sábado, 13 de agosto de 2011

A canção esquecida


1. Não te esqueças de que o mundo que aqueles que não vêem ‘vêem’, tem que ser imaginado, pois o seu aspecto real lhes é desconhecido. Eles têm que inferir o que poderia ser visto de evidência sempre indireta e reconstruir suas inferências à medida em que tropeçam e caem devido ao que não reconheceram, ou podem caminhar sem danos através de portas abertas que pensavam estar fechadas. E o mesmo acontece contigo. Tu não vês. Os teus dados para a inferência estão errados e assim tropeças e cais sobre as pedras que não reconheceste, mas falhas em estar ciente de que podes atravessar as portas que pensavas estarem fechadas, mas que estão abertas diante de olhos que não vêem, esperando para te dar as boas-vindas.

2. Como é tolo tentar julgar o que poderia ser visto no lugar disso. Não é necessário imaginar como o mundo tem que ser. Ele precisa ser visto antes que o reconheças pelo que é. E possível te mostrar quais são as portas que estão abertas e podes ver aonde está a segurança, qual é o caminho que conduz à escuridão e qual é o que conduz à luz. O julgamento sempre te dará direções falsas, mas a visão te mostra aonde ir. Por que deverias adivinhar?

3. Não há necessidade de aprender através da dor. E lições benignas são aprendidas alegremente e lembradas com contentamento. O que te dá felicidade, tu queres aprender e não esquecer. Não é isso o que queres negar. A tua questão consiste em saber se os meios através dos quais esse curso é aprendido te trarão a alegria que ele promete. Se acreditasses que ele te traria, aprendê-lo não seria nenhum problema. Ainda não és um aprendiz feliz porque ainda permaneces incerto, não tens certeza se a visão te dá mais do que o julgamento e aprendeste que não podes ter ambos.

4. Os cegos se acostumam a seu mundo por meio de seus ajusta­mentos a ele. Pensam que conhecem o seu caminho dentro dele. Eles o aprenderam não através de lições alegres, mas devido à dura necessidade de limites que acreditaram não serem capazes de superar. E ainda acreditando nisso, gostam dessas lições e prendem-se a elas porque não podem ver. Não compreendem que essas lições os mantêm cegos. Nisso eles não acreditam. E assim mantêm o mundo que aprenderam a ‘ver’ em suas imaginações, acreditando que a sua escolha é essa ou nenhuma. Eles odeiam o mundo que aprenderam através da dor. E pensam que todas as coisas que estão nesse mundo servem para lembrá-los de que são incompletos e amargamente destituídos.

5. Assim definem as suas vidas e onde vivem, ajustando-se a elas como pensam que devem, com medo de perder o pouco que possuem. E assim é com todos os que vêem o corpo como tudo o que têm e tudo o que os seus irmãos têm. Eles tentam alcançar uns aos outros e falham e falham outra vez. E ajustam-se à solidão, acreditando que manter o corpo é salvar o pouco que têm. Escuta e tenta pensar se te lembras do que vamos falar agora.

6. Escuta, – talvez possas captar um indício de um estado antigo, não totalmente esquecido; vago talvez, mas não completamente estranho, como uma canção cujo nome há muito foi esquecido e as circunstâncias nas quais a ouviste estão completamente apaga­das. Nem toda a canção ficou em ti, mas apenas um pequeno trecho da melodia, sem ligação com qualquer pessoa ou local ou com qualquer coisa em particular. Mas te lembras, apenas a partir deste pequeno trecho, como era bela a canção, como era maravilhoso o cenário em que a ouviste e como amavas aqueles que ali estavam e escutaram contigo.

7. As notas nada são. No entanto, tu as mantiveste contigo, não por elas mesmas, mas como uma suave lembrança de algo que te faria chorar se te lembrasses como te foi caro. Poderias lembrar-te, mas tens medo, acreditando que perderias o mundo que aprendeste desde então. E apesar disso, sabes que nada no mundo que aprendeste tem nem sequer a metade do valor daquilo para ti. Ouve e vê se te lembras de uma canção antiga que conheceste há muito tempo e da qual gostaste mais do que de qualquer melodia que tenhas ensinado a ti mesmo a apreciar desde então.

8. Além do corpo, além do sol e das estrelas, além de todas as coisas que vês e ainda assim de algum modo familiar, está um arco de luz dourada que, à medida que olhas, se alonga em um grande círculo brilhante. E todo o círculo se enche de luz diante dos teus olhos. Os contornos do círculo desaparecem e o que há dentro já não está mais contido em nada. A luz se expande e cobre todas as coisas, estendendo-se até à infinidade, para sempre brilhante e sem nenhuma ruptura ou limite em parte alguma. Dentro dela tudo está unido em perfeita continuidade. E nem é possível imaginar que qualquer coisa pudesse estar fora, pois não há lugar algum onde essa luz não esteja.

9. Essa é a visão do Filho de Deus, a quem conheces bem. Aqui está o que vê aquele que conhece o seu Pai. Aqui está a memória do que tu és: uma parte disso, com tudo isso dentro de ti e unido a tudo com a mesma certeza com que tudo está unido em ti. Aceita a visão que pode te mostrar isso e não o corpo. Conheces a antiga canção e a conheces bem. Nada jamais te será tão caro como esse antigo hino de amor que o Filho de Deus ainda canta a seu Pai.

10. E agora os cegos podem ver, pois a mesma canção que cantam em honra ao seu Criador glorifica também a eles. A cegueira que fizeram não será capaz de resistir à memória dessa canção. E contemplarão a visão do Filho de Deus lembrando-se quem é aquele a respeito do qual estão cantando. O que é um milagre senão essa lembrança? E existe alguém em quem essa memória não esteja? A luz em um só desperta a luz em todos. E quando a vês em teu irmão, tu estás te lembrando por todos.

Um Curso Em Milagres



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