domingo, 13 de fevereiro de 2011

A memória presente


1. O milagre nada faz. Tudo o que ele faz é desfazer. E assim anula a interferência naquilo que foi feito. Ele não acrescenta, apenas retira. E o que retira já se foi há muito, mas tendo sido guardado na memória, parece ter efeitos imediatos. Esse mundo acabou há muito tempo. Os pensamentos que o fizeram já não estão mais na mente que os pensou e os amou por um breve período de tempo. O milagre apenas mostra que o passado se foi e o que se foi verdadeiramente não tem efeitos. A lembrança de uma causa só pode produzir ilusões da sua presença, não efeitos.

2. Todos os efeitos da culpa já não estão mais aqui. Pois a culpa terminou. Com a sua passagem, foram-se também as suas conse­qüências, deixadas sem uma causa. Por que irias prender-te a ela na memória se não desejasses os seus efeitos? O lembrar é tão seletivo quanto a percepção, sendo o tempo passado da percep­ção. É a percepção do passado como se ele estivesse ocorrendo agora e ainda estivesse presente para ser visto. A memória, como a percepção, é uma habilidade inventada por ti para tomar o lu­gar do que Deus te deu na tua criação. E, como todas as coisas que fizeste, pode ser usada para servir a outro propósito e para ser um meio para alguma outra coisa. Ela pode ser usada para curar e não para ferir, se desejares que assim seja.

3. Nada do que é empregado para curar representa um esforço para fazer qualquer coisa que seja. É um reconhecimento de que não tens quaisquer necessidades que signifiquem que alguma coi­sa tenha que ser feita. É uma memória não-seletiva, que não é usada para interferir com a verdade. Todas as coisas que o Espíri­to Santo pode empregar para curar foram dadas a Ele, sem o con­teúdo e os propósitos para os quais foram feitas. Elas são apenas habilidades sem uma aplicação. Elas aguardam para serem usa­das. Elas não são dedicadas à coisa alguma e não têm nenhum objetivo.

4. O Espírito Santo, de fato, pode fazer uso da memória, pois o próprio Deus está lá. Entretanto, essa não é uma memória de eventos passados, mas apenas de um estado presente. Estás ha­bituada há tanto tempo a acreditar que a memória guarda apenas o que é passado, que é difícil para ti compreender que ela é uma habilidade capaz de lembrar o agora. As limitações que o mundo impõe à lembrança são tão grandes quanto aquelas que permitis­te que o mundo te impusesse. Não existe nenhum elo da memó­ria com o passado. Se quiseres que haja, então há. Mas apenas o teu desejo fez o elo, e só tu a prendeste a uma parte do tempo onde a culpa ainda parece pairar.

5. O uso que o Espírito Santo faz da memória está bem à parte do tempo. Ele não busca usá-la como um meio de reter o passado, mas ao invés disso, como um modo de permitir que ele se vá. A memória guarda a mensagem que recebe e faz o que lhe é dado fazer. Ela não escreve a mensagem, nem aponta para quê serve. Como o corpo, ela não tem qualquer propósito em si mesma. E se parece servir para cultivar o ódio antigo e fazer para ti retratos das cenas de injustiças e ferimentos que estavas guardando, essa foi a mensagem que lhe pediste e assim ela é. Comprometida com as cavernas da memória, a história de todo o passado do corpo lá se esconde. Todas as estranhas associações feitas para manter o passado vivo, o presente morto, estão armazenadas den­tro dela, esperando pela tua ordem para que te sejam trazidas e revividas. E assim os seus efeitos parecem ser aumentados pelo tempo, que levou consigo o que as causou.

6. No entanto, o tempo não é senão uma outra fase do que nada faz. Ele trabalha de mãos dadas com todos os outros atributos com os quais buscas manter oculta a verdade acerca de ti mesmo. O tempo não leva nada embora, nem é capaz de restaurar. E, no entanto, fazes um estranho uso dele, como se o passado tivesse causado o presente, que não é senão uma conseqüência na qual não se pode fazer mudança alguma, posto que a sua causa se foi. Entretanto, a mudança tem que ter uma causa que dure, ou ela não permanecerá. Nenhuma mudança pode ser feita no presente se a sua causa é o passado. Tal como usas a memória, nela tu só manténs o passado e assim ela constitui uma maneira de manter o passado contra o agora.

7. Não te lembres de nada do que ensinaste a ti mesmo, pois foste mal ensinado. E quem manteria uma lição sem sentido em sua mente, quando pode aprender e preservar outra melhor? Quan­do as antigas memórias de ódio aparecem, lembra-te de que a sua causa se foi. E assim não podes compreender para que servem. Não permitas que a causa que queres dar a elas agora seja aquilo que fez com que fossem o que eram ou pareciam ser. Fica con­tente porque ela se foi, pois é disso que terias que ser perdoado. E vê, no seu lugar, os novos efeitos de uma, causa aceita agora, com conseqüências aqui. Elas te surpreenderão com sua beleza. As novas idéias antigas que trazem consigo serão as felizes con­seqüências de uma Causa tão antiga que em muito excede o al­cance da memória que a tua percepção pode ver.

8. Essa é a Causa que o Espírito Santo tem lembrado para ti quan­do queres esquecer. Ela não é uma causa passada porque Ele não permite que Ela deixe de ser lembrada. Ela nunca mudou, por­que nunca houve um tempo em que Ele não A mantivesse a salvo em tua mente. Suas conseqüências, de fato, parecerão novas por­que pensavas que não te lembravas da Causa. No entanto, Ela nunca deixou de estar na tua mente, pois não foi a Vontade do teu Pai que Ele não fosse lembrado pelo Seu Filho.

9. Aquilo de que tu te lembras nunca foi. Veio da ausência de causalidade, que confundiste com uma causa. Quando aprendes que te lembraste de conseqüências que não tiveram causa e ja­mais poderiam ter efeitos não podes deixar de rir. O milagre te recorda uma Causa para sempre presente, perfeitamente intoca­da pelo tempo e por qualquer interferência. Essa causa jamais foi alterada em relação ao que Ela é. E tu és o Seu efeito, tão imutá­vel e perfeito quanto Ela. A memória dessa Causa não está no passado nem aguarda o futuro. Não é revelada nos milagres. Elas apenas te lembram que Ela não se foi. Quando tu A per­doares pelos teus pecados, Ela não será mais negada.

10. Tu, que tens buscado fazer um julgamento a respeito do teu próprio Criador, não és capaz de compreender que não foi Ele quem julgou o Seu Filho. Queres negar-Lhe os Seus Efeitos, no entanto, Eles nunca foram negados. Nunca houve um tempo no qual Seu Filho pudesse ser condenado pelo que carece de causa e é contra a Sua Vontade. O que a tua lembrança quer testemunhar é apenas o medo de Deus. Ele não fez o que temes. Nem tu o fizeste. E assim a tua inocência não foi perdida. Não necessitas de cura para ser curado. Em quietude, vê no milagre uma lição em permitir que a Causa tenha os Seus Efeitos Próprios e em não fazer qualquer coisa que possa interferir.

11. O milagre vem em quietude à mente que pára um instante e fica quieta. A partir daquele tempo passado em quietude e da mente que ela então curou em silêncio, o milagre alcança gentil­mente outras mentes para compartilhar sua quietude. E elas unir­-se-ão em nada fazer para impedir a radiante extensão deste mila­gre de volta à Mente Que deu origem a todas as mentes. Como o milagre nasceu de um ato de compartilhar, não pode haver pausa no tempo que cause o adiamento do milagre em sua ida apressada para todas as mentes inquietas, trazendo-lhes um instante de sere­nidade, quando a memória de Deus retorna a elas. O que que­riam lembrar está em quietude agora, e o que veio para tomar o seu lugar não será depois completamente esquecido.

12. Ele, a Quem o tempo é dado, agradece por cada instante de quietude que Lhe é dado. Pois nesse instante se permite à me­mória de Deus oferecer todos os seus tesouros ao Filho de Deus, para quem foram guardados. Como Ele os oferece alegremente àquele a quem eram destinados quando Lhe foram dados! E o Seu Criador compartilha os seus agradecimentos porque Ele não quer ficar privado dos seus Efeitos. O silêncio de um instante que o seu Filho aceite, dá boas-vindas à eternidade e a Ele e permite que Eles entrem onde querem habitar. Pois nesse instante o Filho de Deus nada faz que o amedronte.

13. Como surge instantaneamente a memória de Deus na mente que não tem nenhum medo que a mantenha afastada! Sua pró­pria lembrança se foi. Não há nenhum passado para manter sua imagem amedrontadora impedindo o alegre despertar para a paz presente. As trombetas da eternidade ressoam através da sereni­dade, entretanto, não a perturbam. E o que é lembrado agora não é o medo, mas a Causa e o medo foi feito para não deixar que Ela fosse lembrada e para desfazê-La. A serenidade fala em sons gentis do amor que o Filho de Deus recorda de um tempo ante­rior, antes que a sua própria lembrança se interpusesse entre o presente e o passado tomando-os inaudíveis.

14. Agora, o Filho de Deus está afinal ciente da Causa presente e de seus Efeitos benignos. Agora ele compreende que o que fez não tem causa, não tendo quaisquer efeitos. Ele nada fez. E ao ver isso compreende que nunca teve necessidade de fazer coisa algu­ma e nunca fez. A sua Causa é os seus Efeitos. Nunca houve uma outra causa além Dessa que pudesse gerar um passado ou um futuro diferentes. Os Seus Efeitos são imutavelmente eternos, além do medo e inteiramente além do mundo do pecado.

15. O que foi perdido quando se deixa de ver o que não tem cau­sa? E onde está o sacrifício quando a memória de Deus veio para tomar o lugar da perda? Que melhor maneira de fechar a peque­na brecha entre as ilusões e a realidade senão permitir que a me­mória de Deus flua através dela, fazendo com que venha a ser uma ponte que se atravessa em apenas um minuto para alcançar o que está além? Pois Deus a fechou com Ele Mesmo. A Sua memória não foi embora deixando um Filho para sempre perdi­do em uma das margens de onde ele vislumbra a outra que nun­ca pode atingir. Seu Pai quer que ele seja erguido e gentilmente carregado até lá. Ele construiu a ponte e será Ele Quem irá trans­portar seu Filho através dela. Não tenhas medo que Ele possa falhar no que é a Sua Vontade. Nem tenhas medo de ser excluído da Vontade que existe para ti.

Um Curso Em Milagres

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