segunda-feira, 29 de março de 2010

A. O PRIMEIRO OBSTÁCULO: O DESEJO DE FICAR LIVRE DA PAZ


1. O primeiro obstáculo através do qual a paz tem que fluir é o teu desejo de ficar livre dela. Pois ela não pode se estender a não ser que tu a conserves. És o centro a partir do qual ela se irradia para fora, para chamar os outros para dentro. És a sua casa, a sua morada tranqüila a partir da qual ela alcança gentilmente o exterior, mas sem jamais te deixar. Se queres deixá-la sem lar, como poderia ela habitar dentro do Filho de Deus? Se ela quer se espalhar por toda a criação, tem que começar contigo e a partir de ti atingir todo aquele que chama e levar-lhe o descanso através da união contigo.

2. Por que irias querer que a paz ficasse sem lar? O que pensas que ela tem que deixar de ter para habitar contigo? Qual parece ser o preço que não estás disposto a pagar? A pequena barreira de areia ainda se ergue entre tu e o teu irmão. Tu a queres reforçar agora? Não te é pedido que a abandones só para ti mesmo. Cristo te pede isso para Ele Mesmo. Ele quer trazer a paz a todas as pessoas e como pode Ele fazê-lo exceto através de ti? Permitirias que um pequeno muro de areia, uma parede de pó, uma diminuta barreira aparente ficasse entre os teus irmãos e a salvação? E no entanto, esse pequeno resquício de ataque que ainda valorizas contra o teu irmão é o primeiro obstáculo que a paz em ti encontra no seu caminho. Essa pequena parede de ódio ainda quer se opor à Vontade de Deus e mantê-la limitada.

3. O propósito do Espírito Santo descansa em paz dentro de ti. No entanto, ainda não estás disposto a deixar que ele se una a ti totalmente. Ainda te opões à Vontade de Deus, apenas um pouco. E esse pouco é um limite que queres impor ao todo. A Vontade de Deus é uma, não muitas. Não há oposição a ela, pois não há nenhuma outra além dela. Aquilo que ainda queres guardar por trás da tua pequena barreira e manter separado do teu irmão parece mais poderoso do que o universo, pois quer deter o universo e o seu Criador. Essa pequena parede quer esconder o propósito do Céu e mantê-lo fora do Céu.

4. Empurrarias a salvação para longe daquele que dá a salvação? Pois foi isso o que vieste a ser. A paz não poderia se afastar de ti assim como não poderia se afastar de Deus. Não tenhas medo desse pequeno obstáculo. Ele não pode conter a Vontade de Deus. A paz fluirá através dele e unir-se-á a ti sem impedimentos. A salvação não pode ser mantida longe de ti. Ela é o teu propósito. Não podes escolher à parte disso. Não tens nenhum propósito à parte do teu irmão nem à parte daquele que pediste ao Espírito Santo para compartilhar contigo. A pequena parede cairá quietamente sob as asas da paz. Pois a paz enviará os seus mensageiros a partir de ti a todo o mundo e as barreiras cairão diante da sua vinda com tanta facilidade quanto serão superadas aquelas que tu interpuseste.

5. Vencer o mundo não é mais difícil do que superar a tua pequena parede. Pois no milagre do teu relacionamento santo, sem essa barreira, todos os milagres estão contidos. Não há ordem de dificuldades em milagres, pois todos são o mesmo. Cada um é uma gentil vitória sobre o apelo da culpa pelo apelo do amor. Como é possível que isso deixe de ser realizado aonde quer que seja empreendido? A culpa não pode erguer barreiras reais contra isso. E tudo o que parece estar entre tu e o teu irmão tem que cair devido ao chamado ao qual tu respondeste. A partir de ti que respondeste, Aquele Que te respondeu quer chamar. A Sua casa é o teu relacionamento santo. Não tentes ficar entre Ele e o Seu propósito santo, pois esse propósito é o teu. Em vez disso, permite que Ele estenda em quietude o milagre do teu relacionamento a todas as pessoas nele envolvidas assim como ele foi dado.

6. Há um silêncio no Céu, uma feliz expectativa, uma pequena pausa de contentamento pelo reconhecimento do final da jornada. Pois o Céu te conhece bem, como tu conheces o Céu. Não existem ilusões entre tu e o teu irmão agora. Não olhes para a pequena parede de sombras. O sol ergueu-se acima dela. Como pode uma sombra manter-te afastado do sol? Do mesmo modo, as sombras não podem mais manter-te afastado da luz em que terminam as ilusões. Todo milagre não é senão o fim de uma ilusão. Tal foi a jornada, tal o seu fim. E na meta da verdade que tu aceitaste todas as ilusões têm que terminar.

7. O pequeno desejo insano de ficar livre Daquele Que convidaste a entrar empurrando-O para fora, não pode deixar de produzir conflito. Na medida em que olhas para o mundo, esse pequeno desejo sem raízes e flutuando sem destino, pode aterrissar e pousar brevemente em qualquer coisa, pois agora não tem mais propósito algum. Antes que o Espírito Santo entrasse para habitar contigo, ele parecia ter um propósito grandioso: a fixa e imutável dedicação ao pecado e aos seus resultados. Agora, ele não tem nenhum objetivo, vaga sem rumo, sem causar nada mais além de interrupções diminutas no apelo do amor.

8. Esse desejo, com o peso de uma pluma, essa ilusão diminuta, esse resquício microscópico da crença no pecado, é tudo o que resta do que antes parecia ser o mundo. Já não é mais uma barreira inexorável para a paz. Seu vagar sem destino faz com que seus resultados pareçam ser ainda mais erráticos e imprevisíveis do que antes. No entanto, o que poderia ser mais instável do que um sistema delusório organizado rigidamente? Sua aparente estabilidade é a fraqueza que o perpassa, que se estende a todas as coisas. A variação a que o pequeno resquício induz meramente indica seus resultados limitados.

9. Quão poderosa pode ser uma pequena pluma diante das grandes asas da verdade? Pode ela opor-se ao vôo de uma águia ou impedir o avanço do verão? Pode ela interferir com os efeitos do sol de verão sobre um jardim coberto de neve? Vê com que facilidade esse pequeno vestígio é erguido e carregado para longe, para nunca mais voltar e despede-te dele com contentamento, não com pesar. Pois ele, em si mesmo, não é nada e nada representava quando tinhas uma fé maior na sua proteção. Não preferes saudar com boas-vindas o sol de verão, ao invés de fixar o teu olhar no floco de neve que desaparece e tremer na lembrança do frio do inverno?

i. A atração da culpa

10. A atração da culpa produz medo do amor, pois o amor jamais olharia para a culpa de modo algum. É da natureza do amor só olhar para a verdade, pois vê a si mesmo nela, com a qual quer unir-se em união santa e completeza. Assim como o amor tem que olhar para o que vem depois do medo, o medo também não pode ver o amor. Pois o amor contém o fim da culpa, com tanta certeza quanto o medo depende dela. O amor só é atraído pelo amor. Não vendo a culpa de forma alguma, não vê medo algum. Sendo totalmente incapaz de ataque, não poderia ter medo. O medo é atraído para aquilo que o amor não vê e cada um deles acredita que o objeto do olhar do outro não existe. O medo olha para a culpa exatamente com a mesma devoção com que o amor olha para si mesmo. E cada um tem mensageiros que são enviados, os quais retornam com mensagens escritas na linguagem em que foi pedido o seu envio.

11. Os mensageiros do amor são gentilmente enviados e retornam com mensagens de amor e gentileza. Os mensageiros do medo são brutalmente despachados para buscar culpa e valorizar toda migalha de mal e de pecado que possam achar, sem perder nenhuma sob pena de morte, colocando-as respeitosamente diante de seu senhor e patrão. A percepção não pode servir a dois senhores, cada um solicitando mensagens de coisas diferentes em linguagens diferentes. Aquilo de que o medo se alimentaria, o amor não vê. Aquilo que o medo exige, o amor não é sequer capaz de ver. A violenta atração que a culpa tem pelo medo está totalmente ausente da gentil percepção do amor. Aquilo que o amor quer contemplar é sem significado para o medo e completamente invisível.

12. Os relacionamentos nesse mundo são o resultado de como é visto o mundo. E isso depende de que emoção foi chamada a enviar os seus mensageiros para contemplá-lo e retornar com a notícia do que viram. Os mensageiros do medo são treinados através do terror e tremem quando o seu patrão os chama para servi-lo. Pois o medo não tem misericórdia nem mesmo para com os seus amigos. Seus culpados mensageiros saem às escondidas em busca sedenta de culpa, pois são mantidos no frio e famintos e seu patrão, que só lhes permite festejar em cima do que devolvem a ele, faz com que sejam cruéis. Nenhum pequeno farrapo de culpa escapa de seus olhos famintos. E, em sua selvagem busca do pecado, lançam-se sobre qualquer coisa viva que vêem e carregam-na aos gritos a seu patrão para ser devorada.

13. Não envies ao mundo esses selvagens mensageiros para se banquetearem com ele e pilharem a realidade. Pois eles te trarão notícias de ossos, pele e carne. Foram ensinados a buscar o que é corruptível e a retornar com as gargantas cheias de coisas decadentes e apodrecidas. Para eles, essas coisas são belas, porque parecem aplacar seus selvagens acessos de fome. Pois eles são frenéticos com a dor do medo e querem evitar a punição daquele que os envia oferecendo-lhe aquilo que valorizam.

14. O Espírito Santo te deu os mensageiros do amor para enviar no lugar daqueles que treinaste através do medo. Eles estão tão ansiosos para te devolver o que valorizam quanto estão os outros. Se os envias, só verão o que é irrepreensível e belo, gentil e benigno. Eles terão o mesmo cuidado para não deixar escapar à sua atenção o menor ato de caridade, a mais diminuta expressão de perdão, o mais leve sopro de amor. E retornarão com todas as coisas felizes que acharem, para compartilhá-las amorosamente contigo. Não tenhas medo deles. Eles te oferecem a salvação. As suas mensagens são de segurança, pois vêem o mundo como algo benigno.

15. Se tu somente enviares os mensageiros que o Espírito Santo te dá, não querendo outras mensagens senão as suas, não mais verás o medo. O mundo será transformado diante da tua vista, limpo de toda a culpa e suavemente escovado com beleza. O mundo não contém nenhum medo que tu não tenhas colocado sobre ele. E nenhum que possas continuar vendo depois de pedir aos mensageiros do amor para removê-lo. O Espírito Santo te deu os Seus mensageiros para que os envies ao teu irmão e para que retornem a ti com aquilo que o amor vê. Eles foram dados com o fim de substituir os famintos cães do medo que enviaste em seu lugar. E prosseguem para dar significado ao fim do medo.

16. O amor também quer depositar um banquete diante de ti, com uma mesa coberta por uma toalha sem mancha, posta em um jardim tranqüilo, onde som nenhum jamais é ouvido, exceto o cantar e um sussurrar suave e alegre. Esse é um banquete que honra o teu relacionamento santo, no qual todas as pessoas são bem-vindas como hóspedes de honra. E num instante santo todos dão graças em conjunto, na medida em que se unem em gentileza diante da mesa da comunhão. E lá eu me unirei a ti, conforme prometi há muito tempo e ainda prometo. Pois em teu novo relacionamento eu sou bem-vindo. E onde eu sou bem-vindo, lá estou.

17. Eu sou bem-vindo no estado de graça, o que significa que afinal me perdoaste. Pois tornei-me o símbolo do teu pecado e assim eu tive que morrer em teu lugar. Para o ego, o pecado significa a morte e assim a expiação é alcançada através do assassinato. A salvação é contemplada como um meio pelo qual o Filho de Deus foi morto em teu lugar. No entanto, ofereceria eu meu corpo a ti, a quem eu amo, conhecendo a sua pequenez? Ou ensinaria que corpos não podem nos manter separados? O meu não tinha mais valor do que o teu, nem era um meio melhor para a comunicação da salvação, e também não era sua Fonte. Ninguém pode morrer por outra pessoa e a morte não expia o pecado. Mas podes viver para mostrar que ele não é real. O corpo, de fato, parece ser o símbolo do pecado enquanto acreditas que ele pode te conseguir o que queres. Enquanto acreditas que ele pode te dar prazer, também acreditarás que pode te trazer dor. Pensar que és capaz de ficar satisfeito e feliz com tão pouco é ferir a ti mesmo e limitar a felicidade que queres ter convoca a dor para que ela encha a tua pobre dispensa e faça com que a tua vida seja completa. Essa é a completeza conforme o ego a vê. Pois a culpa se insidia onde a felicidade foi removida e a substitui. A comunhão é um outro tipo de completeza que vai além da culpa porque vai além do corpo.


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