domingo, 16 de janeiro de 2011

O medo da cura


1. A cura é assustadora? Para muitos, sim. Pois a acusação é uma barreira ao amor e corpos feridos são acusadores. Eles bloqueiam firmemente o caminho da confiança e da paz, proclamando que os frágeis não podem ter confiança e que os feridos não têm bases para a paz. Quem pode ter sido machucado pelo próprio irmão e ainda assim amá-lo e confiar nele? Ele atacou e vai atacar outra vez. Não o protejas, porque o teu próprio corpo ferido mostra que tu tens que ser protegido contra o teu irmão. Perdoar pode ser um ato de caridade, mas que ele não merece. Ele pode ser digno de pena pela sua culpa, mas não pode ser absolvido. E se tu lhe perdoas as suas ofensas, apenas adicionas à culpa que ele realmente já obteve para si mesmo.

2. Os não curados não podem perdoar. Pois são as testemunhas de que o perdão é injusto. Eles querem reter as conseqüências da culpa que não vêem. Entretanto, ninguém é capaz de perdoar um pecado que acredita ser real. E o que tem conseqüências tem que ser real, pois o que ele fez está lá para ser visto. O perdão não é piedade, já que a piedade apenas busca perdoar aquilo que pensa ser a verdade. O bem não pode ser dado em troca do mal, pois o perdão não estabelece o pecado em primeiro lugar para depois perdoá-lo. Quem pode realmente dizer com real intenção: “Meu irmão, tu me machucaste, no entanto, porque sou o melhor dentre nós dois, eu te perdôo pelo meu ferimento”. O seu perdão e o teu ferimento não podem coexistir. Um nega o outro e não pode deixar de fazer com que o outro seja falso.

3. Testemunhar o pecado e ao mesmo tempo perdoá-lo é um paradoxo que a razão não pode ver. Pois ela afirma que o que foi feito a ti não merece perdão. E ao dares o perdão, concedes misericórdia ao teu irmão, mas reténs a prova de que ele não é realmente inocente. Os doentes permanecem acusadores. Eles não são capazes de perdoar os seus irmãos e a si mesmos também. Pois ninguém em quem repousa o perdão verdadeiro pode sofrer. Ele não mantém a prova do pecado diante dos olhos do seu irmão. Deste modo, ele também não a viu e removeu-a dos seus próprios olhos. O perdão não pode existir para um e não para o outro. Quem perdoa está curado. E na sua cura está a prova de que ele verdadeiramente perdoou e não retém nenhum vestígio de condenação que ainda mantenha contra si mesmo ou qualquer coisa viva.

4. O perdão não é real a não ser que traga cura para ti e para o teu irmão. Tens que atestar que os seus pecados não têm efeito sobre ti para demonstrar que não são reais. De que outra maneira poderia ele estar isento de culpa? E como poderia a sua inocência ser justificada a não ser que os seus pecados não tenham nenhum efeito que autorize a culpa? Pecados estão além do perdão simplesmente porque acarretariam efeitos que não podem ser desfeitos e ignorados inteiramente. Em seu desfazer está a prova de que são meros erros. Permite que tu sejas curado para que possas perdoar, oferecendo a salvação ao teu irmão e a ti mesmo.

5. Um corpo quebrado demonstra que a mente não foi curada. Um milagre de cura prova que a separação está sem efeito. O que queres provar a ele, tu acreditarás. O poder do testemunho vem da tua crença. E todas as coisas que dizes, fazes ou pensas apenas testemunham o que tu lhe ensinas. O teu corpo pode ser um meio de ensinar que o corpo nunca sofreu dor alguma por sua causa. E na cura do corpo podes oferecer um testemunho mudo da sua inocência. É esse testemunho que pode falar com poder maior do que mil línguas. Pois aqui, ele tem a prova do próprio perdão a si mesmo.

6. Um milagre não pode oferecer a ele nada menos do que deu a ti. Assim a tua cura mostra que a tua mente está curada e perdoaste o que ele não fez. E assim ele se convence de que a sua inocência nunca foi perdida e é curado junto contigo. Deste modo, o milagre desfaz todas as coisas que o mundo atesta que nunca podem ser desfeitas. E a desesperança e a morte têm que desaparecer diante do antigo chamado da vida que é feito por clarins. Esse chamado tem um poder muito maior do que o grito fraco e miserável da morte e da culpa. O antigo chamado do Pai no Seu Filho e do Filho ao que é dele, ainda será a última trombeta que o mundo jamais ouvirá. Irmão, a morte não existe. E isso aprendes quando apenas desejas mostrar ao teu irmão que não foste ferido por ele. Ele pensa que o teu sangue está nas suas próprias mãos e assim está condenado. Entretanto, é dado a ti mostrar-lhe, através da tua cura, que a sua culpa não é senão a base de um sonho sem sentido.

7. Como são justos os milagres! Pois eles concedem uma dádiva igual, a plena liberação da culpa, ao teu irmão e a ti. A tua cura salva-o da dor assim como a ti e tu és curado porque desejaste o seu bem. Essa é a lei que o milagre obedece: a cura não vê especialismo algum. Ela não vem da piedade, mas do amor. E o amor quer provar que todo o sofrimento não passa de vã imaginação, um desejo tolo sem efeitos. A tua saúde é o resultado do teu desejo de ver o teu irmão sem qualquer mancha de sangue sobre as suas mãos e sem culpa sobre o seu coração que se faz pesado com a prova do pecado. E o que desejas te é dado ver.

8. O “custo” da tua serenidade é a sua. Esse é o “preço” que o Espírito Santo e o mundo interpretam de maneiras diferentes. O mundo o percebe como uma afirmação do “fato” de que a tua salvação sacrifica a sua. O Espírito Santo sabe que a tua cura é o testemunho da sua e não pode de forma alguma estar à parte da cura do teu irmão. Enquanto ele consentir em sofrer, não será curado. No entanto, podes mostrar-lhe que o seu sofrimento não tem propósito e não tem absolutamente causa nenhuma. Mostra-lhe a tua cura e ele não mais consentirá em sofrer. Pois a sua inocência foi estabelecida diante dos teus olhos e dos seus. E o riso substituirá os teus suspiros, porque o Filho de Deus lembrou-se que ele é Filho de Deus.

9. Quem, então, tem medo da cura? Só aqueles que vêem o sacrifício e a dor do irmão como se representassem a própria serenidade de cada um deles. A impotência e a fraqueza que sentem representam as bases sobre as quais justificam a dor que ele sofre. A constante pontada de culpa que ele sofre serve para provar que ele é escravo, mas que eles são livres. A dor constante que sofrem demonstra que são livres porque o mantêm preso. E a doença é desejada para impedir uma alteração na balança do sacrifício. Como poderia o Espírito Santo deter-se, ainda que por um instante ou menos, para raciocinar em torno de tal argumento a favor da doença? E é necessário que a tua cura seja adiada porque fizeste uma pausa para escutar a insanidade?

10. A correção não é a tua função. Ela pertence Àquele que conhece a justiça e não a culpa. Se tu assumes o papel de corrigir, perdes a função de perdoar. Ninguém pode perdoar até compreender que a correção consiste em apenas perdoar, nunca em acusar. Sozinho não podes ver que são a mesma coisa e, portanto, a correção não vem de ti. A identidade e a função são a mesma coisa, e através da tua função conheces a ti mesmo. E assim, se confundes a tua função com a função de um Outro, não podes deixar de estar confuso com relação a ti mesmo e à tua identidade. O que é a separação senão um desejo de tomar a função de Deus e negar que pertença a Ele? No entanto, se não é a Sua também não é a tua, pois não podes deixar de perder o que tomas de outros.

11. Em uma mente partida, a identidade não pode deixar de parecer dividida. E ninguém pode perceber uma função unificada que tenha propósitos conflitantes e finalidades diferentes. Corrigir, para uma mente tão partida, tem que ser um meio de punir os pecados que pensas serem teus em uma outra pessoa. E assim, ele vem a ser a tua vítima, não o teu irmão, diferente de ti por ser mais culpado, assim necessitando que tu o corrijas por seres mais inocente do que ele. Isso separa a sua função da tua, e dá a ambos um papel diferente. E assim não podem ser percebidos como um só, e com uma única função que significaria uma identidade compartilhada com apenas uma finalidade.

12. A correção que tu farias não pode senão separar, porque essa é a função que lhe é dada por ti. Quando perceberes que a correção é a mesma coisa que o perdão, então também saberás que a mente do Espírito Santo e a tua são uma só. E assim a tua própria identidade é encontrada. Todavia, Ele tem que trabalhar com o que Lhe é dado, e tu Lhe concedes apenas metade da tua mente. Assim sendo, Ele representa a outra metade, e parece ter uma função diferente daquela que aprecias e pensas ser a tua. É assim que a tua função parece dividida, com uma metade em oposição à outra. E essas duas metades parecem representar um corte dentro de um ser que é percebido como se fossem dois.

13. Reflete sobre o fato de que essa percepção do ser não pode deixar de estender-se e não deixes de ver que todo pensamento se estende porque esse é o seu propósito, sendo o que ele é realmente. A partir de uma idéia do ser como se fossem dois, necessariamente vem uma perspectiva de função dividida entre os dois. E o que tu queres corrigir é apenas metade do erro que imaginas ser o erro todo. Os pecados do teu irmão vêm a ser o alvo central da correção, para que os teus erros e os seus não sejam vistos como um só. Os teus são enganos, mas os seus são pecados e não são, portanto, a mesma coisa que os teus. Os seus merecem punição, enquanto os teus, com toda justiça, não deveriam nem sequer ser vistos.

14. Nessa interpretação da correção, os teus próprios equívocos tu nem mesmo verás. O foco da correção foi colocado fora de ti, sobre alguém que não pode ser parte de ti enquanto durar essa percepção. O que é condenado nunca pode retomar ao seu acusador, que o odiou e ainda o odeia como símbolo do seu medo. Isso é o teu irmão, o foco do teu ódio, indigno de ser parte de ti e portanto fora de ti, a outra metade que é negada. Se todo o teu ser é percebido como se fosse só o que existe sem a sua presença. Para essa metade remanescente o Espírito Santo tem que representar a outra metade, até que reconheças que ela é a outra metade. E isso Ele faz dando a ti e a ele uma função que é una, não diferente.

15. A correção é a função dada a ambos, mas a nenhum dos dois sozinho. E quando ela é desempenhada como uma função compartilhada, não pode deixar de corrigir equívocos em ti e também nele. Não pode deixar equívocos em um deles, que fica sem ser curado, e libertar o outro. Isso é um propósito dividido que não pode ser compartilhado e, portanto, não pode ser a meta na qual o Espírito Santo vê a Sua própria. E podes descansar na segurança de que Ele não vai cumprir uma função que não vê e não reconhece como Sua. Pois é só assim que Ele pode preservar a tua intacta, apesar de tu e Ele terem perspectivas diferentes a respeito de qual é a tua função. Se ele apoiasse uma função dividida, estarias, de fato, perdido. A incapacidade do Espírito Santo de ver a Sua meta dividida e distinta para ti e para ele, te preserva da conscientização de uma função que não é a tua. E assim a cura é dada a ti e a ele.

16. A correção tem que ser deixada Àquele Que sabe que a correção e o perdão são a mesma coisa. Com metade de uma mente isso não é compreensível. Deixa, então, a correção para a Mente que está unida, funcionando como uma só, pois não está dividida quanto ao próprio propósito e concebe uma função única como sendo a sua única função. Aqui a função dada a ela é concebida como aquela que lhe pertence e não está à parte da função que o seu Doador ainda mantém precisamente porque foi compartilhada. Na aceitação do Espírito Santo dessa função está o meio através do qual a tua mente é unificada. O Seu propósito único unifica as metades de ti mesmo, que percebes como separadas. E cada uma perdoa a outra, para que cada um possa aceitar sua outra metade como parte de si.


Um Curso Em Milagres




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