sábado, 30 de agosto de 2008

Escritos do Curso e Sua Virtude - XII

as cinco cores cegam a visão do homem

os cinco tons ensurdecem a audição do homem

os cinco sabores embotam o paladar do homem

galopes e caçadas frenesiam o coração do homem

bens custosos obstam as ações do homem











por isso o homem santo

sendo entranhas não olhos

afasta o ali agarra o aqui

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Escritos do Curso e Sua Virtude - LXIX

de um estrategista a máxima:

eu não ouso ser o senhor mas o hóspede
não ouso avançar uma polegada recuo um pé





isto se diz:

avançar sem avançada
rechaçar sem braços
repelir sem hostilizar
capturar sem armas





maior desastre: desconsiderar o inimigo
desconsiderar o inimigo seria perder minhas jóias





portanto

exércitos antagônicos em confronto
o que for compassivo vence

Escritos do Curso e Sua Virtude - V

o céu e a terra são sem amor-humano
consideram as dez-mil-coisas cães-de-palha




o homem santo é sem amor-humano
considera as dez-mil-coisas cães-de-palha




o vão entre o céu e a terra...
como se parece a um fole!




mas esvazia-se sem se contrair
move-se e ainda extravasa!




muitas palavras e números o limitam
melhor guardá-lo no íntimo

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Escritos do Curso e Sua Virtude - X

conseguir:

a alma e o espírito num amplexo inseparável!

regular o sopro maleável como no recém-nascido

polir o espelho místico até ficar sem mácula!

amar a nação e reger o povo sem atuar!

no vaivém da porta do céu atuar qual mãe-pássaro!

ser iluminado nos quatro quadrantes sem ter saber!






gerar e criar

gerar sem possuir

atuar sem depender

presidir sem controlar









isto diz-se virtude mística

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Mensagem de Mãe Maria 26-08

“Amados Filhos,


Que as bênçãos do amor tragam paz aos vossos corpos, mentes e corações.

É tempo de reconciliação; reconciliação com vós mesmos, reconciliação com vossas almas.

A distância entre vosso mundo, onde permeia a ilusão, e o mundo real, ofertado a vós pelo Criador, se encurta rapidamente e isso exige de vós permitirdes que vossas almas se expressem através de vossos corpos físicos para que a plenitude aconteça em vossas vidas.

Soltai, pois a rigidez expressada por vossos corpos físicos, para que o sentir norteie vossos passos permitindo-vos olhar para vosso mundo com os olhos da alma, e ante a visão confusa que eles possam ainda vos revelar continuardes o árduo trabalho em busca de transformação.

A rapidez com que se processa “no agora” vossas evoluções impõe as vossas vidas um ritmo tão intenso que só a disciplina e a determinação dos que vislumbram o alvorecer pleno impedem que possais vos desestimular pela incerteza e confusão que permeiam vossos dias.

Centrai-vos, pois em vossos corações, reconciliai-vos com vossa natureza divina, retirai o poder de vossos egos permitindo assim que vossos corpos e vossas almas sigam em frente expressando um mesmo compasso, harmoniosamente exercitando com paciência todos os passos que vos permitam concluir a total purificação de vossas vidas.

Paciência, amados!

Com paciência buscai resgatar em vós todos os fatos, circunstâncias, momentos e atitudes que sabeis já não fizeram de vós a manifestação do Criador quando de suas ocorrências, eis que não refletiram a freqüência do amor.

Exercitai a paciência, para pacientemente desfazer todos os nós deles decorrentes e que vos mantém ainda atados a pessoas e situações.

Tomai a iniciativa de ir de encontro a todas essas pessoas e situações que vos mantém suspensos no desamor, na incompreensão, na mágoa, na dor e estendei mais uma vez vossas mãos, sem julgamento, sem vos sentir fracos; sois fortes, amados, e é essa força que vos fazem generosos para mais uma vez expandir amor e gratidão àqueles que vos fizeram sofrer.

Há pouco amor manifestado no mundo porque há pouco amor manifestado por vós!

Deixai, pois de lado o orgulho para permitir que o amor volte a transbordar de vossos corações, preenchendo vossas vidas e as vidas de todos aqueles que, de alguma maneira, fazem parte de vossas jornadas.

A percepção de que os desafios só vos fazem crescer – em verdade e em espírito – se revela como a parte mais difícil de vossos aprendizados.

Lembrai-vos, pois que não são as pessoas ou as situações que vos desafiam. Não, amados!

Elas são apenas os reflexos de vós mesmos e um alerta para que possais vos reconhecer através do outro e, assim fazendo ter a chance de corrigir vossa rota exercitando a compreensão do verdadeiro significado dos eventos que ocorrem em vossas vidas.

Buscai encarar todos os acontecimentos que vos cercam como uma oportunidade de corrigirdes algo em vós; aceitai esse desafio mudando vossa perspectiva quanto à tentativa de entender o que se passa ao vosso redor.

Procurai ser mais tolerante na aceitação de que todos que aí estão tem muito a aprender, assim como vós.

A tolerância exige de vós o árduo trabalho de não julgar o outro, de ver o outro como um filho do Pai como vós sois, um vosso irmão que necessita de amor tanto quanto vós.

O amor é a chave, o amor e só ele pode abrir as portas para a total reconciliação dos Filhos da Terra com suas essências divinas, para na unidade de corpo e alma construírem rapidamente o mundo onde irmãos compreendem irmãos, e na compreensão resolvem todas as pendências, todos os conflitos, toda e qualquer situação onde paire qualquer desentendimento ou dúvida, onde o amor esteja ausente, onde o equilíbrio seja precário pela ausência de harmonia.

Bem amados, que as oportunidades que ressurgem no agora sejam aproveitadas, que a compreensão do momentum vos levem a dar os passos que até então não ousastes materializar, que mãos estendidas não sejam recusadas, que corações abertos tenham o condão de atrair todos aqueles que de alguma maneira fazem parte de vossos processos de crescimento, e que vossos braços se tornem longos o bastante para acolherem todos aqueles que, distantes por um tempo retornam para o vosso convívio pela necessidade premente de concluírem suas jornadas neste tempo de redenção.

Bem amados, que vossas orações possam ser direcionadas para todos os recantos da Mãe Terra onde possais sentir a ausência do amor, para que ressurja entre todos os Filhos da Terra o entendimento tão necessário para mais um salto quântico em vossas evoluções.

Bem amados, Eu vos deixo agora derramando sobre todos vós as minhas bênçãos e envolvendo a todos no meu manto de proteção porque Eu Sou Maria, Vossa Mãe.”



Sp-26/08/08

Mensagem de Mãe Maria-27-2008 canalizada por Jane M. Ribeiro

http://br.groups.yahoo.com/group/maemaria/

Nossa Senhora Medjugorje 25/8/2008

Queridos filhos,

Também hoje eu os chamo à conversão pessoal. Sejam vocês aqueles que se convertem e com a sua vida, testemunhem, amem, perdoem e levem a alegria do Ressuscitado a este mundo onde o Meu Filho morreu e onde as pessoas não sentem a necessidade de buscá-Lo nem descobri-Lo em suas vidas. Adorem-no e que a vossa esperança seja a esperança daqueles corações que não têm a Jesus.

Obrigada por terdes respondido ao meu chamado.


Mensagem à Marija Pavlovic

domingo, 24 de agosto de 2008

Escritos do Curso e Sua Virtude - I

o curso que se pode discorrer não é o eterno curso
o nome que se pode nomear não é o eterno nome



imanifesto nomeia a origem do céu e da terra
manifesto nomeia a mãe das dez-mil-coisas



portanto
no imanifesto se contempla seu deslumbramento
no manifesto se contempla seu delineamento



ambos... o mesmo saindo com nomes diversos
o mesmo diz-se mistério



mistério que se renova no mistério...
porta de todo deslumbramento

Uma Língua Abençoada

Eu te tenho chamado a um ministério especial e ele não poderá ser realizado sem a Minha intervenção completa.
Quero ungir a tua língua. Falarás com uma divina autoridade e nunca mais dirás: "Sou um vaso fraco e inadequado..." Porei palavras no teu coração, elas irromperão dos teus lábios e à medida que as mensagens sejam escutadas, os corações serão abençoados.
Entenderás que a mensagem é Minha e Minhas as palavras proferidas. Os frutos Me serão oferecidos porque saberás verdadeiramente que o Senhor teu Deus cumpriu a Sua promessa!

Viagem do Outro Cristão
Frances J. Roberts

Confesso

Ana Carolina / Antônio Villeroy

Confesso acordei achando tudo indiferente
Verdade acabei sentindo cada dia igual
Quem sabe isso passa sendo eu tão inconstante
Quem sabe o amor tenha chegado ao final

Não vou dizer que tudo é banalidade
Ainda há surpresas mas eu sempre quero mais
É mesmo exagero ou vaidade
Eu não te dou sossego, eu não me deixo em paz

Não vou pedir a porta aberta é como olhar pra trás
Não vou mentir nem tudo que falei eu sou capaz
Não vou roubar teu tempo eu já roubei demais

Tanta coisa foi acumulando em nossa vida
Eu fui sentindo falta de um vão pra me esconder
Aos poucos fui ficando mesmo sem saída
Perder o vazio é empobrecer

Não vou querer ser o dono da verdade
Também tenho saudade mas já são quatro e tal
Talvez eu passe um tempo longe da cidade
Quem sabe eu volte cedo ou não volte mais


CD Ana rita iracema e Carolina


Saudade de amar

Nana Caymmi

Saudade
Daquele romance que a gente viveu.
Saudade do instante, em que eu te encontrei.
Saudade, do imenso desejo que a gente perdeu.
Eu tenho é muita saudade,
Do tempo que amei

Saudade, da força que tinha o meus olhos nos teus
Eu vivo a mercê das lembranças,
Depois desse adeus.

A gente não deve,
Sofrer por amor tanto assim.
Porém, todo amor mesmo breve,
Eu guardo bem dentro de mim.

Saudade, de cada momento que eu lembro de cor.
Só sabe de amor e de saudade,
Quem já ficou só.

Saudade, eu tenho saudade.
Mas não de contigo voltar.
Eu vivo sentindo saudade,
De amar


sábado, 23 de agosto de 2008

Escritos do Curso e Sua Virtude - LXVII

sob o céu todos dizem que por ser grande
meu curso aparenta anormalidade

só por ser grande parece anormal
se normal há muito seria insignificante





eu tenho três jóias para guardar e cuidar

a primeira soa: misericórdia
a segunda soa: moderação
a terceira soa: não ousar primazia

primeiro misericórdia depois coragem
primeiro moderação depois generosidade
primeiro não ousar primazia depois dirigir o funcionalismo

hoje sem misericórdia quer-se coragem
sem moderação quer-se generosidade
sem ficar atrás quer-se primazia

isso já é morte!





eis que a misericórdia na ofensiva vence
na defensiva consolida

quem o céu quer salvar protege pela misericórdia

Escritos do Curso e Sua Virtude - LXI

um grande reino é um rio no baixo curso

reunião do mundo fêmea do mundo

a fêmea sempre pelo repouso vence o macho
pelo repouso ela fica abaixo





portanto

se um grande reino ficar abaixo de um pequeno
então o grande conquista o pequeno

se um pequeno reino ficar abaixo de um grande
então o pequeno conquista o grande





portanto

uns ficam abaixo para conquistar
outros estando abaixo conquistam

um grande reino só quer juntar e nutrir pessoas
um pequeno reino só quer participar e servir pessoas

eis que para ambos conquistarem o almejado
convém que o grande fique abaixo

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Renova-me

Cristina Mel

Renova-me Senhor Jesus
Já não quero ser igual
Renova-me Senhor Jesus
Põe em mim teu coração.
Porque tudo que há dentro de mim
Necessita ser mudado Senhor
Porque tudo que há dentro do meu coração.
Necessita mais de ti

Escritos do Curso e Sua Virtude - LI

o curso lhes dá vida
a virtude dá cultivo
a substância dá forma
o ambiente dá desenvolvimento





por isso
as dez mil coisas...
todas a venerar o curso e dignificar a virtude





a veneração do curso a dignificação da virtude
eis que não se ordena vêm sempre por sí





portanto
o curso lhes dá vida
a virtude dá cultivo
o crescimento dá aprimoramento
a proteção dá maturação
a manutenção dá renovação





gerar sem possuir
atuar sem depender
presidir sem controlar

diz-se virtude mística

Escritos do Curso e Sua Virtude - XLIX

o homem santo não tem coração constante
pelo coração das cem famílias faz seu coração





com o bom eu sou bom
com o não bom também sou bom

tal é a bondade da virtude





com o fiel eu sou fiel
com o não fiel também sou fiel

tal é a fidelidade da virtude





sob o céu o homem santo é conciliador
faz os corações se misturarem sob o céu

as cem famílias lhe emprestam olhos e ouvidos
o homem santo a todos acriança

Trapaças

Chico Buarque

Contigo aprendi
A perder e achar graça
Pagar e não dar importância
Contigo a trapaça
Por trás da trapaça
É pura elegância

Se deres por falta
Do teu riso esperto
Dos teus sortilégios
Entende e perdoa
Eu ando nas ruas
Com o sol descolado
Da tua pessoa


Afinidade

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos. É o mais independente. Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido. Afinidade é não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo para o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial. Ter afinidade é muito raro. Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade. Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavras. É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento. Afinidade é sentir com. Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo. Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado. Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios. Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar, ou, quando é falar, jamais explicar: apenas afirmar. Afinidade é jamais sentir por. Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo. Mas quem sente com, avalia sem se contaminar. Compreende sem ocupar o lugar do outro. Aceita para poder questionar. Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar. Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças. É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas quanto das impossibilidade vividas. Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação. Porque tempo e separação nunca existiram. Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar. E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais a expressão do outro sob a forma ampliada do eu individual aprimorado.

Arthur da Távora

Escritos do Curso e Sua Virtude - LIX

no governo do homem no serviço do céu
nada como temperança





só a temperança se diz submissão prévia
a submissão prévia diz-se virtude reiterada





virtude reiterada então invencibilidade
invencibilidade então não se conhecem os limites
sem os limites então pode-se ter o reino



tendo a mãe do reino pode-se perdurar



isto se diz: raiz profunda haste firme

é o curso da vida longa e visão perpétua

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Escritos do Curso e Sua Virtude - LXIV

calmo é fácil manter
ainda imprevisível é fácil programar
quebradiço é fácil despedaçar
miúdo é facil de espalhar





atuar no ainda não-sido
por em ordem antes da desordem





árvore que braços unidos abarcam nasceu de raiz capilar
torre de nove andares surgiu de terra justaposta
jornada de dez mil leguas começa sob os pés





o atuante arruína-o
o abarcador perde-o

o povo na execução da obra sempre estraga no fim
cuidando do fim como do começo não se estraga a obra





por isso o homem santo...

deseja não desejar
não valoriza bens custosos
aprende a não aprender

recorre por onde os homens transpassaram
ajudando a natureza das dez mil coisas
isso sem ousar atuar

Escritos do Curso e Sua Virtude - XXXIII

quem conhece o outro é sábio
quem conhece a sí mesmo é iluminado





quem vence o outro tem força
quem vence a si é forte





quem se contenta é rico
quem se força a andar tem querer
quem não perde seu lugar perdura





quem morre sem se anular tem a vida

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Uma Ira

"Esta" - se disse o homem ajoelhado como antes de ir para a guerra - "esta é a minha prece de possesso. Estou conhecendo o inferno da paixão. Não sei que nome dar ao que me toma, ou ao que estou com voracidade tomando, senão de paixão. O que é isso que é tão violento que me faz pedir clemência a mim mesmo? É a vontade de destruir, como se para este momento de destruir eu tivesse nascido. Momento que virá ou não, a minha escolha depende de poder ou não me ouvir. Deus ouve, mas eu me ouvirei? A força de destruição ainda se contém um instante em mim. Não posso destruir ninguém ou nada, pois a piedade me é tão forte como a ira; então eu quero destruir a mim, que sou a fonte dessa paixão. Não quero pedir a Deus que me aplaque, amo tanto a Deus que tenho medo de tocar nele com o meu pedido, meu pedido queima, minha própria prece é perigosa de tão ardente, e poderia destruir em mim a imagem de Deus, que ainda quero salvar em mim. No entanto só a Ele eu poderia pedir que pusesse a mão sobre mim e arriscasse queimar a Dele. Não me atendas porque meu pedido é tão violento que me atemoriza. Mas a quem pedir, neste rápido instante de trégua, se já afastei os homens? Afastei os homens, fui fechando as doçuras de minha natureza a cada golpe que recebi, e as doçuras negadas foram se enegrecendo como nuvens simples que vão se fechando em escuridão, e eu abaixo a cabeça à tempestade. Como seria a ira divina, se esta minha me deixa cego de força total? Se esta cólera só destruísse a mim. Mas tenho que proteger os outros - os outros têm sido a fonte de minha esperança. Que faço para não usar esta onipotência que me toma? o que me direi eu? Senão a verdade, senão a verdade. Só outra coisa eu conheci tão total e cega e forte como esta minha vontade de me espojar na violência: a doçura da compaixão. Só isto ainda posso tentar pôr no outro prato da balança - pois no primeiro prato está o sangue e o ódio ao sangue e o riso ao sangue que dói. Que estou querendo? Quero que a cada uma de minhas dores corresponda hoje e agora um ato de cólera.

"Mas eu sei o que foram as minhas dores. A cólera, é fácil expô-la. Mas a dor, esta me envergonhava. Porque minha dor vem de que não saí feliz de meus outros pecados mortais. Minha violência - que é em carne viva e só quer como pasto a carne viva - esta violência vem de que outras violências vitais minhas foram esmagadas. Minhas outras violências pecadoras que se pareciam tanto com um direito meu... No começo elas se pareciam tanto com minhas maiores suavidades. Eu tinha nascido simplesmente e também simplesmente quis ir tomando para mim o que queria. E a cada vez que não podia, a cada vez que era proibido, a cada vez que me negavam, eu sorria e pensava que era um manso sorriso de resignação. Mas era a dor que se mascarava em bondade. Eu sabia que era dor errada diante de Deus, e, pior, diante de mim, quem quer que eu seja. Cada vez que meus pecados não venciam, eu sofria, mas sem me sentir com direito de sofrer, e tinha que esconder não apenas a dor, mas sobretudo o que causara a dor. O que estava sendo pisado em mim? na minha verdade de outrora, o que estava sendo pisado em mim? Os pecados mortais.

"Os pecados mortais clamavam em mim por mais vida, e clamavam com vergonha, os pecados mortais em mim pediam o direito de viver. Minha gula pelo mundo: eu quis comer o mundo, e a fome com que nasci pelo leite, essa fome quis se estender pelo mundo, e o mundo não se queria comível. Ele se queria comível, sim, mas para isso exigia que eu fosse comê-lo com a humildade com que ele se dava. Mas a fome violenta é exigente e orgulhosa, e quando se vai com orgulho e exigência o mundo se transmuta em duro aos dentes e à alma. O mundo só se dá para os simples, e eu fui comê-lo com o meu poder e já com esta cólera que hoje me resume. E quando o pão se virou em pedra e ouro aos meus dentes, eu fingi por orgulho que não doía, eu pensava que fingir força era o caminho nobre de um homem e o caminho da própria força. Eu pensava que a força é o material de que o mundo é feito, e era com o mesmo material que eu iria a ele. E depois foi quando o amor pelo mundo me tomou: e isso já não era a fome pequena, era a fome ampliada. Era a grande alegria de viver - e eu pensava que esta, sim, é livre. Mas como foi que transformei, sem nem sentir, a alegria de viver na grande luxúria de estar vivo? No entanto, no começo era apenas bom e não era pecado. Era um amor pelo mundo quando o céu e a terra são de madrugada, e os olhos ainda sabem ser tenros. Mas eis que minha natureza de repente me assassinava, e já não era uma doçura de amor pelo mundo, era uma avidez de luxúria pelo mundo. E o mundo de novo se retraiu, e a isso chamei de traição. A luxúria de estar vivo me espantava na minha insônia, sem eu entender que a noite do mundo e a noite do viver são tão doces que até se dorme, que até se dorme, meu Deus. E a água, na minha luxúria de viver, a água se derramava pelos dedos antes de chegar à boca. E eu amava o outro ser com a luxúria de quem quer salvar e ser salvo pela alegria. Eu não sabia que só o meio-termo não é pecado mortal, eu tinha vergonha do meio-termo. Os pecados são mortais não porque Deus mata, mas porque eu morro deles. Eu é que não pude arcar com os pecados mortais. O que não consegui com eles, é isso que hoje me violenta e a que respondo com violência. Os meus pobres meios canhestros não me conseguiram nem terra nem céu, e a fúria me toma. Ah, mas se por um instante eu entender que a fúria é contra os meus erros e não contra os dos outros, então esta cólera se transformará nas minhas mãos em flores, em flores, em coisas leves, em amor. Eu ainda não sei controlar meu ódio mas já sei que meu ódio é um amor irrealizado, meu ódio é uma vida ainda nunca vivida. Pois vivi tudo - menos a vida. E é isso o que não perdôo em mim, e como não suporto não me perdoar, então não perdôo aos outros. A este ponto cheguei: como não consegui a vida, quero matá-la. A minha cólera - que é ela senão reivindicação? - a minha cólera, eu sei, eu tenho que saber neste minuto raro de escolha, a minha cólera é o reverso de meu amor; se eu quiser escolher finalmente me entregar sem orgulho à doçura do mundo, então chamarei minha ira de amor. Tanto temi jurar-me para sempre com essa primeira palavra que mal ouso pronunciar (amor), que fugi para a violência e para os olhos ensangüentados da paixão. Tudo, tudo por medo de me prostrar aos Teus pés e aos pés anônimos do "outro" que sempre Te representou. Que rei sou eu, que não se curva? Tenho que escolher entre a quebra do orgulho e o amor correnteza da ignorância e da doçura. A minha verdade antiga ainda me serve? Deus proibiu os sete pecados não por exigência de perfeição, mas apenas por piedade de nós, de mim que, como os outros, também tento não ser Dele e tento não ser dos outros, e eu sei que os outros são Ele. Neste instante tenho que escolher entre amar ou ter ódio. Sei que amar é mais lento, e a urgência me consome. Cobre minha fúria com o Teu amor, já que também eu sei que a minha ira é apenas não amar, minha ira é arcar com a intolerável responsabilidade de não ser uma erva. Sou uma erva que se sente onipotente e se assusta. Tira de mim a falsa onipotência destruidora, não deixa que a ferida que abriram em mim signifique ferida aberta por Ti, faz com que neste instante de escolha eu entenda que aquele que fere está no mesmo pecado que eu: no orgulho que leva à ira, e portanto ele fere assim como estou querendo ferir só porque não acredita, só porque não confia, só porque se sente um rei espoliado; ajuda aos que sofrem de ira porque eles estão apenas precisando se entregar a Ti. Mas como Tua grandeza me é incompreensível, faz com que Tu te apresentes a mim sob uma forma que eu entenda: sob a forma do pai, da mãe, do amigo, do irmão, da amante, do filho. Ira, transforma-te em mim em perdão, já que és o sofrimento de não amar."

Clarice Lispector


domingo, 17 de agosto de 2008

A nova irtepretação

1. Iria Deus deixar o significado do mundo à tua interpretação? Se Ele o tivesse feito, o mundo não teria significado. Pois não é possível que o significado mude constantemente e ainda assim seja verdadeiro. O Espírito Santo contempla o mundo como se ele tivesse um único propósito, imutavelmente estabelecido. E nenhuma situação pode afetar o objetivo do mundo mas, ao contrário, tem que estar de acordo com ele. Pois só se o seu objetivo pudesse mudar com cada situação é que cada uma poderia estar aberta à interpretação, que é diferente a cada vez que pensas nela. Acrescentas um elemento ao roteiro que escreves a cada minuto do dia, e tudo o que acontece agora significa alguma outra coisa. Tiras um outro elemento e todo significado se altera de acordo com isso.

2. O que refletem os teus roteiros, exceto os teus planos para o que deveria ser o dia? E assim julgas o desastre e o sucesso, o avanço e o retrocesso, o ganho e a perda. Esses julgamentos são todos feitos de acordo com os papéis que o roteiro atribui. O fato de que eles não têm significado em si mesmos é demonstrado pela facilidade com que esses rótulos mudam em função de outros julgamentos, feitos com base em diferentes aspectos da experiência. E assim, ao olhares para trás, pensas que vês um outro significado naquilo que antes se passou. O que é que realmente fizeste, ex-ceto mostrar que ali não havia nenhum significado? Mas tu atribuis significado à luz de metas que mudam, e os significados se alteram à medida que elas mudam.

3. Só um propósito constante é capaz de dotar os eventos com um significado estável. Mas ele tem que dar um só significado a todos eles. Se significados diferentes lhes são dados, isso necessariamente significa que apenas refletem propósitos diferentes. E esse é todo o significado que têm. Isso pode ser significativo? É possível que a significação do significado seja confusão? A percepção não pode estar em um fluxo constante e permitir estabilidade de significado aonde quer que esteja. O medo é um julgamento que nunca é justificado. A sua presença não tem significado além de mostrar que escreveste um roteiro amedrontador e estás, conseqüentemente, com medo. Mas não porque o que temes tenha um significado amedrontador em si mesmo.

4. Um propósito comum é o único meio pelo qual a percepção pode ser estabilizada e uma só interpretação dada ao mundo e a todas as experiências aqui. Nesse propósito compartilhado, um só julgamento é compartilhado por todas as pessoas e coisas que vês. Tu não tens que julgar, pois aprendeste que foi dado um só significado a todas as coisas e estás contente de vê-lo em toda a parte. Ele não pode mudar porque tu o perceberias em toda a parte, imutável pelas circunstâncias. E assim o ofereces a todos os eventos e permites que eles te ofereçam estabilidade.

5. Escapar do julgamento está simplesmente nisso: todas as coisas têm apenas um propósito, que tu compartilhas com todo o mundo. E nada no mundo pode se opor a ele, pois ele pertence a tudo, assim como pertence a ti. No propósito único está o fim de todas as idéias de sacrifício, que têm que assumir um propósito diferente para aquele que ganha e para aquele que perde. Não poderia haver nenhum pensamento de sacrifício à parte dessa idéia. E é a idéia de metas diferentes que faz com que a percepção se altere e o significado mude. Em uma meta unificada isso vem a ser impossível, pois o teu acordo faz a interpretação se estabilizar e durar.

6. Como pode a comunicação realmente ser estabelecida enquanto os símbolos que são usados significam coisas diferentes? A meta do Espírito Santo dá uma única interpretação significativa para ti e para o teu irmão. Assim, podes te comunicar com ele e ele contigo. Em símbolos que ambos podem compreender, o sacrifício do significado é desfeito. Todo sacrifício acarreta a perda da tua capacidade de ver as relações entre os eventos. E quando se olha para eles separadamente, eles não têm significado. Pois não existe nenhuma luz pela qual possam ser vistos e compreendidos. Eles não têm propósito. E aquilo para que servem não pode ser visto. Em qualquer pensamento de perda não há significado. Ninguém concordou contigo quanto ao que ele significa. Ele faz parte de um roteiro distorcido, que não pode ser interpretado significativamente. Tem que ser para sempre ininteligível. Isso não é comunicação. Os teus sonhos escuros são apenas os roteiros isolados e sem sentido que escreveste no sono. Não olhes para sonhos separados em busca de significado. Só sonhos que perdoam podem ser compartilhados. Eles significam o mesmo para ti e para o teu irmão.

7. Não interpretes em função da solidão, pois o que vês nada significa. Aquilo que representa vai se alterar e tu vais acreditar que o mundo é um lugar incerto, no qual caminhas no perigo e na incerteza. São apenas as tuas interpretações, às quais falta estabilidade, pois elas não estão alinhadas com o que tu realmente és. Esse é um estado tão inseguro, aparentemente, que o medo tem que surgir. Não continues assim, meu irmão. Nós temos um Intérprete. E através do Seu uso dos símbolos, nós nos unimos de tal modo que significam a mesma coisa para todos nós. Nossa linguagem comum permite que nós falemos com todos os nossos irmãos e que compreendamos com eles que o perdão foi dado a todos nós, e assim podemos nos comunicar outra vez.

Um Curso Em Milagres


quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Escritos do Curso e Sua Virtude - LXXV

a fome do povo...
são seus superiores a devorar impostos

por isso a fome





o desgoverno do povo...
são seus superiores em atuação

por isso o desgoverno





desdém do povo pela morte...
são seus superiores no frenesi da vida

por isso o desdém da morte





eis que só quem não atua no viver

esse é virtuoso para dignificar a vida

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Escritos do Curso e Sua Virtude - XXIV

Na ponta dos pés não se firma
escarranchado não se anda

quem se exibe não brilha
quem se afirma não figura
quem se vangloria não tem mérito
quem se enaltece não perdura






isto em relação ao curso soa:
superfluidade parasitismo
coisas que todos abominam






portanto
quem no curso nelas não incorre

Escritos do Curso e Sua Virtude - XXIII

falar diluído é o natural





portanto

um vendaval não dura uma manhã
um temporal não dura um dia





quem os fomenta ?
céu e terra

céu e terra . . sua fúria não dura
quanto mais a intempérie humana!





portanto
quem segue o curso une-se ao curso
quem segue a virtude une-se à virtude
quem segue a perdição une-se à perdiçao

quem se une ao curso este o acolhe com alegria
quem se une à virtude esta o acolhe com alegria
quem se une à perdição esta o acolhe com alegria




pouca fé não merece fé

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Escritos do Curso e Sua Virtude - XXXVIII

a virtude superior não ostenta virtude
por isso tem virtude

a virtude inferior não se despe de virtude
por isso não tem virtude


a virtude superior não atua não ficando por atuar
a virtude inferior não atua ficando por atuar

o amor-humano superior atua não por ter de atuar
a justiça superior atua por ter de atuar

o rito superior atua ninguém corresponde
aí arregaça as mangas indo às vias de fato





portanto
perdido o curso eis a virtude
perdida a virtude eis o amor-humano
perdido o amor-humano eis a justiça
perdida a justiça eis o rito





ora o rito dilui fé e fidelidade
sendo pois cabeça de toda desordem
o saber prematuro é mera flor do curso
sendo pois princípio de todo desatino





por isso
o homem em plena maturidade...
ocupa-se do denso e não do diluído
ocupa-se do real e não da florescência

portanto
afasta o ali agarra o aqui

Sombras do passado

1. Perdoar é meramente lembrar apenas os pensamentos amorosos que deste no passado e aqueles que te foram dados. Todo o resto tem que ser esquecido. O perdão é uma lembrança seletiva, que não se baseia na tua própria seleção. Pois as figuras feitas das sombras que queres tornar imortais são “inimigas” da realidade. Que estejas disposto a perdoar o Filho de Deus por aquilo que ele não fez. As figuras das sombras são as testemunhas que trazes contigo para demonstrar que ele fez o que não fez. Porque as trazes contigo, tu as ouvirás. E tu, que as manténs pela tua própria seleção, não compreendes como vieram à tua mente e qual é o seu propósito. Elas representam o mal que pensas que te foi feito. Tu as trazes contigo somente com o fim de poderes retribuir o mal com o mal, esperando que o seu testemunho faça com que sejas capaz de pensar em outra pessoa como a culpada e não ferir a ti mesmo. Elas falam com tanta clareza a favor da separação que ninguém que não estivesse obcecado em manter a separação poderia ouvi-las. Elas te oferecem as “razões” pelas quais deverias entrar em alianças não-santas para dar apoio às metas do ego e fazer dos teus relacionamentos testemunhas do poder egótico.

2. São essas figuras das sombras que querem fazer com que o ego seja santo em teu modo de ver e te ensinar que o que fazes para mantê-lo a salvo é realmente amor. As figuras das sombras sempre falam a favor da vingança e todos os relacionamentos nos quais elas entram são totalmente insanos. Sem exceção, esses relacionamentos têm como propósito a exclusão da verdade acerca do outro e de ti mesmo. É por isso que vês em ambos o que não está presente e fazes de ambos escravos da vingança. E é por isso que qualquer coisa que te faça recordar as tuas mágoas passadas te atrai e parece passar em nome do amor, não importa quão distorcidas possam ser as associações pelas quais chegas a fazer essa conexão. E, finalmente, é por isso que todos os relacionamentos dessa natureza tornam-se tentativas de união através do corpo, pois só corpos podem ser vistos como meios para a vingança. Que os corpos são fundamentais para todos os relacionamentos não-santos é evidente. A tua própria experiência ensinou-te isso. Mas o que podes não reconhecer são todas as razões que contribuem para fazer com que o relacionamento não seja santo. Pois o que não é santo busca fortalecer a si mesmo, assim como a santidade, reunindo a si aquilo que percebe como semelhante a si.

3. No relacionamento não-santo, não é com o corpo do outro que se tenta a união, mas com os corpos daqueles que não estão presentes. Pois mesmo o corpo do outro, o que já é uma percepção extremamente limitada dele, não é o foco central do relacionamento tal como é, ou seja, inteiro. O que pode ser usado para fantasias de vingança e o que pode ser associado de forma mais pronta com aquelas pessoas contra as quais realmente se busca vingança é centralizado e separado, como as únicas partes de valor. Cada passo dado no sentido de fazer, manter ou romper um relacionamento não-santo é mais um passo em direção à maior fragmentação e à irrealidade. As figuras das sombras entram mais e mais e a pessoa em quem elas parecem estar diminui de importância.

4. O tempo, de fato, não é benigno para com o relacionamento que não é santo. Pois o tempo é cruel nas mãos do ego, assim como é benigno quando é usado para a gentileza. A atração do relacionamento não-santo começa a apagar-se e a ser questionada quase que imediatamente. Uma vez formado, a dúvida necessariamente o penetra, porque o seu propósito é impossível. O “ideal” do relacionamento não-santo torna-se assim um ideal no qual a realidade do outro absolutamente não entra para não “estragar” o sonho. E quanto menos o outro realmente traz para o relacionamento, “melhor” ele se torna. Assim, a tentativa de união vem a ser uma maneira de excluir até mesmo a pessoa com quem se buscou a união. Pois ela foi feita de forma a excluir essa pessoa e unir-se a fantasias em “êxtase” ininterrupto.

5. Como pode o Espírito Santo trazer a interpretação que faz do corpo como um meio de comunicação a relacionamentos cujo único propósito é a separação da realidade? O que o perdão é, em si mesmo, permite a Ele que o faça. Se tudo foi esquecido, exceto os pensamentos amorosos, o que fica é eterno. E o passado transformado vem a ser como o presente. O passado não entra mais em conflito com o agora. Essa continuidade estende o presente aumentando a sua realidade e o seu valor na percepção que tens dele. Nesses pensamentos amorosos está a centelha da beleza que fica escondida na feiúra do relacionamento não-santo, onde o ódio é lembrado; ainda assim ela está lá, para voltar à vida à medida que o relacionamento for dado Àquele Que lhe dá vida e beleza. É por isso que a Expiação está centrada no passado, que é a fonte da separação e aonde ela tem que ser desfeita. Pois a separação tem que ser corrigida aonde foi feita.

6. O ego busca “resolver” os próprios problemas, não em sua fonte, mas onde não foram feitos. E assim busca garantir que não haverá solução. O Espírito Santo quer apenas fazer com que as Suas resoluções sejam completas e perfeitas e assim busca e acha a fonte dos problemas onde ela está e lá a desfaz. E com cada passo no Seu desfazer, cada vez mais a separação é desfeita e a união trazida para mais perto. Ele não está ,absolutamente confuso por nenhuma das “razões” em favor da separação. Tudo o que Ele percebe na separação é que ela tem que ser desfeita. Permite que Ele descubra a centelha da beleza escondida em teus relacionamentos e mostre-a a ti. A sua beleza te atrairá tanto que nunca mais estarás disposto a perdê-la de vista novamente. E permitirás que essa centelha transforme o relacionamento de tal forma que possas vê-la cada vez mais. Pois vais querêla cada vez mais e tornar-te-ás cada vez menos disposto a permitir que ela seja escondida de ti. E aprenderás a buscar e a estabelecer as condições nas quais essa beleza pode ser vista.

7. Tudo isso farás com contentamento, se apenas deixares que Ele mantenha a centelha diante de ti para iluminar o teu caminho e torná-lo mais claro para ti. O Filho de Deus é um. A quem Deus uniu como um só, o ego não pode separar. A centelha da santidade tem que estar a salvo, por mais escondida que possa estar em qualquer relacionamento. Pois o Criador do único relacionamento não deixou nenhuma parte dele fora de Si Mesmo. Essa é a única parte do relacionamento que o Espírito Santo vê porque tem o conhecimento que só essa é verdadeira. Tornaste o relacionamento ir-real e, portanto, não-santo, vendo-o onde não está e como não é. Dá o passado Àquele Que pode mudar a tua mente a respeito disso por ti. Mas, primeiro, estejas certo de que reconheces inteiramente o que fizeste o passado representar e por quê.

8. O passado vem a ser uma justificativa para se entrar em uma aliança contínua, não-santa, com o ego contra o presente. Pois o presente é perdão. Portanto, os relacionamentos que a aliança não-santa dita não são percebidos nem sentidos como se estivessem acontecendo agora. Apesar disso, o quadro de referências ao qual o presente se refere em busca de significado é uma ilusão do passado, na qual aqueles elementos que servem ao propósito da aliança não-santa são retidos e o resto abandonado. E o que é assim abandonado é toda a verdade que o passado poderia oferecer ao presente como testemunhas da sua realidade. O que é mantido só testemunha a realidade dos sonhos.

9. Ainda depende de ti escolher unir-te à verdade ou à ilusão. Mas lembra-te que escolher uma é abandonar a outra. Àquela que escolheres, atribuirás beleza e realidade, porque a escolha depende de qual delas valorizas mais. A centelha da beleza ou o véu da feiúra, o mundo real ou o mundo da culpa e do medo, verdade ou ilusão, liberdade ou escravidão – tudo é a mesma coisa. Pois nunca podes escolher a não ser entre Deus e o ego. Os sistemas de pensamento só podem ser verdadeiros ou falsos e todos os seus atributos vêm apenas do que eles são. Só os Pensamentos de Deus são verdadeiros. E tudo o que decorre deles vem do que são e é tão verdadeiro quanto o é a Fonte santa de Onde vieram.

10. Meu irmão santo, eu quero entrar em todos os teus relacionamentos e caminhar entre tu e as tuas fantasias. Permite que o meu relacionamento contigo seja real para ti e deixa que eu traga realidade à tua percepção dos teus irmãos. Eles não foram criados para permitir que ferisses a ti mesmo através deles. Eles foram criados para criar contigo. Essa é a verdade que eu quero interpor entre tu e a tua meta feita de loucura. Não fiques separado de mim e não permitas que o propósito santo da Expiação se perca para ti em sonhos de vingança. Relacionamentos nos quais tais sonhos são acalentados excluíram a mim. Deixa-me entrar, em Nome de Deus, e trazer-te a paz para que possas me oferecer a paz.

Um Curso Em Milagres

sábado, 9 de agosto de 2008

Uma História de Tanto Amor

Era uma vez uma menina que observava tanto as galinhas que lhes conhecia a alma e os anseios íntimos. A galinha é ansiosa, enquanto o galo tem angústia quase humana: falta-lhe um amor verdadeiro naquele seu harém, e ainda mais tem que vigiar a noite toda para não perder a primeira das mais longíquas claridades e cantar o mais sonoro possível. É o seu dever e a sua arte. Voltando às galinhas, a menina possuía duas só dela. Uma se chamava Pedrina e a outra Petronilha.

Quando a menina achava que uma delas estava doente do fígado, ela cheirava embaixo das asas delas, com uma simplicidade de enfermeira, o que considerava ser o sintoma máximo de doenças, pois o cheiro de galinha viva não é de se brincar. Então pedia um remédio a uma tia. E a tia : "Você não tem coisa nenhuma no fígado". Então, com a intimidade que tinha com essa tia eleita, explicou-lhe para quem era o remédio. A menina achou de bom alvitre dá-lo tanto a Pedrina quanto a Petronilha para evitar contágios misteriosos. Era quase inútil dar o remédio porque Pedrina e Petronilha continuavam a passar o dia ciscando o chão e comendo porcarias que faziam mal ao fígado. E o cheiro debaixo das asas era aquela morrinha mesmo. Não lhe ocorreu dar um desodorante porque nas Minas Gerais onde o grupo vivia não eram usados assim como não se usavam roupas íntimas de nylon e sim de cambraia. A tia continuava a lhe dar o remédio, um líquido escuro que a menina desconfiava ser água com uns pingos de café - e vinha o inferno de tentar abrir o bico das galinhas para administrar-lhes o que as curaria de serem galinhas. A menina ainda não tinha entendido que os homens não podem ser curados de serem homens e as galinhas de serem galinhas: tanto o homem como a galinha têm misérias e grandeza (a da galinha é a de pôr um ovo branco de forma perfeita) inerentes à própria espécie. A menina morava no campo e não havia farmácia perto para ela consultar.

Outro inferno de dificuldade era quando a menina achava Pedrina e Petronilha magras debaixo das penas arrepiadas, apesar de comerem o dia inteiro. A menina não entendera que engordá-las seria apressar-lhes um destino na mesa. E recomeçava o trabalho mais difícil: o de abrir-lhes o bico. A menina tornou-se grande conhecedora intuitiva de galinhas naquele imenso quintal das Minas Gerais. E quando cresceu ficou surpresa ao saber que na gíria o termo galinha tinha outra acepção. Sem notar a seriedade cômica que a coisa toda tomava:

- Mas é o galo, que é um nervoso, é quem quer! Elas não fazem nada demais! e é tão rápido que mal se vê! O galo é quem fica procurando amar uma e não consegue!

Um dia a família resolveu levar a menina para passar o dia na casa de um parente, bem longe de casa. E quando voltou, já não existia aquela que em vida fora Petronilha. Sua tia informou:

- Nós comemos Petronilha.

A menina era uma criatura de grande capacidade de amar: uma galinha não corresponde ao amor que se lhe dá e no entanto a menina continuava a amá-la sem esperar reciprocidade. Quando soube o que acontecera com Petronilha passou a odiar todo o mundo da casa, menos sua mãe que não gostava de comer galinha e os empregados que comeram carne de vaca ou de boi. O seu pai, então, ela mal conseguiu olhar: era ele quem mais gostava de comer galinha. Sua mãe percebeu tudo e explicou-lhe:

- Quando a gente come bichos, os bichos ficam mais parecidos com a gente, estando assim dentro de nós. Daqui de casa só nós duas é que não temos Petronilha dentro de nós. É uma pena.

Pedrina, secretamente a preferida da menina, morreu de morte morrida mesmo, pois sempre fora um ente frágil. A menina, ao ver Pedrina tremendo num quintal ardente de sol, embrulhou-a num pano escuro e depois de bem embrulhadinha botou-a em cima daqueles grandes fogões de tijolos das fazendas das minas-gerais. Todos lhe avisaram que estava apressando a morte de Pedrina, mas a menina era obstinada e pôs mesmo Pedrina toda enrolada em cima dos tijolos quentes. Quando na manhã do dia seguinte Pedrina amanheceu dura de tão morta, a menina só então, entre lágrimas intermináveis, se convenceu de que apressara a morte do ser querido.

Um pouco maiorzinha, a menina teve uma galinha chamada Eponina.

O amor por Eponina: dessa vez era um amor mais realista e não romântico; era o amor de quem já sofreu por amor. E quando chegou a vez de Eponina ser comida, a menina não apenas soube como achou que era o destino fatal de quem nascia galinha. As galinhas pareciam ter uma pré-ciência do próprio destino e não aprendiam a amar os donos nem o galo. Uma galinha é sozinha no mundo.

Mas a menina não esquecera o que sua mãe dissera a respeito de comer bichos amados: comeu Eponina mais do que todo o resto da família, comeu sem fome, mas com um prazer quase físico porque sabia agora que assim Eponina se incorporaria nela e se tornaria mais sua do que em vida. Tinham feito Eponina ao molho pardo. De modo que a menina, num ritual pagão que lhe foi transmitido de corpo a corpo através dos séculos, comeu-lhe a carne e bebeu-lhe o sangue. Nessa refeição tinha ciúmes de quem também comia Eponina. A menina era um ser feito para amar até que se tornou moça e havia os homens


Clarice Lispector

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Perdoando Deus

Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade.

Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso "fosse mesmo" o que eu sentia - e não possivelmente um equívoco de sentimento - que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre.

E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos.

Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admiro e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança poderia eu contra um Deus Todo-Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado poderia me esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu, olhando com raiva essa coisa, eu O visse? no rato? naquela janela? nas pedras do chão? Em mim é que Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais.

Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar - não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele - mas vou contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o que Ele fez, vou estragar a Sua reputação.

... mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escadalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe.



Clarice Lispector

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Os desastres de Sofia

Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de pro­fissão, e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele. O professor era gordo, grande e silencioso, de ombros contraídos. Em vez de nó na garganta, tinha ombros contraídos. Usava paletó curto demais, óculos sem aro, com um fio de ouro encimando o nariz grosso e romano. E eu era atraída por ele. Não amor, mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada impaciência que ele tinha em nos ensinar e que, ofendida, eu adivinhara. Passei a me comportar mal na sala. Falava muito alto, mexia com os colegas, inter­rompia a lição com piadinhas, até que ele dizia, vermelho:
— Cale-se ou expulso a senhora da sala.
Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser o objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto, com a cólera de quem ainda não foi covarde e vê um homem forte de ombros tão curvos. Ele me irritava. De noite, antes de dormir, ele me irritava.
Eu tinha nove anos e pouco, dura idade como o talo não quebrado de uma begônia. Eu o espicaçava, e ao conseguir exacerbá-lo sentia na boca, em glória de martírio, a acidez insuportá­vel da begônia quando ê esmagada entre os dentes; e roia as unhas, exultante. De manhã, ao atravessar os portões da escola, pura como ia com meu café com leite e a cara lavada, era um choque deparar em carne e osso com o homem que me fizera devanear por um abismal minuto antes de dormir. Em superfície de tempo fora um minuto apenas, mas em profundidade eram velhos séculos de escuríssima doçura. De manhã — como se eu não tivesse contado com a exis­tência real daquele que desencadeara meus negros sonhos de amor — de manhã, diante do homem grande com seu paletó curto, em choque eu era jogada na vergonha, na perplexidade e na assustadora esperança. A esperança era o meu pecado maior.
Cada dia renovava-se a mesquinha luta que eu encetara pela salvação daquele homem. Eu queria o seu bem, e em resposta ele me odiava. Contundida, eu me tornara o seu demônio e tormento, símbolo do inferno que devia ser para ele ensinar aquela turma risonha de desin­te­ressa­­dos. Tornara-se um prazer já terrível o de não deixá-lo em paz. O jogo, como sem­pre, me fascinava. Sem saber que eu obedecia a velhas tradições, mas com uma sabedoria com que os ruins já nascem — aqueles ruins que roem as unhas de espanto —, sem saber que obede­cia a uma das coisas que mais acontecem no mundo, eu estava sendo a prostituta e ele o santo. Não, talvez não seja isso. As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modi­ficam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias. E nem todas posso contar — uma palavra mais verdadeira poderia de eco em eco fazer desabar pelo despenhadeiro as minhas altas geleiras. Assim, pois, não falarei mais no sorvedouro que havia em mim enquanto eu devaneava antes de adormecer. Senão eu mesma terminarei pensando que era apenas essa macia voragem o que me impelia para ele, esquecendo minha desesperada abnegação. Eu me tornara a sua sedutora, dever que ninguém me impusera. Era de se lamentar que tivesse caído em minhas mãos erradas a tarefa de salvá-lo pela tentação, pois de todos os adultos e crianças daquele tempo eu era provavelmente a menos indicada. “Essa não é flor que se cheire”, como dizia nossa empregada. Mas era como se, sozinha com um alpinista paralisado pelo terror do precipício, eu, por mais inábil que fosse, não pudesse senão tentar ajudá-lo a descer. O professor tivera a falta de sorte de ter sido logo a mais imprudente quem ficara sozinha com ele nos seus ermos. Por mais arriscado que fosse o meu lado, eu era obrigada a arrastá-lo para o meu lado, pois o dele era mortal. Era o que eu fazia, como uma criança importuna puxa um grande pela aba do paletó. Ele não olhava para trás, não perguntava o que eu queria, e livrava-se de mim com um safanão. Eu continuava a puxá-lo pelo paletó, meu único instrumento era a insistência. E disso tudo ele só percebia que eu lhe rasgava os bolsos. É verdade que nem eu mesma sabia ao certo o que fazia, minha vida com o professor era invisível. Mas eu sentia que meu papel era ruim e perigoso: impelia-me a voracidade por uma vida, vida real que tardava, e pior que inábil, eu também tinha gosto em lhe rasgar os bolsos. Só Deus perdoaria o que eu era porque só Ele sabia do que me fizera e para o quê. Eu me deixava, pois, ser matéria d'Ele. Ser matéria de Deus era a minha única bondade. E a fonte de um nascente misticismo. Não misticismo por Ele, mas pela matéria d'Ele, mas pela vida crua e cheia de prazeres: eu era uma adoradora. Aceitava a vastidão do que eu não conhecia e a ela me confiava toda, com segredos de confessionário. Seria para as escuridões da ignorância que eu seduzia o professor? e com o ardor de uma freira na cela. Freira alegre e monstruosa, ai de mim. E nem disso eu poderia me vangloriar: na classe todos nós éramos igualmente monstruosos e suaves, ávida matéria de Deus.
Mas se me comoviam seus gordos ombros contraídos e seu paletozinho apertado, minhas gargalhadas só conseguiam fazer com que ele, fingindo a que custo me esquecer, mais contraído ficasse de tanto autocontrole. A antipatia que esse homem sentia por mim era tão forte que eu me detestava. Até que meus risos foram definitivamente substituindo minha delicadeza impossível.
Aprender eu não aprendia naquelas aulas. O jogo de torná-lo infeliz já me tomara demais. Suportando com desenvolta amargura as minhas pernas compridas e os sapatos sempre cambaios, humilhada por não ser uma flor, e sobretudo torturada por uma infância enorme que eu temia nunca chegar a um fim — mais infeliz eu o tornava e sacudia com altivez a minha única riqueza: os cabelos escorridos que eu planejava ficarem um dia bonitos com permanente e que por conta do futuro eu já exercitava sacudindo-os. Estudar eu não estudava, confiava na minha vadiação sempre bem sucedida e que também ela o professor tomava como mais uma provocação da menina odiosa. Nisso ele não tinha razão. A verdade é que não me sobrava tempo para estudar. As alegrias me ocupavam, ficar atenta me tomava dias e dias; havia os livros de história que eu lia roendo de paixão as unhas até o sabugo, nos meus primeiros êxtases de tristeza, refinamento que eu já descobrira; havia meninos que eu escolhera e que não me haviam escolhido, eu perdia horas de sofrimento porque eles eram inatingíveis, e mais outras horas de sofrimento aceitando-os com ternura, pois o homem era o meu rei da Criação; havia a esperançosa ameaça do pecado, eu me ocupava com medo em esperar; sem falar que estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim, toda eu é que não podia; ter nascido era cheio de erros a corrigir. Não, não era para irritar o professor que eu não estudava; só tinha tempo de crescer. O que eu fazia para todos os lados, com uma falta de graça que mais parecia o resultado de um erro de cálculo: as pernas não combinavam com os olhos, e a boca era emocionada enquanto as mãos se esgalhavam sujas — na minha pressa eu crescia sem saber para onde. O fato de um retrato da época me revelar, ao contrário, uma menina bem plantada, selvagem e suave, com olhos pensativos embaixo da franja pesada, esse retrato real não me desmente, só faz é revelar uma fantasmagórica estranha que eu não compreenderia se fosse a sua mãe. Só muito depois, tendo finalmente me organizado em corpo e sentindo-me fundamentalmente mais garantida, pude me aventurar e estudar um pouco; antes, porém, eu não podia me arriscar a aprender, não queria me disturbar — tomava intuitivo cuidado com o que eu era, já que eu não sabia o que era, e com vaidade cultivava a integridade da ignorância. Foi pena o professor não ter chegado a ver aquilo em que quatro anos depois inesperadamente eu me tornaria: aos treze anos, de mãos limpas, banho tomado, toda composta e bonitinha, ele me teria visto como um cromo de Natal à varanda de um sobrado. Mas, em vez dele, passara embaixo um ex-amiguinho meu, gritara alto o meu nome, sem perce­ber que eu já não era mais um moleque e sim uma jovem digna cujo nome não pode mais ser berrado pelas calçadas de uma cidade. “Que é?”, indaguei do intruso com a maior frieza. Recebi então como resposta gritada a notícia de que o professor morrera naquela madrugada. E branca, de olhos muito abertos, eu olhara a rua vertiginosa a meus pés. Minha compostura quebrada como a de uma boneca partida.
Voltando a quatro anos atrás. Foi talvez por tudo o que contei, misturado e em conjunto, que escrevi a composição que o professor mandara, ponto de desenlace dessa história e começo de outras. Ou foi apenas por pressa de acabar de qualquer modo o dever para poder brincar no parque.
— Vou contar uma história, disse ele, e vocês façam a composição. Mas usando as pala­vras de vocês. Quem for acabando não precisa esperar pela sineta, já pode ir para o recreio.
O que ele contou: um homem muito pobre sonhara que descobrira um tesouro e ficara muito rico; acordando, arrumara sua trouxa, saíra em busca do tesouro; andara o mundo inteiro e continuava sem achar o tesouro; cansado, voltara para a sua pobre, pobre casinha; e como não tinha o que comer, começara a plantar no seu pobre quintal; tanto plantara, tanto colhera, tanto começara a vender que terminara ficando muito rico.
Ouvi com ar de desprezo, ostensivamente brincando com o lápis, como se quisesse deixar claro que suas histórias não me ludibriavam e que eu bem sabia quem ele era. Ele contara sem olhar uma só vez para mim. É que na falta de jeito de amá-lo e no gosto de persegui-lo, eu também o acossava com o olhar: a tudo o que ele dizia eu respondia com um simples olhar direto, do qual ninguém em sã consciência poderia me acusar. Era um olhar que eu tornava bem límpido e angélico, muito aberto, como o da candidez olhando o crime. E conseguia sempre o mesmo resultado: com perturbação ele evitava meus olhos, começando a gaguejar. O que me enchia de um poder que me amaldiçoava. E de piedade. O que por sua vez me irritava. Irritava-me que ele obrigasse uma porcaria de criança a compreender um homem.
Eram quase dez horas da manhã, em breve soaria a sineta do recreio. Aquele meu colégio, alugado dentro de um dos parques da cidade, tinha o maior campo de recreio que já vi. Era tão bonito para mim como seria para um esquilo ou um cavalo. Tinha árvores espalhadas, longas descidas e subidas e estendida relva. Não acabava nunca. Tudo ali era longe e grande, feito para pernas compridas de menina, com lugar para montes de tijolo e madeira de origem ignorada, para moitas de azedas begônias que nós comíamos, para sol e sombras onde as abe­lhas faziam mel. Lá cabia um ar livre imenso. E tudo fora vivido por nós: já tínhamos rolado de cada declive, intensamente cochichado atrás de cada monte de tijolo, comido de várias flores e em todos os troncos havíamos a canivete gravado datas, doces nomes feios e corações transpassados por flechas; meninos e meninas ali faziam o seu mel.
Eu estava no fim da composição e o cheiro das sombras escondidas já me chamava. Apressei-me. Como eu só sabia “usar minhas próprias palavras”, escrever era simples. Apres­sava-me também o desejo de ser a primeira a atravessar a sala — o professor terminara por me isolar em quarentena na última carteira — e entregar-lhe insolente a composição, demonstran­do-lhe assim minha rapidez, qualidade que me parecia essencial para se viver e que, eu tinha certeza, o professor só podia admirar.
Entreguei-lhe o caderno e ele o recebeu sem ao menos me olhar. Melindrada, sem um elogio pela minha velocidade, saí pulando para o grande parque.
A história que eu transcrevera em minhas próprias palavras era igual à que ele contara. Só que naquela época eu estava começando a “tirar a moral das histórias”, o que, se me santifi­cava, mais tarde ameaçaria sufocar-me em rigidez. Com alguma faceirice, pois, havia acrescen­tado as frases finais. Frases que horas depois eu lia e relia para ver o que nelas haveria de tão poderoso a ponto de enfim ter provocado o homem de um modo como eu própria não conse­guira até então. Provavelmente o que o professor quisera deixar implícito na sua história triste é que o trabalho árduo era o único modo de se chegar a ter fortuna. Mas levianamente eu concluíra pela moral oposta: alguma coisa sobre o tesouro que se disfarça, que está onde menos se espera, que é só descobrir, acho que falei em sujos quintais com tesouros. Já não me lembro, não sei se foi exatamente isso. Não consigo imaginar com que palavras de criança teria eu exposto um sentimento simples mas que se torna pensamento complicado. Suponho que, arbi­trariamente contrariando o sentido real da história, eu de algum modo já me prometia por escrito que o ócio, mais que o trabalho, me daria as grandes recompensas gratuitas, as únicas a que eu aspirava. É possível também que já então meu tema de vida fosse a irrazoável esperança, e que eu já tivesse iniciado a minha grande obstinação: eu daria tudo o que era meu por nada, mas queria que tudo me fosse dado por nada. Ao contrário do trabalhador da história, na composição eu sacudia dos ombros todos os deveres e dela saía livre e pobre, e com um tesouro na mão.
Fui para o recreio, onde fiquei sozinha com o prêmio inútil de ter sido a primeira, cis­cando a terra, esperando impaciente pelos meninos que pouco a pouco começaram a surgir da sala.
No meio das violentas brincadeiras resolvi buscar na minha carteira não me lembro o quê, para mostrar ao caseiro do parque, meu amigo e protetor. Toda molhada de suor, vermelha de uma felicidade irrepresável que se fosse em casa me valeria uns tapas — voei em direção à sala de aula, atravessei-a correndo, e tão estabanada que não vi o professor a folhear os cadernos empilhados sobre a mesa. Já tendo na mão a coisa que eu fora buscar, e iniciando outra corrida de volta — só então meu olhar tropeçou no homem.
Sozinho à cátedra: ele me olhava.
Era a primeira vez que estávamos frente a frente, por nossa conta. Ele me olhava. Meus passos, de vagarosos, quase cessaram.
Pela primeira vez eu estava só com ele, sem o apoio cochichado da classe, sem a admiração que minha afoiteza provocava. Tentei sorrir, sentindo que o sangue me sumia do rosto. Uma gota de suor correu-me pela testa. Ele me olhava. O olhar era uma pata macia e pesada sobre mim. Mas se a pata era suave, tolhia-me toda como a de um gato que sem pressa prende o rabo do rato. A gota de suor foi descendo pelo nariz e pela boca, dividindo ao meio o meu sorriso. Apenas isso: sem uma expressão no olhar, ele me olhava. Comecei a costear a parede de olhos baixos, prendendo-me toda a meu sorriso, único traço de um rosto que já perdera os contornos. Nunca havia percebido como era comprida a sala de aula; só agora, ao lento passo do medo, eu via o seu tamanho real. Nem a minha falta de tempo me deixara perceber até então como eram austeras e altas as paredes; e duras, eu sentia a parede dura na palma da mão. Num pesadelo, do qual sorrir fazia parte, eu mal acreditava poder alcançar o âmbito da porta — de onde eu correria, ah como correria! a me refugiar no meio de meus iguais, as crianças. Além de me concentrar no sorriso, meu zelo minucioso era o de não fazer barulho com os pés, e assim eu aderia à natureza íntima de um perigo do qual tudo o mais eu desco­nhecia. Foi num arrepio que me adivinhei de repente como num espelho: uma coisa úmida se encostando à parede, avançando devagar na ponta dos pés, e com um sorriso cada vez mais intenso. Meu sorriso cristalizara a sala em silêncio, e mesmo os ruídos que vinham do parque escorriam pelo lado de fora do silêncio. Cheguei finalmente à porta, e o coração imprudente pôs-se a bater alto demais sob o risco de acordar o gigantesco mundo que dormia.
Foi quando ouvi meu nome.
De súbito pregada ao chão, com a boca seca, ali fiquei de costas para ele sem coragem de me voltar. A brisa que vinha pela porta acabou de secar o suor do corpo. Virei-me devagar, contendo dentro dos punhos cerrados o impulso de correr.
Ao som de meu nome a sala se desipnotizara.
E bem devagar vi o professor todo inteiro. Bem devagar vi que o professor era muito grande e muito feio, e que ele era o homem de minha vida. O novo e grande medo. Pequena, sonâmbula, sozinha, diante daquilo a que a minha fatal liberdade finalmente me levara. Meu sorriso, tudo o que sobrara de um rosto, também se apagara. Eu era dois pés endurecidos no chão e um coração que de tão vazio parecia morrer de sede. Ali fiquei, fora do alcance do homem. Meu coração morria de sede, sim: Meu coração morria de sede.
Calmo como antes de friamente matar ele disse:
— Chegue mais perto . . .
Como é que um homem se vingava?
Eu ia receber de volta em pleno rosto a bola de mundo que eu mesma lhe jogara e que nem por isso me era conhecida. Ia receber de volta uma realidade que não teria existido se eu não a tivesse temerariamente adivinhado e assim lhe dado vida. Até que ponto aquele homem, monte de compacta tristeza, era também monte de fúria? Mas meu passado era agora tarde demais. Um arrependimento estóico manteve erecta a minha cabeça. Pela primeira vez a ignorância, que até então fora o meu grande guia, desamparava-me. Meu pai estava no trabalho, minha mãe morrera há meses. Eu era o único eu.
— ... Pegue o seu caderno ..., acrescentou ele.
A surpresa me fez subitamente olhá-lo. Era só isso, então!? O alívio inesperado foi quase mais chocante que o meu susto anterior. Avancei um passo, estendi a mão gaguejante.
Mas o professor ficou imóvel e não entregou o caderno.
Para a minha súbita tortura, sem me desfitar, foi tirando lentamente os óculos. E olhou-me com olhos nus que tinham muitos cílios. Eu nunca tinha visto seus olhos que, com as inúme­ras pestanas, pareciam duas baratas doces. Ele me olhava. E eu não soube como existir na frente de um homem. Disfarcei olhando o teto, o chão, as paredes, e mantinha a mão ainda estendida porque não sabia como recolhê-la. Ele me olhava manso, curioso, com os olhos despenteados como se tivesse acordado. Iria ele me amassar com mão inesperada? Ou exigir que eu me ajoelhasse e pedisse perdão. Meu fio de esperança era que ele não soubesse o que eu lhe tinha feito, assim como eu mesma já não sabia, na verdade eu nunca soubera.
— Como é que lhe veio a idéia do tesouro que se disfarça?
— Que tesouro? — murmurei atoleimada.
Ficamos nos fitando em silêncio.
— Ah, o tesouro!, precipitei-me de repente mesmo sem entender, ansiosa por admitir qualquer falta, implorando-lhe que meu castigo consistisse apenas em sofrer para sempre de culpa, que a tortura eterna fosse a minha punição, mas nunca essa vida desconhecida.
— O tesouro que está escondido onde menos se espera. Que é só descobrir. Quem lhe disse isso?
O homem enlouqueceu, pensei, pois que tinha a ver o tesouro com aquilo tudo? Atônita, sem compreender, e caminhando de inesperado a inesperado, pressenti no entanto um terreno menos perigoso. Nas minhas corridas eu aprendera a me levantar das quedas mesmo quando mancava, e me refiz logo: “foi a composição do tesouro! esse então deve ter sido o meu erro!” Fraca, e embora pisando cuidadosa na nova e escorregadia segurança, eu no entanto já me levantara o bastante da minha queda para poder sacudir, numa imitação da antiga arrogância, a futura cabeleira ondulada:
— Ninguém, ora ..., respondi mancando. Eu mesma inventei, disse trêmula, mas já recomeçando a cintilar.
Se eu ficara aliviada por ter alguma coisa enfim concreta com que lidar, começava no entanto a me dar conta de algo muito pior. A súbita falta de raiva nele. Olhei-o intrigada, de viés. E aos poucos desconfiadíssima. Sua falta de raiva começara a me amedrontar, tinha ameaças novas que eu não compreendia. Aquele olhar que não me desfitava — e sem cólera ... Perplexa, e a troco de nada, eu perdia o meu inimigo e sustento. Olhei-o surpreendida. Que é que ele queria de mim? Ele me constrangia. E seu olhar sem raiva passara a me importunar mais do que a brutalidade que eu temera. Um medo pequeno, todo frio e suado, foi me tomando. Devagar, para ele não perceber, recuei as costas até encontrar atrás delas a parede, e depois a cabeça recuou até não ter mais para onde ir. Daquela parede onde eu me engastara toda, furtivamente olhei-o.
E meu estômago se encheu de uma água de náusea. Não sei contar.
Eu era uma menina muito curiosa e, para a minha palidez, eu vi. Eriçada, prestes a vomitar, embora até hoje não saiba ao certo o que vi. Mas sei que vi. Vi tão fundo quanto numa boca, de chofre eu via o abismo do mundo. Aquilo que eu via era anônimo como uma barriga aberta para uma operação de intestinos. Vi uma coisa se fazendo na sua cara — o mal-estar já petrificado subia com esforço até a sua pele, vi a careta vagarosamente hesitando e quebrando uma crosta — mas essa coisa que em muda catástrofe se desenraizava, essa coisa ainda se parecia tão pouco com um sorriso como se um fígado ou um pé tentassem sorrir, não sei. O que vi, vi tão de perto que não sei o que vi. Como se meu olho curioso se tivesse colado ao buraco da fechadura e em choque deparasse do outro lado com outro olho colado me olhando. Eu vi dentro de um olho. O que era tão incompreensível como um olho. Um olho aberto com sua gelatina móvel. Com suas lágrimas orgânicas. Por si mesmo o olho chora, por si mesmo o olho ri. Até que o esforço do homem foi se completando todo atento, e em vitória infantil ele mostrou, pérola arrancada da barriga aberta — que estava sorrindo. Eu vi um homem com entranhas sorrindo. Via sua apreensão extrema em não errar, sua aplicação de aluno lento, a falta de jeito como se de súbito ele se tivesse tornado canhoto. Sem entender, eu sabia que pediam de mim que eu recebesse a entrega dele e de sua barriga aberta, e que eu recebesse o seu peso de homem. Minhas costas forçaram desesperadamente a parede, recuei — era cedo demais para eu ver tanto. Era cedo demais para eu ver como nasce a vida. Vida nascendo era tão mais sangrento do que morrer. Morrer é ininterrupto. Mas ver matéria inerte lentamente tentar se erguer como um grande morto-vivo ... Ver a esperança me aterrorizava, ver a vida me embrulhava o estôma­go. Estavam pedindo demais de minha coragem só porque eu era corajosa, pediam minha força só porque eu era forte. “Mas e eu?”, gritei dez anos depois por motivos de amor perdido, “quem virá jamais à minha fraqueza!” Eu o olhava surpreendida, e para sempre não soube o que vi, o que eu vira poderia cegar os curiosos.
Então ele disse, usando pela primeira vez o sorriso que aprendera:
— Sua composição do tesouro está tão bonita. O tesouro que é só descobrir. Você ... — ele nada acrescentou por um momento. Perscrutou-me suave, indiscreto, tão meu íntimo como se ele fosse o meu coração. — Você é uma menina muito engraçada, disse afinal.
Foi a primeira vergonha real de minha vida. Abaixei os olhos, sem poder sustentar o olhar indefeso daquele homem a quem eu enganara.
Sim, minha impressão era a de que, apesar de sua raiva, ele de algum modo havia con­fiado em mim, e que então eu o enganara com a lorota do tesouro. Naquele tempo eu pensava que tudo o que se inventa é mentira, e somente a consciência atormentada do pecado me redimia do vício. Abaixei os olhos com vergonha. Preferia sua cólera antiga, que me ajudara na minha luta contra mim mesma, pois coroava de insucesso os meus métodos e talvez terminasse um dia me corrigindo: eu não queria era esse agradecimento que não só era a minha pior punição, por eu não merecê-lo, como vinha encorajar minha vida errada que eu tanto temia, viver errado me atraía. Eu bem quis lhe avisar que não se acha tesouro à toa. Mas, olhando-o, desanimei: faltava-me a coragem de desiludi-lo. Eu já me habituara a proteger a alegria dos outros, as de meu pai, por exemplo, que era mais desprevenido que eu. Mas como me foi difícil engolir a seco essa alegria que tão irresponsavelmente eu causara! Ele parecia um mendigo que agradecesse o prato de comida sem perceber que lhe haviam dado carne estragada. O sangue me subira ao rosto, agora tão quente que pensei estar com os olhos injetados, enquanto ele, provavelmente em novo engano, devia pensar que eu corara de prazer ao elogio. Naquela mesma noite aquilo tudo se transformaria em incoercível crise de vômitos que manteria acesas todas as luzes de minha casa.
— Você — repetiu então ele lentamente como se aos poucos estivesse admitindo com encantamento o que lhe viera por acaso à boca —, você é uma menina muito engraçada, sabe? Você é uma doidinha ..., disse usando outra vez o sorriso como um menino que dorme com os sapatos novos. Ele nem ao menos sabia que ficava feio quando sorria. Confiante, deixava-me ver a sua feiúra, que era a sua parte mais inocente.
Tive que engolir como pude a ofensa que ele me fazia ao acreditar em mim, tive que engolir a piedade por ele, a vergonha por mim, “tolo!”, pudesse eu lhe gritar, “essa história de tesouro disfarçado foi inventada, é coisa só para menina!” Eu tinha muita consciência de ser uma criança, o que explicava todos os meus graves defeitos, e pusera tanta fé em um dia crescer — e aquele homem grande se deixara enganar por uma menina safadinha. Ele matava em mim pela primeira vez a minha fé nos adultos: também ele, um homem, acreditava como eu nas grandes mentiras ...
... E de repente, com o coração batendo de desilusão, não suportei um instante mais — sem ter pegado o caderno corri para o parque, a mão na boca como se me tivessem quebrado os dentes. Com a mão na boca, horrorizada, eu corria, corria para nunca parar, a prece profunda não é aquela que pede, a prece mais profunda é a que não pede mais — eu corria, eu corria muito espantada.
Na minha impureza eu havia depositado a esperança de redenção nos adultos. A necessidade de acreditar na minha bondade futura fazia com que eu venerasse os grandes, que eu fizera à minha imagem, mas a uma imagem de mim enfim purificada pela penitência do crescimento, enfim liberta da alma suja de menina. E tudo isso o professor agora destruía, e destruía meu amor por ele e por mim. Minha salvação seria impossível: aquele homem também era eu. Meu amargo ídolo que caíra ingenuamente nas artimanhas de uma criança confusa e sem candura, e que se deixara docilmente guiar pela minha diabólica inocência ... Com a mão apertando a boca, eu corria pela poeira do parque.
Quando enfim me dei conta de estar bem longe da órbita do professor, sofreei exausta a corrida, e quase a cair encostei-me em todo o meu peso no tronco de uma árvore, respirando alto, respirando. Ali fiquei ofegante e de olhos fechados, sentindo na boca o amargo empoeirado do tronco, os dedos mecanicamente passando e repassando pelo duro entalhe de um coração com flecha. E de repente, apertando os olhos fechados, gemi entendendo um pouco mais: estaria ele querendo dizer que ... que eu era um tesouro disfarçado? O tesouro onde menos se espera... Oh não, não, coitadinho dele, coitado daquele rei da Criação, de tal modo precisara ... de quê? de que precisara ele? ... que até eu me transformara em tesouro.
Eu ainda tinha muito mais corrida dentro de mim, forcei a garganta seca a recuperar o fôlego, e empurrando com raiva o tronco da árvore recomecei a correr em direção ao fim do mundo.
Mas ainda não divisara o fim sombreado do parque, e meus passos foram se tornando mais vagarosos, excessivamente cansados. Eu não podia mais. Talvez por cansaço, mas eu su­cumbia. Eram passos cada vez mais lentos e a folhagem das árvores se balançava lenta. Eram passos um pouco deslumbrados. Em hesitação fui parando, as árvores rodavam altas. É que uma doçura toda estranha fatigava meu coração. Intimidada, eu hesitava. Estava sozinha na relva, mal em pé, sem nenhum apoio, a mão no peito cansado como a de uma virgem anunciada. E de cansaço abaixando àquela suavidade primeira uma cabeça finalmente humilde que de muito longe talvez lembrasse a de uma mulher. A copa das árvores se balançava para a frente, para trás. “Você é uma menina muito engraçada, você é uma doidinha”, dissera ele. Era como um amor.
Não, eu não era engraçada. Sem nem ao menos saber, eu era muito séria. Não, eu não era doidinha, a realidade era o meu destino, e era o que em mim doía nos outros. E, por Deus, eu não era um tesouro. Mas se eu antes já havia descoberto em mim todo o ávido veneno com que se nasce e com que se rói a vida — só naquele instante de mel e flores descobria de que modo eu curava: quem me amasse, assim eu teria curado quem sofresse de mim. Eu era a escura ignorância com suas fomes e risos, com as pequenas mortes alimentando a minha vida inevitá­vel — que podia eu fazer? eu já sabia que eu era inevitável. Mas se eu não prestava, eu fora tudo o que aquele homem tivera naquele momento. Pelo menos uma vez ele teria que amar, e sem ser a ninguém — através de alguém. E só eu estivera ali. Se bem que esta fosse a sua única vantagem: tendo apenas a mim, e obrigado a iniciar-se amando o ruim, ele começara pelo que poucos chegavam a alcançar. Seria fácil demais querer o limpo; inalcançável pelo amor era o feio, amar o impuro era a nossa mais profunda nostalgia. Através de mim, a difícil de se amar, ele recebera, com grande caridade por si mesmo, aquilo de que somos feitos. Entendi eu tudo isso? Não. E não sei o que na hora entendi. Mas assim como por um instante no professor eu vira com aterrorizado fascínio o mundo — e mesmo agora ainda não sei o que vi, só que para sempre e em um segundo eu vi — assim eu nos entendi, e nunca saberei o que entendi. Nunca saberei o que eu entendo. O que quer que eu tenha entendido no parque foi, com um choque de doçura, entendido pela minha ignorância. Ignorância que ali em pé — numa solidão sem dor, não menor que a das árvores — eu recuperava inteira, a ignorância e a sua verdade incom­preensível. Ali estava eu, a menina esperta demais, e eis que tudo o que em mim não prestava servia a Deus e aos homens. Tudo o que em mim não prestava era o meu tesouro.
Como uma virgem anunciada, sim. Por ele me ter permitido que eu o fizesse enfim sorrir, por isso ele me anunciara. Ele acabara de me transformar em mais do que o rei da Criação: fizera de mim a mulher do rei da Criação. Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos, coubera arrancar de seu coração a flecha farpada. De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura, e para que eu nascera sem nojo da dor. Para que te servem essas unhas longas? Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem. Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto — uivaram os lobos, e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir.
... E foi assim que no grande parque do colégio lentamente comecei a aprender a ser amada, suportando o sacrifício de não merecer, apenas para suavizar a dor de quem não ama. Não, esse foi somente um dos motivos. É que os outros fazem outras histórias. Em algumas foi de meu coração que outras garras cheias de duro amor arrancaram a flecha farpada, e sem nojo de meu grito.

Clarice Lispector

Compartilhando a percepção com o Espírito Santo

1. O que tu queres? A luz ou as trevas? O conhecimento ou a ignorância? O que quiseres é teu, mas não ambos. Os opostos têm que ser reunidos, não mantidos à parte. Pois a sua separação só existe em tua mente e eles são reconcilia-dos pela união, assim como tu. Na união, tudo o que não é real tem que desaparecer, pois a verdade é união. Assim como as trevas desaparecem na luz, também a ignorância se apaga quando desponta o conhecimento. A percepção é o meio pelo qual a ignorância é trazida ao conhecimento. No entanto, é preciso que não haja engano na percepção, pois de outra forma ela vem a ser o mensageiro da ignorância ao invés de ser uma ajuda na procura da verdade.

2. A procura da verdade não é senão procurar honestamente tudo o que interfere com a verdade. A verdade é. Não pode ser perdida, nem buscada, nem achada. Ela está presente, onde quer que estejas, estando dentro de ti. Entretanto, ela pode ser ou não reconhecida, pode ser falsa ou real para ti. Se a escondes, ela vem a ser irreal para ti, porque tu a escondeste e a cercaste de medo. Sob cada pedra angular de medo sobre a qual montaste o teu sistema de crenças insano, a verdade está escondida. Porém, não podes ter conhecimento disso, pois ao esconderes a verdade no medo, não vês razão para acreditar que, quanto mais olhares para o medo, menos o verás e mais claro se tomará o que ele oculta.

3. É impossível convencer aqueles que não conhecem de que conhecem. Do seu ponto de vista, isso não é verdade. Mas é verdade, porque Deus tem conhecimento disso. Estes são pontos de vista claramente opostos em relação ao que são “aqueles que não conhecem.” Para Deus, é impossível não conhecer. Portanto, não se trata absolutamente de um ponto de vista, mas apenas de uma crença em algo que não existe. Os que não conhecem têm apenas essa crença e devido a ela estão errados a respeito de si mesmos. Definiram a si próprios como não foram criados. A sua criação não foi um ponto de vista, mas uma certeza. A incerteza trazida à certeza não retém nenhuma convição de realidade.

4. Nossa ênfase tem sido colocada em trazer o que é indesejável para o desejável, o que tu não queres para o que queres. Vais reconhecer que a salvação terá que vir a ti deste modo, se considerares o que é a dissociação. Dissociação é um processo distorcido de pensamento pelo qual dois sistemas de crenças que não podem coexistir são mantidos. Se são reunidos, a aceitação dos dois conjuntamente é impossível. Mas se um deles é mantido longe do outro nas trevas, a sua separação parece manter ambos vivos e iguais em sua realidade. A sua união vem a ser, assim, a fonte do medo, pois se eles se encontram, é preciso retirar a aceitação de um dos dois. Não podes ter ambos, pois um nega o outro. Mantidos à parte esse fato não é visto, pois pode-se dotar cada um com uma crença sólida se estão em locais separa-dos. Reúna-os e o fato da sua completa incompatibilidade fica instantaneamente evidente. Um deles irá embora porque o outro está sendo visto no mesmo lugar.

5. A luz não pode entrar nas trevas quando a mente acredita nas trevas e não deixa que ela se vá. A verdade não luta contra a ignorância e o amor não ataca o medo. Aquilo que não necessita de proteção, não se defende. A defesa foi feita por ti. Deus não a conhece. O Espírito Santo usa defesas em favor da verdade só porque tu as fizeste contra a verdade. A Sua percepção acerca das defesas, de acordo com o Seu propósito, meramente muda-as fazendo com que sejam um chamado por aquilo que atacaste por meio delas. Defesas, como tudo o que fizeste, têm que ser gentilmente voltadas para o teu próprio bem, traduzidas pelo Espírito Santo de meios de auto-destruição em meios de preservação e liberação. A Sua tarefa é muito grande, mas o poder de Deus está com Ele. Portanto, para Ele, ela é tão fácil que foi realizada no instante em que Lhe foi dada a teu favor. Não te demores no teu retorno à paz imaginando como pode Ele cumprir o que Deus Lhe deu para fazer. Deixa isso para Ele Que conhece. Não te é pedido que executes tarefas poderosas por ti mesmo. A ti, pede-se apenas que faças o pouco que o Espírito Santo te sugere fazer, confiando Nele apenas o suficiente para acreditar que se Ele te pede, tu és capaz de fazer. Verás com que facilidade tudo o que Ele pede pode ser realizado.

6. O Espírito Santo não te pede mais do que isso: traze a Ele todos os segredos que trancaste longe Dele. Abre todas as portas para Ele e pede-Lhe que entre nas trevas e as ilumine, dissipando-as. A teu convite, Ele entra com contentamento. Ele traz a luz à escuridão, se fizeres com que a escuridão esteja aberta para Ele. Mas aquilo que escondes, Ele não pode olhar. Ele vê por ti e a não ser que olhes com Ele, Ele não pode ver. A visão de Cristo não é para Ele sozinho, mas para Ele junto contigo. Traze, portanto, todos os teus pensamentos escuros e secretos a Ele e olha-os junto com Ele. Ele mantém a luz e tu a escuridão. Elas não podem coexistir quando Ambos olham para elas juntos. O Seu julgamento tem que prevalecer e Ele o dará a ti, na medida em que unires a tua percepção à Dele.

7. Unir-te a Ele para ver é o modo como aprendes a compartilhar com Ele a interpretação da percepção que conduz ao conhecimento. Não podes ver sozinho. Compartilhar a percepção com Ele, Que te foi dado por Deus, irá ensinar-te como reconhecer o que vês. É o reconhecimento de que nada do que vês significa coisa alguma por si só. Ver com Ele vai te mostrar que todo significado, inclusive o teu, não vem da visão dupla, mas da fusão gentil de todas as coisas em um significado, uma emoção e um propósito. Deus tem um Propósito que Ele compartilha contigo. A visão única, que o Espírito Santo te oferece, irá trazer essa unicidade à tua mente com clareza e brilho tão intensos, que não poderias desejar, mesmo em troca do mundo inteiro, não aceitar o que Deus quer que tenhas. Contempla a tua vontade aceitando que é a Sua, e que todo o Seu Amor é o teu. Toda honra seja dada a ti através Dele e através Dele a Deus.

Um Curso Em Milagres

Mensagem da Mãe Maria 24-2008

Amados Filhos,



Que as bênçãos do amor tragam paz aos vossos corpos, mentes e corações.

Hoje quero vos falar da única energia que cura, quero vos falar do AMOR, do sentimento que preenche o vazio de vossas existências, que transborda para expandir alegria, que neutraliza todas as dores e ansiedades, que sacia vossa angustia.

AMOR, esta é a virtude que vos devolve à plenitude, aquela que viestes buscar nesta vossa jornada, aquela com que sonhais, dia após dia, aquela que perseguis incessantemente sem a certeza de um dia alcançar.

AMOR, aquele sentimento que preenche e dá vida a todos os vossos relacionamentos, que faz de vós um instrumento do Pai Criador para compartilhar suas doces palavras, aquelas palavras que expressais aos ouvidos de vossos filhos, de vossos amados, aquelas que têm o poder de fazer sorrir uma criança, de dar esperança aqueles que nada mais esperam da vida, que aliviam o peso gerado pelas guerras e pelas lutas sem sentido com que ainda se depara a humanidade.

AMOR, aquele sentimento que restaura todos os relacionamentos, que tem o poder de devolver o bom senso ao homem, que gera paz, que faz transbordar a verdade, aquela que tem o poder de vos unir como humanidade, a verdade de que sois todos irmãos.

É desse AMOR, do amor-bondade, do amor-compaixão, do amor-devoção, do amor-alegria, de todas as formas como o AMOR pode se expressar em vosso mundo, é desse AMOR que quero vos falar.

Do AMOR tão escasso nos corações dos Filhos da Terra, tão ausente dos relacionamentos, tão distante do centro de poder de todas as nações, tão raro como alimento da Mãe Natureza.

É desse AMOR que vosso planeta e todos os seus filhos precisam se nutrir, é esse AMOR que precisa ser cultivado com carinho e constança por todos aqueles que, como vós, já reconhecem o Caminho da Luz.

Oh, amados, como falta AMOR em vosso mundo, como falta AMOR em vossos corações, em vossas atitudes, como é escasso o AMOR em vossas vidas!

Por isso o vazio, por isso a ausência, por isso a angústia que brota com força em vossas mentes, permeia vossos corpos e se expande em vossas vidas na forma de medo, medo do desconhecido, medo das doenças, medo da perda de vossos entes queridos, medo da escassez, medo de nunca mais voltar a sentir PAZ.

A PAZ aí está, permeando todos os espaços, pronta para ser revelada na vida de todos aqueles que reaprendem a AMAR.

Sim, amados, sem o exercício do AMOR não pode haver PAZ em vossos corações e PAZ no mundo.

Como viver o estado de PAZ se o medo vos envolve, toldando vosso discernimento, alimentando a falsa verdade de que estais cercados de inimigos, aqueles que se apresentam como vossos opositores no trabalho, nos negócios, nos relacionamentos, o fantasma sempre presente que vos faz desconfiar de tudo e de todos!

Como viver em PAZ e partilhar PAZ se não há PAZ em vossos pensamentos, se não há PAZ em vossos corações!

Como viver a plenitude na escassez de um mundo que não conhece o AMOR!

Oh, amados filhos, urge redescobrir o AMOR, urge cultivar o AMOR, urge compartilhar o AMOR eis que só o AMOR tem o poder de vos fazer renascer para o mundo além da ilusão.

Sem AMOR continuareis vossas tentativas para ser feliz no terreno árido onde é impossível florescer a abundância; sim, aquela abundância que sabeis existir no mundo novo, aquela abundância que faz de todos ricos e felizes, iguais e fraternos, unidos pela única linguagem que existe no mundo novo, a linguagem do AMOR.

Ela precisa ser exercitada por vós no dia a dia, em todas as vossas ações; buscai, pois conscientemente exercitar a linguagem do AMOR, buscai colocar o vosso coração e a energia que dele flui -AMOR- em todos os vossos atos; buscai alimentar vossa mente com a luz do AMOR revelada por essa linguagem, para que vossa mente reconheça somente os pensamentos que vêm permeados de AMOR, e assim possa preencher o vosso dia a dia, e todos os atos por vós exercitados, só com AMOR no intuito supremo de concluirdes esta jornada que vos trouxe a terceira dimensão.

Bem amados, não vos esqueçais que vossa CONSCIÊNCIA CRÍSTICA só reconhece a linguagem do AMOR, e é ela que estais próximos de resgatar neste tempo em que surge mais uma oportunidade da humanidade dar mais um salto quântico, rumo ao restabelecimento da total conexão com o “EU SOU”.

Que vossas orações, amados, possam ser expressadas através da linguagem pura de vossos corações, para que elas possam continuar alimentando vossos irmãos e vosso planeta, nutrindo todas as formas de vida com o alimento que brota e se expande diretamente do Coração de DEUS.

Bem amados, Eu vos deixo agora derramando sobre todos vós as minhas bênçãos e envolvendo a todos no meu manto de proteção, porque Eu Sou Maria, Vossa Mãe.



Sp-05/08/08- Mensagem de Mãe Maria-24-2008
canalizada por Jane Ribeiro

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