sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Pecado versus erro


1. É essencial que o erro não seja confundido com o pecado e é essa distinção que faz com que a salvação seja possível. Pois o erro pode ser corrigido e o errado acertado. Mas o pecado, se fosse possível, seria irreversível. A crença no pecado não pode deixar de estar baseada na firme convição de que as mentes, não os corpos, podem atacar. E dessa forma a mente é culpada e para sempre assim permanecerá, a não ser que uma outra mente que não faça parte dela possa lhe dar absolvição. O pecado pede punição assim como o erro pede correção, e acreditar que punição é correção é claramente insano.

2. O pecado não é um erro, pois o pecado implica em uma arrogância que falta à idéia de erro. Pecar seria violar a realidade e ter sucesso. O pecado é a proclamação de que o ataque é real e a culpa justificada. Ele assume que o Filho de Deus é culpado, tendo assim tido sucesso na perda da sua inocência e fazendo de si mesmo algo que Deus não criou. Assim a criação é vista como se não fosse eterna e a Vontade de Deus fica aberta à oposição e à derrota. O pecado é a grande ilusão subjacente à toda grandiosidade do ego. Pois através dele o próprio Deus é mudado e refeito como um ser incompleto.

3. O Filho de Deus pode estar equivocado, pode enganar-se, pode até mesmo voltar o poder de sua mente contra si mesmo. Mas pecar ele não pode. Não há nada que ele seja capaz de fazer que possa realmente mudar a sua realidade de forma alguma, nem fazer com que ele seja realmente culpado. Isso é o que o pecado quer fazer, pois tal é o seu propósito. No entanto, apesar de toda a selvagem insanidade inerente a toda a idéia de pecado, ele é impossível. Pois o salário do pecado é a morte e como pode o imortal morrer?

4. Um dos principais dogmas na insana religião do ego é que o pecado não é um erro mas a verdade e é a inocência que pretende enganar. A pureza é vista como arrogância e a aceitação do ser como pecaminoso é percebida como santidade. E é essa doutrina que substitui a realidade do Filho de Deus tal como seu Pai o criou e tal como a Sua Vontade determinou que ele fosse para sempre. Isso é humildade? Ou, ao contrário, é uma tentativa de arrancar a criação da verdade e mantê-la separada?

5. Qualquer tentativa de re-interpretar o pecado como um erro é sempre indefensável para o ego. A idéia de pecado é totalmente sacrossanta para o seu sistema de pensamento e não se pode abordá-la senão com reverência e temor. É o conceito mais “santo” do sistema do ego: belo e poderoso, totalmente verdadeiro e necessariamente protegido com todas as formas de defesa ao seu dispor. Pois aqui está a sua “melhor” defesa, à qual todas as outras servem. Aqui está a sua armadura, a sua proteção e o propósito fundamental do relacionamento especial na interpretação do ego.

6. Pode, de fato, dizer que o ego construiu o seu mundo sobre o pecado. Só em tal mundo poderiam todas as coisas estar de cabeça para baixo. Essa é a estranha ilusão que faz com que as nuvens da culpa pareçam pesadas e impenetráveis. Nisso se acha a solidez que os fundamentos desse mundo parecem ter. Pois o pecado fez com que a criação mudasse de uma Idéia de Deus para um ideal que o ego quer, um mundo que ele governa, feito de corpos sem mentes e capazes de completa corrupção e decadência. Se isso é um equívoco, pode ser facilmente desfeito através da verdade. Qualquer equívoco pode ser corrigido, se for permitido que a verdade o julgue. Mas se ao equívoco é dado o “status” de verdade, a que se pode levá-la? A “santidade” do pecado é mantida em seu lugar exatamente por meio desse estranho dispositivo. Como a verdade, ele é inviolável e todas as coisas são levadas a ele para serem julgadas. Como um equívoco, ele tem que ser levado à verdade. É impossível ter fé no pecado, pois o pecado é a ausência de fé. Entretanto, é possível ter fé na possibilidade de se corrigir um equívoco.

7. Não há nenhuma pedra, em toda a cidadela armada do ego, que seja mais zelosamente defendida do que a idéia de que o pecado é real, a expressão natural do que o Filho de Deus fez de si mesmo e do que ele é. Para o ego, isso não é nenhum equívoco. Pois essa é a sua realidade, essa é a “verdade” da qual sempre será impossível escapar. Esse é o seu passado, o seu presente e o seu futuro. Pois ele conseguiu, de alguma maneira, corromper o seu Pai e mudar por completo a Sua Mente. Lamente, então, a morte de Deus, a Quem o pecado matou! E esse seria o desejo do ego, que ele em sua loucura acredita ter realizado.

8. Não preferes que tudo isso não passe de um equívoco, inteiramente corrigível e do qual é tão fácil escapar que toda a sua correção é como caminhar através de uma névoa para o sol? Pois isso é tudo o que ele é. Talvez sejas tentado a concordar com o ego no sentido de achar que é muito melhor ser pecador do que estar equivocado. Mas pensa com cuidado antes de te permitires tomar essa decisão. Não a abordes levianamente, pois é a decisão entre o inferno ou o Céu.



Um Curso Em Milagres




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