domingo, 4 de outubro de 2009

O pecado como ajustamento


1. A crença no pecado é um ajustamento. E um ajustamento é uma mudança, uma alteração da percepção ou uma crença segundo a qual o que antes era de um modo, agora foi feito diferente. Todo ajustamento é, portanto, uma distorção e apela para defesas que a mantenham contra a realidade. O conhecimento não requer ajustamentos e, de fato, se perde caso alguma alteração ou mudança seja empreendida. Pois isso o reduz imediatamente a uma mera percepção, a uma forma de olhar na qual se perde a certeza e a dúvida penetra. Nessa condição defeituosa os ajustamentos são necessários, porque ela não é verdadeira. Quem precisa se ajustar à verdade, que só exige de cada um o que ele é para ser compreendida?

2. Os ajustamentos de qualquer espécie são do ego. Pois o ego acredita fixamente que todos os relacionamentos dependem de ajustamentos que fazem deles o que ele quer que sejam. Relacionamentos diretos, nos quais não há interferência, são sempre vistos como perigosos. O ego é o mediador auto-indicado de todos os relacionamentos, fazendo quaisquer ajustamentos que considerar necessários e interpondo-os entre aqueles que querem se encontrar para mantê-los separados e impedir sua união. É essa interferência estudada que faz com que seja difícil para ti reconhecer o teu relacionamento santo pelo que ele é.

3. Os santos não interferem com a verdade. Eles não a temem, pois é na verdade que reconhecem a sua santidade e se alegram com o que vêem. Eles olham para ela diretamente, sem tentar ajustarem-se a ela ou ela a eles. E assim vêem que ela estava neles, sem ter decidido primeiro aonde queriam que ela estivesse. O olhar dos santos simplesmente coloca uma pergunta e é o que vêem que lhes reponde. Tu fizeste o mundo e depois te ajustaste a ele e ele a ti. E nem existe nenhuma diferença entre tu e ele em tua percepção, que fez a ambos.

4. Uma questão simples, entretanto, ainda permanece e necessitada de uma resposta. Gostas do que fizeste? Um mundo de assassinato e ataque, através do qual teces o teu caminho tímido através de perigos constantes, solitário e assustado, esperando que no máximo a morte se demore um pouquinho mais para levar-te e desaparecerás. Tu inventaste isso. É um quadro do que pensas que és; de como vês a ti mesmo. Um assassino é assustado e aqueles que matam têm medo da morte. Tudo isso são apenas os pensamentos amedrontadores daqueles que querem se ajustar a um mundo feito amedrontador pelos seus ajustamentos. E olham para fora com pesar, a partir do que é triste por dentro e lá vêem a tristeza.

5. Não imaginaste alguma vez como é o mundo realmente ou como ele se apresentaria através de olhos felizes? O mundo que vês é apenas um julgamento sobre ti mesmo. Ele absolutamente não existe. No entanto, o julgamento deposita sobre ele uma sentença, o justifica e faz com que ele seja real. Tal é o mundo que vês; um julgamento sobre ti mesmo e feito por ti. Esse retrato doentio de ti mesmo é cuidadosamente preservado pelo ego, é a sua imagem e ele a ama, colocando-a fora de ti no mundo. E a esse mundo tu tens que te ajustar enquanto acreditares que esse retrato está do lado de fora e estás à sua mercê. Esse mundo é sem misericórdia e se estivesse fora de ti, de fato, deverias estar amedrontado. No entanto, foste tu que o fizeste sem misericórdia e, agora, se a ausência de misericórdia parece olhar de volta para ti, ela pode ser corrigida.

6. Quem em um relacionamento santo pode permanecer não-santo por muito tempo? O mundo que os santos vêem é uno com eles, do mesmo modo que o mundo que o ego contempla é como ele. O mundo que os santos vêem é belo porque vêem a própria inocência no mundo. Eles não disseram ao mundo o que ele era; não fizeram ajustamentos para adequá-lo às suas ordens. Eles gentilmente o questionaram e sussurraram: ‘O que és tu?’ E Ele, Que zela por toda a percepção, respondeu. Não tomes o julgamento do mundo como resposta à pergunta: ‘Quem sou eu?’ O mundo acredita no pecado, mas a crença que o fez como tu o vês não está fora de ti.

7. Não busques fazer com que o Filho de Deus se ajuste à sua própria insanidade. Há um estranho nele, que vagando descuida­damente entrou na casa da verdade, e vagando ir-se-á. Ele veio sem um propósito; mas não permanecerá diante da luz resplande­cente que o Espírito Santo ofereceu e que tu aceitaste. Pois lá o estranho fica desabrigado e tu és bem-vindo. Não perguntes a esse estranho transeunte: ‘Quem sou eu?’ Ele é a única coisa em todo o universo que não sabe. No entanto, é a ele que perguntas e é à sua resposta que queres te ajustar. Esse único pensamento selvagem, feroz em sua arrogância e ao mesmo tempo tão diminu­to. e tão sem significado que passa despercebido pelo universo da verdade, vem a ser o teu guia. Tu te voltas para ele para pergun­tar o significado do universo. E à única coisa cega em todo o universo vidente da verdade, perguntas: ‘Como devo eu olhar para o Filho de Deus?’

8. Por acaso alguém pede um julgamento a algo que é totalmente desprovido de julgamento? E se fizeste isso, queres acreditar na resposta e ajustar-te a ela como se fosse a verdade? O mundo para o qual olhas é a resposta que ele te deu e tu lhe deste o poder de ajustar o mundo de forma a fazer com que a sua resposta seja verdadeira. Pediste a esse sopro de loucura o significado do teu relacionamento não-santo e o ajustaste de acordo com a sua resposta insana. Quanto isso vos fez felizes? Tu te encon­traste com teu irmão com alegria para abençoar o Filho de Deus e dar-lhe graças por toda a felicidade que ele vos entregou? Reconhecestes o vosso irmão como a dádiva eterna de Deus para con­vosco? Vistes a santidade que brilhou tanto em ti quanto em teu irmão para que um abençoasse o outro? Esse é o propósito do vosso relacionamento santo. Não peças os meios de atingi-lo à única coisa que ainda quer que ele não seja santo. Não dês a ela nenhum poder para ajustar os meios e o fim.

9. Prisioneiros amarrados a pesadas correntes por anos, famintos e abatidos, fracos e exaustos e com os olhos baixos há tanto tem­po na escuridão que não se lembram da luz, não pulam de alegria no instante em que são libertados. Leva tempo para que com­preendam o que é a liberdade. Tu andaste tateando debilmente na poeira e achaste a mão do teu irmão, incerto quanto a deixá-la ou a assumir o controle da vida, por tanto tempo esquecida. For­talece o teu controle e ergue os olhos para o teu forte companhei­ro, no qual está o significado da tua liberdade. Ele parecia estar crucificado a teu lado. E, no entanto, a sua santidade permanece intocada e perfeita; e com ele a teu lado, entrarás hoje mesmo com ele no Paraíso e conhecerás a paz de Deus.

10. Tal é a minha vontade para ti e para o teu irmão e para cada um em relação ao outro e para si mesmo. Aqui só há santidade e união sem limites. Pois o que é o Céu senão união, direta e perfeita e sem o véu do medo sobre ela? Aqui somos um, olhando com perfeita gentileza um para o outro e para nós mesmos. Aqui todos os pensamentos de qualquer separação entre nós vêm a ser impossíveis. Tu, que eras um prisioneiro na separação, és agora libertado no paraíso. E aqui eu quero me unir a ti, meu amigo, meu irmão e meu Ser.

11. A tua dádiva para o teu irmão deu-me a certeza de que a nossa união será breve. Compartilha, então, dessa fé comigo e sabe que ela é justificada. Não existe medo no amor perfeito porque ele não conhece nenhum pecado e tem que olhar para os outros como para si mesmo. Olhando com a caridade interior o que pode ele temer do exterior? Os inocentes vêem a segurança e os puros de coração vêem a Deus dentro de Seu Filho e olham para o Filho de modo que Ele os conduza ao Pai. E a que outro lugar iriam senão aonde querem estar? Tu e teu irmão agora conduzirão um ao outro ao Pai, com a mesma certeza com que Deus criou santo o Seu Filho e assim o manteve. No teu irmão, está a luz da eterna promessa de Deus da tua imortalidade. Que tu o vejas sem peca­do e não poderá haver medo em ti.

Um Curso Em Milagres


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