coisas constituem pequenos ata­ques à sua inocência, provocando-a à irritação e, afinal, aberta­mente ao insulto e ao abuso.

4. A face da inocência que o auto-conceito veste com tanto orgu­lho pode tolerar o ataque em autodefesa, pois não é fato bem conhecido que o mundo trata com dureza a inocência indefesa? Ninguém que faça um retrato de si mesmo omite essa face, pois tem necessidade dela. O outro lado, ele não quer ver. Entretan­to, é aqui que o aprendizado do mundo fixou seus olhares, pois é aqui que a “realidade” do mundo é estabelecida para garantir que o ídolo perdure.

5. Por baixo da face da inocência há uma lição que o autoconcei­to tem como finalidade ensinar. É uma lição sobre um desloca­mento terrível e um medo tão devastador que a face que sorri na superfície tem que olhar para longe disso para sempre, para não perceber a traição que ela oculta. Isso é o que a lição ensina: “Eu sou essa coisa que fizeste de mim e olhando para mim tu és con­denado devido ao que eu sou.” A esse auto-conceito o mundo sorri com aprovação, pois ele garante que os caminhos do mundo sejam mantidos a salvo e aqueles que caminham por eles não escaparão.

6. Aqui está a lição central que garante que o teu irmão está eter­namente condenado. Pois agora o que és passa a ser o seu peca­do. Para isso não há perdão possível. Já não mais importa o que ele faz, pois o teu dedo acusador aponta para ele sem vacilar e é mortal em seu objetivo. Ele aponta para ti também, mas isso é mantido no que ainda é mais profundo, na névoa abaixo da face da inocência. E nesses túmulos amortalhados todos os seus peca­dos e os teus são preservados e mantidos na escuridão aonde não podem ser percebidos como erros, o que a luz seguramente mos­traria. Tu não podes ser acusado pelo que és, tampouco podes mudar as coisas que ele te faz fazer. O teu irmão, portanto, é o símbolo dos teus pecados para ti, e tu silenciosamente mas ainda assim com urgência incessante, ainda condenas o teu irmão pela coisa odiosa que tu és.

7. Conceitos são aprendidos. Eles não são naturais. À parte do aprendizado, não existem. Eles não são dados, portanto, têm que ser feitos. Nenhum deles é verdadeiro e muitos vêm de imagina­ções febris, quentes de ódio e de distorções nascidas do medo. O que é um conceito senão um pensamento para o qual aquele que o faz dá um significado que lhe é próprio? Conceitos mantêm o mundo. Mas não podem ser usados para demonstrar que o mun­do é real. Pois todos são feitos dentro do mundo, nascidos na sua sombra, crescendo pelos seus caminhos e finalmente “amadure­cidos” em seu pensamento. Eles são idéias de ídolos, pintados com os pincéis do mundo que não podem fazer nem um único retrato que represente a verdade.

8. Um auto-conceito não tem significado, pois ninguém aqui pode ver para que serve e portanto não é capaz de retratar o que ele é. Mesmo assim, todo o aprendizado que o mundo dirige começou e terminou com o simples objetivo de ensinar-te esse conceito de ti mesmo para que escolhas seguir as leis desse mundo e nunca bus­ques ir além das suas estradas nem compreender o modo como vês a ti mesmo. Agora, o Espírito Santo tem que achar um modo para ajudar-te a ver que esse auto-conceito tem que ser desfeito, se é que queres que alguma paz seja dada à tua mente. Tampouco pode ele ser desaprendido, a não ser através de lições que tenham o objetivo de te ensinar que és uma outra coisa. Pois de outro modo, te seria pedido que trocasses aquilo em que agora acreditas pela perda total do ser e terror ainda maior surgiria em ti.

9. Assim, o plano de lições do Espírito Santo é organizado em passos fáceis nos quais, embora algumas vezes possa haver um certo desconforto e alguma aflição, não há uma quebra do que foi aprendido, apenas uma re-tradução do que parece ser a evidên­cia a favor disso. Vamos considerar, então, que prova existe de que és o que o teu irmão fez de ti. Pois mesmo que ainda não percebas que é isso o que pensas, com certeza a essa altura já aprendeste que te comportas como se fosse assim. Por acaso ele reage por ti? E ele sabe exatamente o que iria acontecer? Ele é capaz de ver o teu futuro e ordenar, antes que ele venha, o que deverias fazer em cada circunstância? Ele tem que ter feito o mundo assim como a ti para poder ter toda essa ciência prévia das coisas que virão.

10. Que sejas o que o teu irmão fez de ti parece muito improvável. Mesmo que ele tivesse feito isso, quem te deu a face da inocência? É essa a tua contribuição? Quem é, então, o “tu” que a fez? E quem é enganado por toda a tua bondade e a ataca tanto? Vamos esquecer a tolice do conceito e meramente pensar nisso: existem duas partes no que pensas que és. Se uma foi gerada pelo teu irmão, quem estava lá para fazer a outra? E de quem é preciso esconder alguma coisa? Se o mundo é mau, ainda assim não há necessidade de esconder de que tu és feito. Quem está lá para ver? E o que necessitaria de defesa, a não ser o que é atacado?

11. Talvez a razão pela qual esse conceito tenha que ser mantido na escuridão seja o fato de que, na luz, aquele que não pensaria que ele é verdadeiro seria tu. E o que aconteceria com o mundo que vês, se todos as suas construções básicas fossem removidas? O teu conceito do mundo depende desse auto-conceito. E am­bos desapareceriam, se qualquer um deles fosse posto em dúvi­da. O Espírito Santo não busca empurrar-te ao pânico. Portanto, Ele meramente pergunta se poderia levantar apenas uma peque­na questão.

12. Há alternativas para essa coisa que não podes deixar de ser. Poderias, por exemplo, ser a coisa que escolheste que o teu ir­mão fosse. Isso desloca o auto-conceito de algo que é totalmente passivo e pelo menos abre caminho para uma escolha ativa e para algum reconhecimento de que alguma interação tem que ter entrado nisso. Existe alguma compreensão de que escolheste por ambos, e o que ele representa tem um significado que foi dado por ti. Isso mostra também um vislumbre da lei da percepção, segundo a qual o que vês reflete o estado da mente de quem percebe. Contudo, quem foi que fez a escolha em primeiro lu­gar? Se és aquilo que escolheste que o teu irmão fosse, existiram alternativas entre as quais escolher e alguém tem que ter decidi­do em primeiro lugar qual delas escolher e qual abandonar.

13. Embora esse passo ofereça ganhos, ainda não levanta uma questão básica. Alguma coisa tem que ter se passado antes desses auto-conceitos. E alguma coisa tem que ter feito o aprendizado que os fez surgir. Tampouco isso pode ser explicado por nenhu­ma das duas perspectivas. A principal vantagem do deslocamen­to da primeira para a segunda é que de algum modo entraste nessa escolha pela tua decisão. Mas esse ganho é pago com uma perda quase igual, pois agora és acusado da culpa pelo que o teu irmão é. E tens que compartilhar a sua culpa, porque a escolheste para ele à imagem da tua. Enquanto antes somente ele era trai­dor, agora tens que ser condenado junto com ele.

14. O auto-conceito sempre foi a grande preocupação do mundo. E todos acreditam que têm que achar uma resposta para o enig­ma por si mesmos. A salvação pode ser vista como nada além do escapar de conceitos. Ela não se preocupa com o conteúdo da mente, mas com a simples declaração de que ela pensa. E o que pode pensar, ela pode escolher e pode ser mostrado a ela que diferentes pensamentos têm conseqüências diferentes. Assim, é capaz de aprender que tudo o que pensa reflete a profunda con­fusão que sente a respeito de como foi feita e do que é. E vaga­mente o auto-conceito parece responder àquilo que ela não sabe.

15. Não busques o teu Ser em símbolos. Não pode existir nenhum conceito para representar o que tu és. Que importa qual o con­ceito que aceitas, enquanto percebes um ser que interage com o mal e reage à coisas perversas? O teu conceito de ti mesmo ainda permanecerá sem significado. E não perceberás que não podes interagir senão contigo mesmo. Ver um mundo culpado não é senão o sinal de que o teu aprendizado foi guiado pelo mundo e tu olhas para ele assim como vês a ti mesmo. O auto-conceito engloba tudo aquilo que contemplas e nada está fora dessa percepção. Se podes ser ferido por qualquer coisa, vês um retrato dos teus desejos secretos. Nada mais do que isso. E, em qual­quer espécie de sofrimento que possas ter, vês o teu próprio desejo escondido de matar.

16. Tu farás muitos auto-conceitos à medida em que o aprendiza­do vai avançando. Cada um mostrará as mudanças nos teus pró­prios relacionamentos, conforme a tua percepção de ti mesmo é mudada. Haverá uma certa confusão cada vez que houver um deslocamento, mas que sejas grato pelo fato de que o aprendiza­do do mundo está afrouxando o controle que tem sobre a tua mente. E tenhas certeza e sejas feliz na confiança de que ele afinal desaparecerá e deixará a tua mente em paz; o papel do acu­sador aparecerá em muitos lugares e sob muitas formas. E cada uma parecerá estar acusando a ti. Entretanto, não tenhas medo de que ele não seja desfeito.

17. O mundo não é capaz de ensinar nenhuma imagem de ti, a não ser que tu queiras aprendê-las. Um tempo virá em que todas as imagens terão desaparecido e verás que não sabes o que és. É para essa mente aberta e sem lacres que a verdade retorna, sem impedimentos e sem limites. Ali, onde os auto-conceitos foram postos de lado, a verdade é revelada exatamente como é. Quan­do todos os conceitos tiverem sido erguidos à dúvida e ao ques­tionamento e quando tiverem sido reconhecidos como tendo sido feitos com base em hipóteses que não podem fazer face à luz, então, a verdade está livre para entrar no seu santuário, limpa e livre de culpa. Não há declaração que o mundo tenha mais medo de ouvir do que essa:

Eu não sei o que sou e, portanto, não sei o que estou fazendo, onde estou ou como olhar para o mundo ou para mim mesmo.
Entretanto, é aprendendo isso que nasce a salvação. E O Que tu és te falará de Si Mesmo.

Um Curso Em Milagres