segunda-feira, 12 de abril de 2010

Além do corpo


1. Não há nada fora de ti. Isso é o que tens que aprender em última instância, pois é o reconhecimento de que o Reino do Céu foi restaurado para ti. Pois Deus criou apenas isso e não foi em­bora nem te deixou separado de Si Mesmo. O Reino do Céu é a morada do Filho de Deus, que não deixou o seu Pai e nem habita à parte Dele. O Céu não é um lugar nem uma condição. É meramente uma consciência da perfeita unicidade e o conhecimento de que nada além disso existe, nada fora dessa unicidade e nada mais dentro dela.

2. O que poderia Deus dar além do conhecimento de Si Mesmo? O que mais existe para ser dado? A crença em que poderias dar ou ganhar qualquer outra coisa, alguma coisa fora de ti, custou-te a consciência do Céu e da tua Identidade. E fizeste uma coisa ainda mais estranha do que reconheces no momento. Deslocaste a tua culpa da tua mente para o teu corpo. No entanto, um corpo não pode ser culpado, pois nada pode fazer por si mesmo. Tu, que pensas que odeias o teu corpo, enganas a ti mesmo. Odeias a tua mente, pois a culpa a penetrou e ela quer permanecer separada da mente do teu irmão, o que não pode fazer.

3. As mentes estão unidas, os corpos não. Só atribuindo à mente as propriedades do corpo é que a separação parece ser possível. E é a mente que parece ser algo privado, estar fragmentada e sozinha. A culpa, que a mantém separada, é projetada para o corpo, que sofre e morre porque é atacado para manter a separação na mente e não permitir que ela conheça a sua Identidade. A mente não pode atacar, mas pode fabricar fantasias e dirigir o corpo para encená-las. No entanto, o que parece satisfazer nunca é o que o corpo faz. A não ser que a mente acredite que o corpo, de fato, esteja encenando as suas fantasias, ela atacará o corpo aumentando a projeção da sua culpa sobre ele.

4. Nisso, a mente é claramente delusória. Ela não pode atacar, mas insiste em que pode e usa o que faz para ferir o corpo e provar que pode. A mente não pode atacar, mas pode enganar a Si mesma. E isso é tudo o que faz quando acredita que atacou o corpo. Ela pode projetar a própria culpa, mas não a perderá através da projeção. E embora esteja claro que pode interpretar equi­vocadamente a função do corpo, não pode mudar a função que o Espírito Santo estabelece para ele. O corpo não foi feito pelo amor. No entanto, o amor não o condena e é capaz de usa-lo amorosamente, respeitando o que o Filho de Deus fez e usando-o para salvá-lo das ilusões.

5. Não gostarias de ter os instrumentos para a separação re-inter­pretados em meios para a salvação e usados com os propósitos do amor? Não receberias com boas-vindas e não darias o teu apoio para fazer das fantasias de vingança uma liberação em relação a elas? A tua percepção do corpo pode ser claramente doente, mas não projetes isso sobre o corpo. Pois o teu desejo de tornar destru­tivo o que não podes destruir não pode ter qualquer efeito real. O que Deus criou é apenas o que Ele quer que seja, sendo a Sua Vontade. Não podes fazer com que a Sua Vontade seja destrutiva. Podes fabricar fantasias nas quais a tua vontade entra em conflito com a Sua, mas isso é tudo.

6. É insano usar o corpo como o bode expiatório da culpa, diri­gindo os seus ataques e acusando-o pelo que desejaste que ele fizesse. É impossível encenar fantasias. Pois ainda são as fanta­sias que tu queres e elas nada têm a ver com o que o corpo faz. Ele não sonha com elas e elas apenas fazem dele um débito quando poderia ser um crédito. Pois as fantasias fizeram do teu corpo teu inimigo: fraco, vulnerável, traiçoeiro, merecedor do ódio que investes nele. Como isso te serviu? Tu te identificaste com essa coisa que odeias, o instrumento da vingança e a fonte que percebes para a tua culpa. Isso tu fizeste com uma coisa que não tem significado, proclamando-a a morada do Filho de Deus e voltando-a contra ele.

7. Esse é o anfitrião de Deus que tu fizeste. E nem Deus e nem o Seu santíssimo Filho podem entrar em uma habitação que abriga o ódio e onde semeaste as sementes da vingança, da violência e da morte. Essa coisa que fizeste para servir à tua culpa interpõe­-se entre ti e outras mentes. As mentes estão unidas, mas não te identificas com elas. Tu te vês trancado em uma cela separada, retirado e inacessível, incapaz de alcançar o exterior assim como de ser alcançado. Odeias essa prisão que fizeste e queres destruí-la. Mas não queres escapar deixando-a ilesa, sem a tua culpa sobre ela.

8. No entanto, e só assim que podes escapar. O lar da vingança não é o teu, o lugar que separaste para abrigar o teu ódio não é uma prisão, mas uma ilusão de ti mesmo. O corpo é um limite imposto à comunicação universal que é uma propriedade eterna da mente. Mas a comunicação é interna. A mente alcança a si mesma. Ela não é feita de partes diferentes que alcançam umas às outras. Ela não sai para o lado de fora. Dentro de si mesma não tem limites e nada há fora dela. Ela abrange todas as coisas. Abrange inteiramente a ti, tu dentro dela e ela dentro de ti. Não há nenhuma outra coisa, em lugar nenhum ou tempo algum.

9. O corpo está fora de ti e apenas parece cercar-te, fechando-te para os outros e mantendo-te à parte deles e eles à parte de ti. Ele não existe. Não existe nenhuma barreira entre Deus e o Seu Filho e nem pode o Filho estar separado de Si mesmo, exceto em ilusões. Essa não é a sua realidade, embora ele acredite que seja. No entanto, só poderia ser assim no caso de Deus estar errado. Deus teria tido que criar de forma diferente e teria que ter separado a Si Mesmo de Seu Filho para fazer com que isso fosse possível. Ele teria tido que criar coisas diferentes e estabelecer ordens de reali­dade diferentes, somente algumas das quais seriam amor. Entretanto, o amor tem que ser para sempre igual a si mesmo, imutável para sempre e para sempre sem alternativa. E assim ele é. Não podes colocar uma barreira em torno de ti porque Deus não colocou nenhuma entre Ele e ti.

10. Podes estender a tua mão e alcançar o Céu. Tu, cuja mão está unida à mão de teu irmão, começaste a alcançar o que está além do corpo, mas não fora de ti, para alcançar a vossa Identidade que é compartilhada. Poderia Isso estar fora de ti? Onde Deus não está? Seria Ele um corpo e teria Ele criado a ti como Ele não é e onde Ele não pode estar? Estás cercado apenas por Ele. Que limites podem existir em ti, a quem Ele abrange?

11. Todos já experimentaram o que poderia ser descrito como uma sensação de estar sendo transportado além de si mesmo. Esse sentimento de libertação em muito excede o sonho de liberdade algumas vezes esperado nos relacionamentos especiais. E uma sensação de ter, de fato, escapado das limitações. Se considerares o que esse “transporte” realmente envolve, reconhecerás que é uma súbita ausência de consciência do corpo e uma união de ti mesmo com alguma outra coisa na qual a tua mente cresce para abrangê-la. Ela vem a ser parte de ti na medida em que te unes a ela. E ambos vêm a ser íntegros, já que nenhum dos dois é perce­bido como separado. O que realmente acontece é que renuncias­te à ilusão de uma consciência limitada e perdeste o teu medo da união. O amor que instantaneamente o substitui se estende àquilo que te libertou e une-se a ele. E enquanto isso dura, não estás incerto da tua Identidade e não queres limitá-la. Escapaste do medo para a paz, sem fazer perguntas à realidade, mas mera­mente aceitando-a. Aceitaste isso ao invés do corpo e te deixaste ser uno com alguma coisa além dele, simplesmente por não per­mitires que a tua mente seja limitada por ele.

12. Isso pode ocorrer independentemente da distância física que parece existir entre tu e aquilo a que te unes, das suas respectivas posições no espaço e das suas diferenças em tamanho e aparente qualidade. O tempo não é relevante, isso pode ocorrer com algo passado, presente ou antecipado. Essa “alguma coisa” pode ser qualquer coisa e em qualquer lugar: um som, uma vista, um pen­samento, uma memória e até mesmo uma idéia geral sem referência específica. Entretanto, em cada caso, tu te unes a ela sem reservas porque a amas e queres estar com ela. E assim corres ao seu encontro, deixando que os teus limites se dissolvam, suspendendo todas as “leis” a que o teu corpo obedece e gentilmente deixando-as de lado.

13. Não existe absolutamente nenhuma violência nesta libertação. O corpo não é atacado, mas simplesmente percebido de maneira adequada. Ele não te limita meramente porque não queres que ele o faça. Não és realmente “elevado além” dele, ele não pode conter-te. Vais aonde queres estar, ganhando e não perdendo o senso do Ser. Nestes instantes de liberação das restrições físicas, experimentas muito do que acontece no instante santo: a suspen­são das barreiras do tempo e do espaço, a experiência repentina da paz e da alegria e acima de tudo, a falta de consciência do corpo e do questionamento acerca da possibilidade ou impossibi­lidade de tudo isso.

14. É possível porque tu o queres. A repentina expansão da cons­ciência que tem lugar com o teu desejo por isso é o apelo irresistível que o instante santo contém. Ele te chama para ser quem és, em seu abraço seguro. Lá as leis dos limites são suspensas para ti, para te dar as boas-vindas na abertura da mente e na liberdade. Vem a esse lugar de refúgio, onde podes ser quem és em paz. Não através da destruição, nem através do rompimento, mas me­ramente através de uma serena fusão. Pois lá a paz irá unir-se a ti, meramente porque estás disposto a abrir mão dos limites que im­puseste ao amor e unir-te a ele no lugar onde ele está e aonde ele te conduziu, em resposta ao gentil chamado que ele te fez para estares em paz.

Um Curso Em Milagres

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