terça-feira, 6 de julho de 2010

D. O QUARTO OBSTÁCULO: O MEDO DE DEUS


1. O que verias sem o medo da morte? O que sentirias e pensarias se a morte não retivesse nenhuma atração para ti? Muito simplesmente te lembrarias do teu Pai. O Criador da vida, a Fonte de tudo que vive, o Pai do universo e do universo dos universos e de todas as coisas que estão até mesmo além; de tudo isso tu te lembrarias. E à medida que essa memória surge em tua mente, a paz tem ainda que superar um obstáculo final, após o qual se completa a salvação e o Filho de Deus é restaurado inteiramente à sanidade. Pois aqui o teu mundo, de fato, acaba.

2. O quarto obstáculo a ser superado cai como um véu pesado diante da face de Cristo. Entretanto, à medida que a Sua face se ergue além do véu, brilhando com alegria porque Ele está no amor de Seu Pai, a paz afastará suavemente o véu e correrá para encontrá-Lo e para afinal unir-se a Ele. Pois esse véu escuro que parece tornar a face do próprio Cristo semelhante à de um leproso e fazer os Raios brilhantes do Amor do Seu Pai, que iluminam com glória a Sua face aparentarem ser rios de sangue, desaparece na luz intensa que está além dele quando o medo da morte se vai.

3. Esse é o mais escuro dos véus, mantido pela crença na morte e protegido por sua atração. A dedicação à morte e à sua soberania é apenas o voto solene, a promessa feita em segredo ao ego de nunca erguer esse véu, nunca se aproximar dele, nem nunca suspeitar que esteja ali. Essa é a barganha secreta feita com o ego para manter aquilo que se encontra além do véu para sempre apagado e sem ser lembrado. Aí está a tua promessa de nunca permitir que a união te chame para fora da separação, a grande amnésia na qual a memória de Deus parece absolutamente esquecida, a fenda entre o teu Ser e teu medo de Deus, o passo final na tua dissociação.

4. Vê como a crença na morte aparentemente iria “salvar-te”. Pois se isso desaparecesse, de que outra coisa poderias ter medo senão da vida? É a atração da morte que faz a vida parecer feia, cruel e tirânica. Não sentes mais medo da morte do que do ego. Esses são os teus amigos escolhidos. Pois em tua aliança secreta com eles, concordaste em nunca deixar que o medo de Deus fosse descoberto de forma que pudesses contemplar a face de Cristo e unir-te a Ele em Seu Pai.
5. Todo obstáculo através do qual a paz tem que fluir é superado exatamente do mesmo modo, o medo que o provocou cede ao amor que está além e assim o medo desaparece. E o mesmo se dá com esse. O desejo de ficar livre da paz e expulsar o Espírito Santo de ti se apaga na presença do quieto reconhecimento de que tu O amas. A exaltação do corpo é abandonada em favor do espírito, que amas como jamais poderias amar o corpo. E o apelo da morte é perdido para sempre à medida que a atração do amor desperta e chama por ti. De um ponto além de cada um dos obstáculos ao amor, o próprio Amor te chamou. E cada um deles foi superado pelo poder da atração daquilo que está além. O fato de quereres o medo parecia estar mantendo-os em seus lugares. No entanto, quando ouviste a Voz do Amor além deles, tu respondeste e eles desapareceram.

6. E agora estás aterrorizado diante daquilo que juraste nunca olhar. Baixas os olhos, lembrando da tua promessa aos teus "amigos". A “beleza” do pecado, o delicado apelo da culpa, a “santa” imagem de cera da morte e o medo da vingança do ego que juraste com sangue não desertar, tudo isso vem à tona e ordena que não ergas os teus olhos. Pois reconheces que se olhares para isso e permitires que o véu seja erguido eles desaparecerão para sempre. Todos os teus “amigos”, os teus “protetores” e o teu “lar” se desvanecerão. Nada do que lembras agora, tu te lembrarás.

7. Parece-te que o mundo te abandonará completamente se apenas ergueres os teus olhos. No entanto, tudo o que vai ocorrer é que deixarás o mundo para sempre. Esse é o restabelecimento da tua vontade. Olha para isso de olhos abertos e nunca mais acreditarás que estás à mercê de coisas além de ti, de forças que não podes controlar e de pensamentos que vêm a ti contra a tua vontade. É a tua vontade olhar para isso. Nenhum desejo louco, nenhum impulso trivial para esqueceres novamente, nenhuma punhalada de medo e nem o suor frio da morte aparente podem se colocar contra a tua vontade. Pois o que te atrai além do véu está também profundamente dentro de ti, é inseparável da tua vontade e completamente uno.

i. Erguendo o véu

8. Não te esqueças de que vós viestes até aqui juntos, tu e teu irmão. E com certeza não foi o ego que vos conduziu até aqui. Nenhum obstáculo à paz pode ser superado através do seu auxílio. Ele não revela os seus segredos e não pede que olheis para eles para ir além. Não quer que vejais as suas fraquezas e que aprendais que ele não tem nenhum poder para vos manter afastados da verdade. O guia Que vos trouxe aqui permanece convosco e quando erguerdes os vossos olhos, estareis prontos para olhar para o terror sem medo algum. Mas antes disso, ergue os teus olhos e olha para o teu irmão com a inocência que nasce do completo perdão das tuas ilusões através dos olhos da fé que não as vê.

9. Ninguém é capaz de olhar para o medo que tem de Deus sem ficar aterrorizado a não ser que tenha aceitado a Expiação e aprendido que as ilusões não são reais. Ninguém pode ficar diante desse obstáculo sozinho, pois não poderia ir muito longe a não ser que seu irmão caminhe a seu lado. E ninguém ousaria encará-lo sem o perdão completo do seu irmão em seu próprio coração. Fica aqui um momento e não tremas. Estarás pronto. Vamos nos unir em um instante santo, aqui nesse lugar aonde o propósito, dado em um instante santo, te conduziu. E vamos nos unir na fé de que Aquele Que nos trouxe aqui juntos te oferecerá a inocência de que precisas e tu aceitarás por amor a mim e a Ele.

10. E nem é possível olhares para isso cedo demais. Esse é o lugar para onde cada um tem que vir quando estiver pronto. Quando tiver achado o seu irmão, está pronto. No entanto, apenas alcançar esse lugar não é o suficiente. Uma jornada sem um propósito é ainda sem significado e mesmo quando ela estiver terminada parecerá não fazer nenhum sentido. Como podes saber se ela terminou a não ser que reconheças que o seu propósito foi realizado? Aqui, com o fim da jornada diante de ti, vês esse propósito. E é aqui que escolhes se olhas para ele ou se continuas vagando, apenas para retornares e escolheres outra vez.

11. Olhar para o medo de Deus exige, de fato, certa preparação. Só os sãos podem olhar a total insanidade e a loucura delirante com piedade e compaixão, mas não com medo. Pois só quando o compartilham é que ele parece amedrontador e tu o compartilhas até que olhes para o teu irmão com perfeita fé, amor e ternura. Antes do perdão completo, tu ainda permaneces sem perdoar. Temes a Deus porque tens medo do teu irmão. Aqueles a quem não perdoas, tu temes. E ninguém alcança o amor com o medo a seu lado.

12. Esse irmão, que se encontra a teu lado, ainda te parece ser um estranho. Não o conheces e a interpretação que fazes dele é muito amedrontadora. E ainda o atacas, para manter o que parece ser o teu ser sem danos. No entanto, nas suas mãos está a tua salvação. Vês a sua loucura, que odeias porque a compartilhas. E toda a piedade e o perdão que a curariam dão lugar ao medo. Irmão, precisas do perdão do teu irmão, pois tu e ele compartilharão ou a loucura ou o Céu juntos. E erguereis os vossos olhos na fé juntos ou absolutamente não o fareis.

13. Ao teu lado está alguém que te oferece o cálice da Expiação, pois o Espírito Santo está nele. Queres manter os seus pecados contra ele ou aceitar a sua dádiva para ti? Esse doador da salvação é teu amigo ou teu inimigo? Escolhe o que ele é, lembrando-te de que vais receber dele de acordo com a tua escolha. Ele tem em si o poder de perdoar o teu pecado, assim como tu o dele. Nenhum dos dois pode dar a si mesmo esse perdão sozinho. E, no entanto, o salvador encontra-se ao lado de cada um. Permite que ele seja o que é e não busques fazer do amor um inimigo.

14. Contempla o teu Amigo, o Cristo Que se encontra a teu lado. Como Ele é santo e como é belo! Pensaste que Ele havia pecado porque jogaste o véu do pecado sobre Ele para esconder a Sua beleza. Entretanto, Ele ainda te oferece o perdão para que compartilhes a Sua santidade. Esse “inimigo”, esse “estranho”, ainda te oferece a salvação como Seu Amigo. Os “inimigos” de Cristo, os adoradores do pecado, não sabem a Quem atacam.

15. Esse é o teu irmão, crucificado pelo pecado e esperando pela liberação da dor. Não queres oferecer-lhe o perdão, quando somente ele pode oferecê-lo a ti? Pela sua redenção, ele te dará a tua, com tanta certeza quanto Deus criou cada coisa viva e a ama. E ele a dará verdadeiramente, pois será ao mesmo tempo oferecida e recebida. Não há nenhuma graça no Céu que tu não possas oferecer ao teu irmão e receber do teu santíssimo Amigo. Não permitas que ele a recuse, pois ao recebê-la, tu a ofereces a ele. E ele receberá de ti o que tu recebeste dele. A redenção te foi dada para ser dada ao teu irmão e, assim, ser recebida. Aquele a quem tu perdoas é livre e aquilo que dás, tu compartilhas. Perdoa os pecados que o teu irmão pensa que cometeu e toda a culpa que pensas ver nele.

16. Aqui é o lugar santo da ressurreição, ao qual nós viemos mais uma vez, ao qual voltaremos até que a redenção seja realizada e recebida. Pensa em quem é o teu irmão antes de querer condená-lo. E oferece graças a Deus por ser ele santo e por ter sido dada a ele a dádiva da santidade para ti. Une-te a ele com contentamento e remove todo vestígio de culpa da sua mente perturbada e torturada. Ajuda-o a erguer a pesada carga de pecado que colocaste sobre ele e que ele aceitou como própria, e joga-a levemente para longe dele com um riso feliz. Não a pressiones contra a sua fronte como se fossem espinhos, nem o pregues a ela sem redenção e sem esperança.

17. Dá fé ao teu irmão, pois a fé e a esperança e a misericórdia são tuas para serem dadas. A dádiva é dada às mãos que dão. Olha para o teu irmão e vê nele a dádiva de Deus que queres receber. É quase Páscoa, o tempo da ressurreição. Vamos dar a redenção um ao outro e compartilhá-la, de tal modo que possamos nos erguer como um só na ressurreição, não separados na morte. Contempla a dádiva de liberdade que eu dei ao Espírito Santo para ti. E sede livres juntos, tu e teu irmão, à medida que ofereceis ao Espírito Santo essa mesma dádiva. E dando-a, recebe-a Dele em retorno pelo que deste. Ele conduziu a ti e a mim juntos, de forma que pudéssemos nos encontrar aqui nesse lugar santo e tomar a mesma decisão.

18. Liberta o teu irmão aqui como eu te libertei. Dá-lhe a mesma dádiva e não olhes para ele com qualquer espécie de condenação. Que o vejas tão sem culpa como eu olho para ti e não vejas os pecados que ele próprio pensa ver dentro de si. Oferece ao teu irmão a liberdade e a liberação completa do pecado, aqui, no jardim da aparente agonia e morte. Assim nós iremos preparar juntos o caminho para a ressurreição do Filho de Deus e permitir que ele mais uma vez ressuscite para a lembrança feliz do seu Pai, Que não conhece o pecado, nem a morte, mas somente a vida eterna.

19. Juntos nós desapareceremos na Presença além do véu, não para nos perdermos, mas para nos acharmos; não para sermos vistos, mas conhecidos. E conhecendo, nada no plano que Deus estabeleceu para a salvação ficará por fazer. Esse é o propósito da jornada, sem o qual a jornada é sem significado. Aqui está a paz de Deus, que te é dada eternamente por Ele. Aqui está o descanso e a quietude que buscas, a razão da jornada desde o seu início. O Céu é a dádiva que deves ao teu irmão, a dívida de gratidão que ofereces ao Filho de Deus em agradecimento pelo que ele é e pelo que o seu Pai o criou para ser.

20. Pensa com cuidado em como vais olhar para o doador dessa dádiva, pois como tu o olhares, assim parecerá ser a própria dádiva. Assim como ele é visto, como o doador da culpa ou da salvação, assim a sua oferenda será vista e assim será recebida. Os crucificados dão dor porque estão na dor. Mas os redimidos dão alegria porque foram curados da dor. Todos dão conforme recebem, mas cada um tem que escolher o que virá a ser aquilo que recebe. E reconhecerá a sua escolha em função do que ele dá e do que lhe é dado. À coisa alguma no Céu ou no inferno é dado interferir com a decisão de cada um.

21. Vieste até aqui porque a jornada foi a tua escolha. E ninguém empreende fazer aquilo que acredita ser sem significado. Aquilo em que tinhas fé ainda é fiel e vela por ti na fé de modo tão gentil e ao mesmo tempo tão forte, que te ergueria muito além do véu e colocaria o Filho de Deus a salvo sob a proteção segura do seu Pai. Aqui está o único propósito que dá a esse mundo e a longa jornada através desse mundo qualquer significado que possam ter. Além disso, são sem significado. Tu e o teu irmão estão juntos, ainda sem a convição de que eles tenham qualquer propósito. Entretanto, te é dado ver esse propósito no teu Amigo santo e reconhecê-lo como o teu próprio.

Um Curso Em Milagres

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