terça-feira, 7 de setembro de 2010

Auto-conceito versus Ser


1. O que se aprende desse mundo é construído em cima de um auto-conceito que é ajustado à realidade do mundo. Ele cabe bem nele. Pois essa é uma imagem apropriada a um mundo de som­bras e de ilusões. Aqui ela caminha em casa, onde o que vê é uno com ela. O aprendizado do mundo serve para construir um auto­conceito. Esse é o seu propósito: que venhas sem um autoconcei­to e o faças à medida em que segues adiante.E na- época em que atingires a “maturidade”, tu o terás aperfeiçoado para enfrentar o mundo em termos iguais, em unidade com as suas exigências.

2. Um autoconceito é feito por ti. Ele não tem absolutamente qualquer semelhança contigo. É um ídolo feito para tomar o lu­gar da tua realidade como Filho de Deus. O auto-conceito que o mundo quer ensinar não é o que aparenta ser. Pois ele é feito para servir a dois propósitos, apenas um dos quais a mente é capaz de reconhecer. O primeiro apresenta a face da inocência, o aspecto que é encenado. É essa face que sorri e cativa, e até mes­mo parece amar. Ela busca companheiros e às vezes olha com pena para os que sofrem e às vezes oferece alívio. Acredita que é boa dentro de um mundo mau.

3. Esse aspecto pode ter raiva, pois o mundo é ruim e não é capaz de prover o amor e o abrigo que a inocência merece. E assim, freqüentemente, essa face se banha de lágrimas pelas injustiças que o mundo faz para com aqueles que querem ser generosos e bons. Esse aspecto nunca ataca em primeiro lugar. Mas a cada dia, uma centena de pequenas coisas constituem pequenos ata­ques à sua inocência, provocando-a à irritação e, afinal, aberta­mente ao insulto e ao abuso.

4. A face da inocência que o auto-conceito veste com tanto orgu­lho pode tolerar o ataque em autodefesa, pois não é fato bem conhecido que o mundo trata com dureza a inocência indefesa? Ninguém que faça um retrato de si mesmo omite essa face, pois tem necessidade dela. O outro lado, ele não quer ver. Entretan­to, é aqui que o aprendizado do mundo fixou seus olhares, pois é aqui que a “realidade” do mundo é estabelecida para garantir que o ídolo perdure.

5. Por baixo da face da inocência há uma lição que o autoconcei­to tem como finalidade ensinar. É uma lição sobre um desloca­mento terrível e um medo tão devastador que a face que sorri na superfície tem que olhar para longe disso para sempre, para não perceber a traição que ela oculta. Isso é o que a lição ensina: “Eu sou essa coisa que fizeste de mim e olhando para mim tu és con­denado devido ao que eu sou.” A esse auto-conceito o mundo sorri com aprovação, pois ele garante que os caminhos do mundo sejam mantidos a salvo e aqueles que caminham por eles não escaparão.

6. Aqui está a lição central que garante que o teu irmão está eter­namente condenado. Pois agora o que és passa a ser o seu peca­do. Para isso não há perdão possível. Já não mais importa o que ele faz, pois o teu dedo acusador aponta para ele sem vacilar e é mortal em seu objetivo. Ele aponta para ti também, mas isso é mantido no que ainda é mais profundo, na névoa abaixo da face da inocência. E nesses túmulos amortalhados todos os seus peca­dos e os teus são preservados e mantidos na escuridão aonde não podem ser percebidos como erros, o que a luz seguramente mos­traria. Tu não podes ser acusado pelo que és, tampouco podes mudar as coisas que ele te faz fazer. O teu irmão, portanto, é o símbolo dos teus pecados para ti, e tu silenciosamente mas ainda assim com urgência incessante, ainda condenas o teu irmão pela coisa odiosa que tu és.

7. Conceitos são aprendidos. Eles não são naturais. À parte do aprendizado, não existem. Eles não são dados, portanto, têm que ser feitos. Nenhum deles é verdadeiro e muitos vêm de imagina­ções febris, quentes de ódio e de distorções nascidas do medo. O que é um conceito senão um pensamento para o qual aquele que o faz dá um significado que lhe é próprio? Conceitos mantêm o mundo. Mas não podem ser usados para demonstrar que o mun­do é real. Pois todos são feitos dentro do mundo, nascidos na sua sombra, crescendo pelos seus caminhos e finalmente “amadure­cidos” em seu pensamento. Eles são idéias de ídolos, pintados com os pincéis do mundo que não podem fazer nem um único retrato que represente a verdade.

8. Um auto-conceito não tem significado, pois ninguém aqui pode ver para que serve e portanto não é capaz de retratar o que ele é. Mesmo assim, todo o aprendizado que o mundo dirige começou e terminou com o simples objetivo de ensinar-te esse conceito de ti mesmo para que escolhas seguir as leis desse mundo e nunca bus­ques ir além das suas estradas nem compreender o modo como vês a ti mesmo. Agora, o Espírito Santo tem que achar um modo para ajudar-te a ver que esse auto-conceito tem que ser desfeito, se é que queres que alguma paz seja dada à tua mente. Tampouco pode ele ser desaprendido, a não ser através de lições que tenham o objetivo de te ensinar que és uma outra coisa. Pois de outro modo, te seria pedido que trocasses aquilo em que agora acreditas pela perda total do ser e terror ainda maior surgiria em ti.

9. Assim, o plano de lições do Espírito Santo é organizado em passos fáceis nos quais, embora algumas vezes possa haver um certo desconforto e alguma aflição, não há uma quebra do que foi aprendido, apenas uma re-tradução do que parece ser a evidên­cia a favor disso. Vamos considerar, então, que prova existe de que és o que o teu irmão fez de ti. Pois mesmo que ainda não percebas que é isso o que pensas, com certeza a essa altura já aprendeste que te comportas como se fosse assim. Por acaso ele reage por ti? E ele sabe exatamente o que iria acontecer? Ele é capaz de ver o teu futuro e ordenar, antes que ele venha, o que deverias fazer em cada circunstância? Ele tem que ter feito o mundo assim como a ti para poder ter toda essa ciência prévia das coisas que virão.

10. Que sejas o que o teu irmão fez de ti parece muito improvável. Mesmo que ele tivesse feito isso, quem te deu a face da inocência? É essa a tua contribuição? Quem é, então, o “tu” que a fez? E quem é enganado por toda a tua bondade e a ataca tanto? Vamos esquecer a tolice do conceito e meramente pensar nisso: existem duas partes no que pensas que és. Se uma foi gerada pelo teu irmão, quem estava lá para fazer a outra? E de quem é preciso esconder alguma coisa? Se o mundo é mau, ainda assim não há necessidade de esconder de que tu és feito. Quem está lá para ver? E o que necessitaria de defesa, a não ser o que é atacado?

11. Talvez a razão pela qual esse conceito tenha que ser mantido na escuridão seja o fato de que, na luz, aquele que não pensaria que ele é verdadeiro seria tu. E o que aconteceria com o mundo que vês, se todos as suas construções básicas fossem removidas? O teu conceito do mundo depende desse auto-conceito. E am­bos desapareceriam, se qualquer um deles fosse posto em dúvi­da. O Espírito Santo não busca empurrar-te ao pânico. Portanto, Ele meramente pergunta se poderia levantar apenas uma peque­na questão.

12. Há alternativas para essa coisa que não podes deixar de ser. Poderias, por exemplo, ser a coisa que escolheste que o teu ir­mão fosse. Isso desloca o auto-conceito de algo que é totalmente passivo e pelo menos abre caminho para uma escolha ativa e para algum reconhecimento de que alguma interação tem que ter entrado nisso. Existe alguma compreensão de que escolheste por ambos, e o que ele representa tem um significado que foi dado por ti. Isso mostra também um vislumbre da lei da percepção, segundo a qual o que vês reflete o estado da mente de quem percebe. Contudo, quem foi que fez a escolha em primeiro lu­gar? Se és aquilo que escolheste que o teu irmão fosse, existiram alternativas entre as quais escolher e alguém tem que ter decidi­do em primeiro lugar qual delas escolher e qual abandonar.

13. Embora esse passo ofereça ganhos, ainda não levanta uma questão básica. Alguma coisa tem que ter se passado antes desses auto-conceitos. E alguma coisa tem que ter feito o aprendizado que os fez surgir. Tampouco isso pode ser explicado por nenhu­ma das duas perspectivas. A principal vantagem do deslocamen­to da primeira para a segunda é que de algum modo entraste nessa escolha pela tua decisão. Mas esse ganho é pago com uma perda quase igual, pois agora és acusado da culpa pelo que o teu irmão é. E tens que compartilhar a sua culpa, porque a escolheste para ele à imagem da tua. Enquanto antes somente ele era trai­dor, agora tens que ser condenado junto com ele.

14. O auto-conceito sempre foi a grande preocupação do mundo. E todos acreditam que têm que achar uma resposta para o enig­ma por si mesmos. A salvação pode ser vista como nada além do escapar de conceitos. Ela não se preocupa com o conteúdo da mente, mas com a simples declaração de que ela pensa. E o que pode pensar, ela pode escolher e pode ser mostrado a ela que diferentes pensamentos têm conseqüências diferentes. Assim, é capaz de aprender que tudo o que pensa reflete a profunda con­fusão que sente a respeito de como foi feita e do que é. E vaga­mente o auto-conceito parece responder àquilo que ela não sabe.

15. Não busques o teu Ser em símbolos. Não pode existir nenhum conceito para representar o que tu és. Que importa qual o con­ceito que aceitas, enquanto percebes um ser que interage com o mal e reage à coisas perversas? O teu conceito de ti mesmo ainda permanecerá sem significado. E não perceberás que não podes interagir senão contigo mesmo. Ver um mundo culpado não é senão o sinal de que o teu aprendizado foi guiado pelo mundo e tu olhas para ele assim como vês a ti mesmo. O auto-conceito engloba tudo aquilo que contemplas e nada está fora dessa percepção. Se podes ser ferido por qualquer coisa, vês um retrato dos teus desejos secretos. Nada mais do que isso. E, em qual­quer espécie de sofrimento que possas ter, vês o teu próprio desejo escondido de matar.

16. Tu farás muitos auto-conceitos à medida em que o aprendiza­do vai avançando. Cada um mostrará as mudanças nos teus pró­prios relacionamentos, conforme a tua percepção de ti mesmo é mudada. Haverá uma certa confusão cada vez que houver um deslocamento, mas que sejas grato pelo fato de que o aprendiza­do do mundo está afrouxando o controle que tem sobre a tua mente. E tenhas certeza e sejas feliz na confiança de que ele afinal desaparecerá e deixará a tua mente em paz; o papel do acu­sador aparecerá em muitos lugares e sob muitas formas. E cada uma parecerá estar acusando a ti. Entretanto, não tenhas medo de que ele não seja desfeito.

17. O mundo não é capaz de ensinar nenhuma imagem de ti, a não ser que tu queiras aprendê-las. Um tempo virá em que todas as imagens terão desaparecido e verás que não sabes o que és. É para essa mente aberta e sem lacres que a verdade retorna, sem impedimentos e sem limites. Ali, onde os auto-conceitos foram postos de lado, a verdade é revelada exatamente como é. Quan­do todos os conceitos tiverem sido erguidos à dúvida e ao ques­tionamento e quando tiverem sido reconhecidos como tendo sido feitos com base em hipóteses que não podem fazer face à luz, então, a verdade está livre para entrar no seu santuário, limpa e livre de culpa. Não há declaração que o mundo tenha mais medo de ouvir do que essa:

Eu não sei o que sou e, portanto, não sei o que estou fazendo, onde estou ou como olhar para o mundo ou para mim mesmo.
Entretanto, é aprendendo isso que nasce a salvação. E O Que tu és te falará de Si Mesmo.

Um Curso Em Milagres

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