segunda-feira, 29 de março de 2010

O retrato da crucificação


1. O desejo de seres tratado injustamente é uma tentativa de tran­sigência que pretende combinar o ataque e a inocência. Quem é capaz de combinar o que é totalmente incompatível e fazer uma unidade do que jamais pode ser unido? Caminha ao longo do caminho da gentileza e não temerás mal nenhum, nem sombra alguma na noite. Mas não coloques símbolos de terror no teu caminho ou tecerás uma coroa de espinhos da qual nem o teu irmão e nem tu escaparão. Não podes crucificar a ti mesmo sozi­nho. E se és tratado injustamente, ele necessariamente sofrerá a injustiça que tu vês. Não podes te sacrificar sozinho. Isso é as­sim porque o sacrifício é total. Se isso pudesse ocorrer, carrega­rias contigo toda a criação de Deus, e o Pai com o sacrifício de Seu Filho amado.

2. Na tua liberação do sacrifício se manifesta a sua e mostra que ele está liberto. Mas toda dor que sofres, vês como prova de que ele é culpado do ataque. Assim, queres fazer de ti mesmo o sinal de que ele perdeu a sua inocência e só precisa olhar para ti para reconhecer que foi condenado. E o que foi injusto para ti, virá a ele em forma de justiça. A vingança injusta da qual agora sofres pertence a ele, e quando ela pousar sobre ele, tu te libertarás. Não desejes fazer de ti mesmo um símbolo vivo da sua culpa, pois não escaparás à morte que fizeste para ele. Mas, na sua inocência achas a tua.

3. Sempre que consentires em sofrer dor, ser destituído, ser injus­tamente tratado ou ter necessidade de alguma coisa que não tens, apenas acusas o teu irmão de estar atacando o Filho de Deus. Seguras um retrato da tua crucificação diante dos seus olhos de tal modo que ele possa ver que os seus pecados estão escritos no Céu, com o teu sangue e a tua morte e vão à frente dele, fechando a porta e condenando-o ao inferno. No entanto, isso está escrito no inferno e não no Céu, onde estás além do ataque e comprovas a sua inocência. O retrato de ti mesmo que ofereces a ele, mos­tras a ti e conferes a esse retrato toda a tua fé. O Espírito Santo te oferece um retrato de ti mesmo para dares a ele no qual não exis­te absolutamente nenhuma dor e nenhuma reprovação. E o que era martirizado pela sua culpa vem a ser a testemunha perfeita da tua inocência.

4. O poder do testemunho vai além da crença porque traz a convição como conseqüência. O testemunho recebe crédito porque aponta para além de si mesmo, para o que ele representa. Tu, doente e sofredor, representa apenas a culpa do teu irmão; o testemunho que envias para que não seja possível ele esquecer os males que te infligiu, dos quais juras que ele nunca escapará. Esse retrato doente e triste tu aceitas, se apenas servir para puni-lo. Os doentes não têm misericórdia para com ninguém e buscam matar por contágio. A morte lhes parece um preço fácil a ser pago, se eles puderem dizer: “Contempla-me, irmão, em tuas mãos eu morro.” Pois a doença é o testemunho da sua culpa e a morte quer provar que os seus erros não podem deixar de ser pecados. A doença não é senão uma “pequena” morte, uma for­ma de vingança que ainda não é total. No entanto, ela fala com certeza por aquilo que representa. O retrato amargo e desolado que enviaste ao teu irmão, tu contemplaste com amargura. E tudo o que ele mostrou ao teu irmão tu acreditaste, porque teste­munhou a culpa nele que percebeste e amaste.

5. Agora, nas mãos que se fizeram gentis pelo Seu toque, Ele co­loca um retrato diferente de ti. É ainda o retrato de um corpo, pois o que realmente és não pode ser visto nem retratado. Entre­tanto, esse não foi usado com o propósito de atacar e, portanto, nunca sofreu nenhuma dor. Ele testemunha a verdade eterna de que não podes ser ferido e aponta para além de ti mesmo, para a tua inocência e a sua. Mostra isso ao teu irmão, que verá que todas as cicatrizes estão curadas e todas as lágrimas foram enxu­gadas com riso e com amor. E lá ele olhará para o seu próprio perdão e com olhos curados olhará além do perdão para a ino­cência que ele contempla em ti. Aqui está a prova de que ele nunca pecou, de que nada do que a sua loucura pediu que ele fizesse jamais foi feito nem jamais teve efeitos de qualquer espé­cie. Aqui está a prova de que nenhuma reprovação que ele tenha posto em seu próprio coração jamais foi justificada e nenhum ataque jamais pode atingi-lo com a seta envenenada e incansável do medo.

6. Testemunha a sua inocência e não a sua culpa. A tua cura é o seu conforto e a sua saúde porque prova que as ilusões não são verdadeiras. Não é a vontade de viver, mas o desejo da morte que é a motivação desse mundo. Seu único propósito é provar que a culpa é real. Nenhum pensamento, ato ou sentimento mundanos têm outra motivação que não seja essa. Essas são as testemunhas que são chamadas a receber crédito e emprestar convição ao sistema pelo qual falam e representam. E cada uma tem muitas vozes, falando ao teu irmão e a ti em línguas diferentes. E no entanto, a mensagem é a mesma para ambos. Os adornos do corpo buscam mostrar como são belas as testemunhas da culpa. As preocupações em torno do corpo demonstram como é frágil e vulnerável a tua vida, como é facilmente destruído aquilo que amas. A depressão fala da morte e a vaidade da preocupação real com o nada.

7. A mais forte testemunha da futilidade, que apaga todas as outras e as ajuda a pintar o retrato no qual o pecado é justificado, é a doença, qualquer que seja a sua forma. Os doentes têm razão para cada um de seus desejos não-naturais e suas estranhas necessidades. Pois quem seria capaz de viver uma vida que é tão cedo cortada e não apreciar o valor das alegrias passageiras? Que prazeres poderiam existir que fossem duradouros? Não têm os frágeis o direito de acreditar que cada migalha roubada de prazer é o pagamento justo pelas suas pequenas vidas? A sua morte irá pagar o preço de todos os prazeres, usufruam eles desses benefícios ou não. O fim da vida necessariamente vem, não importa de que modo se gaste essa vida. E assim, tira prazer daquilo que rapidamente passa e é efêmero.

8. Esses não são pecados, mas testemunhas da estranha crença segundo a qual o pecado e a morte são reais, e a inocência e o pecado terminarão assim como eles no fim que é o túmulo. Se isso fosse verdadeiro, haveria razão para ficares contente buscando alegrias passageiras e apreciando pequenos prazeres enquanto podes. Entretanto, nesse retrato, o corpo não é percebido como neutro e sem uma meta inerente a si mesmo. Pois ele vem a ser o símbolo da reprovação, o sinal da culpa cujas conseqüências ainda estão presentes para serem vistas de forma que a causa nunca possa ser negada.

9. A tua função é mostrar ao teu irmão que o pecado não pode ter nenhuma causa. Como deve ser fútil ver a ti mesmo como um retrato da prova de que o que é a tua função nunca pode ser! O retrato do Espírito Santo não muda o corpo fazendo com que ele seja algo que não é. Ele apenas retira do corpo todos os sinais de acusação e de culpabilidade. Retratado como algo sem propósito, ele não é visto nem como doente nem saudável, nem bom nem mau. Não se oferece bases para que ele seja julgado de forma alguma. Ele não tem vida, mas também não está morto. Situa-se à parte de toda a experiência de amor e de medo. Por enquanto, ele ainda nada testemunha, estando o seu propósito em aberto e a mente mais uma vez livre para escolher para que ele serve. Agora, ele não está condenado, mas aguarda que um propósito lhe seja dado para que possa cumprir a função que irá receber.

10. Nesse espaço vazio, do qual foi removida a meta do pecado, o Céu está livre para ser lembrado. Aqui, a paz celestial pode vir e a cura perfeita pode tomar o lugar da morte. O corpo pode vir a ser um sinal de vida, uma promessa de redenção e um sopro de imortalidade para aqueles que ficaram doentes por respirar o odor fétido da morte. Permite que ele tenha a cura como seu propósito. Então, ele enviará adiante a mensagem que recebeu e através de sua saúde e beleza, proclamará a verdade e o valor que representa. Permite que ele receba o poder de representar uma vida sem fim, para sempre inatacada. E para o teu irmão, permite que a mensagem do corpo seja: “Contempla-me, irmão, em tuas mãos eu vivo”.

11. O modo simples para deixar que isso seja realizado é apenas esse: não permitir que o corpo tenha nenhum propósito vindo do passado, quando tinhas certeza de saber que o seu propósito era estimular a culpa. Pois isso afirma com insistência que o teu retrato aleijado seja um sinal duradouro daquilo que ele representa. Isso não deixa espaço no qual uma perspectiva diferente, um outro propósito do corpo. Não sabes qual é o propósito do corpo. Tu apenas deste ilusões de propósito a uma coisa que fizeste com o intuito de esconder a tua função de ti mesmo. Essa coisa sem um propósito não pode ocultar a função que o Espírito Santo te deu. Permite, então, que o propósito do corpo e a tua função sejam ambos afinal reconciliados e vistos como um só.

Um Curso Em Milagres

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