quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Os dois retratos


1. Deus estabeleceu o Seu relacionamento contigo para fazer-te feliz e nada do que faças, que não compartilhe o Seu propósito, pode ser real. O propósito atribuído por Deus a qualquer coisa que seja é a sua única função. Devido à Sua razão para criar o Seu relacionamento contigo, a função dos relacionamentos veio a ser para sempre a de “fazer feliz”. E nada mais. Para cumprir essa função, tu te relacionas com as tuas criações assim como Deus com as Suas. Pois nada do que Deus criou está à parte da felicidade, e nada do que Deus criou quer outra coisa senão estender a felicidade como fez o seu Criador. Qualquer coisa que não cumpra essa função não pode ser real.

2. Nesse mundo é impossível criar. No entanto, é possível fazer feliz. Eu tenho dito repetidas vezes que o Espírito San-to não quer privar-te dos teus relacionamentos especiais, mas apenas transformá-los. E tudo o que isso significa é que Ele vai devolver-lhes à função que lhes foi dada por Deus. A função que tu lhes deste, claramente, não é a de fazer feliz. Mas o relacionamento santo compartilha o propósito de Deus ao invés de ter como objetivo substituí-lo. Cada relacionamento especial que fizeste é um substituto para a Vontade de Deus e glorifica a tua em vez da Sua, devido à ilusão de que elas são diferentes.

3. Fizeste relacionamentos muito reais mesmo nesse mundo. No entanto, não os reconheces porque elevaste os seus substitutos a uma predominância tal que, quando a verdade te chama, como faz constantemente, respondes com um substituto. Cada relacionamento especial que tenhas feito tem, como seu propósito fundamental, o objetivo de ocupar a tua mente de forma tão completa que não ouças o chamado da verdade.

4. Em certo sentido, o relacionamento especial foi a resposta que o ego deu à criação do Espírito Santo, Que foi a Resposta de Deus à separação. Pois embora o ego não tivesse compreendido o que tinha sido criado, estava ciente da ameaça. Todo o sistema de defesa que o ego desenvolveu para proteger a separação contra o Espírito Santo foi em resposta à dádiva com a qual Deus a abençoou e, através da Sua bênção, permitiu que ela fosse curada. Essa benção contém dentro de si a verdade a respeito de todas as coisas. E é verdade que o Espírito Santo está em íntimo relacionamento contigo, porque Nele o teu relacionamento com Deus é devolvido a ti. O relacionamento com Ele nunca foi rompido porque o Espírito Santo nunca esteve separado de ninguém desde a separação. E através Dele todos os teus relacionamentos santos foram cuidadosamente preservados para servir ao propósito de Deus para ti.

5. O ego está sempre alerta à ameaça e a parte da tua mente na qual o ego foi aceito está muito ansiosa para preservar a própria razão, tal como a vê. Ela não se dá conta de que é totalmente insana. E tens que reconhecer exatamente o que significa isso, se queres ser restaurado à sanidade. Os insanos protegem seus sistemas de pensamento, mas o fazem de maneira insana. E todas as suas defesas são tão insanas quanto o que pretendem proteger. A separação nada tem em si mesma, nenhuma parte, nenhuma “razão” e nenhum atributo que não seja insano. E a sua “proteção” é parte dela, tão insana quanto o todo. O relacionamento especial, que é a sua forma principal de defesa, portanto, não pode deixar de ser insano.

6. Agora tens apenas um pouco de dificuldade em dar-te conta de que o sistema de pensamento que o relacionamento especial protege não passa de um sistema de delusões. Reconheces, pelo menos em termos gerais, que o ego é insano. Entretanto, o relacionamento especial ainda te parece de algum modo "diferente”. Contudo, nós olhamos para ele muito mais de perto do que para muitos outros aspectos do sistema de pensamento do ego que tens estado mais disposto a abandonar. Enquanto esse permanece, não abandonarás os outros. Pois esse não é diferente deles. Retém esse e terás retido a todos.

7. É essencial reconhecer que todas as defesas fazem exatamente aquilo do qual pretendem defender. A base subjacente à sua efetividade é o fato de oferecerem o produto do qual pretendem defender. O que defendem é colocado nelas para ser mantido em segurança e à medida em que operam é isso o que trazem a ti. Toda defesa opera dando dádivas e a dádiva sempre é uma miniatura do sistema de pensamento que a defesa protege, montada em uma moldura dourada. A moldura é muito elaborada, toda guarnecida de jóias, profundamente esculpida e polida. Seu propósito é ter valor em si mesma e distrair a tua atenção daquilo que ela contém. Mas a moldura sem o retrato, tu não podes ter. As defesas operam para fazer-te pensar que podes.

8. O relacionamento especial tem a moldura mais imponente e enganadora de todas as outras defesas que o ego usa. Seu sistema de pensamento é oferecido aqui, cercado por uma moldura tão pesada e tão elaborada que o retrato é quase que obliterado por sua estrutura imponente. Na moldura são tecidas todas as espécies de ilusões fantasiosas e fragmentadas acerca do amor, dispostas com sonhos de sacrifício e auto-glorificação, entrelaçadas com fios dourados de auto-destruição. O cintilar do sangue brilha como rubis, as lágrimas são lapidadas como diamantes e resplandecem na luz tênue na qual é feita a oferenda.

9. Olha para o retrato. Não deixes a moldura distrair-te. Essa dádiva te é feita para a tua condenação e se a receberes, vais acreditar que estás condenado. Não podes ter a moldura sem o retrato. O que valorizas é a moldura, pois nela não vês nenhum conflito. No entanto, a moldura apenas é o invólucro para a dádiva do conflito. A moldura não é a dádiva. Não sejas enganado pelos aspectos mais superficiais desse sistema de pensamento, pois esses aspectos englobam o todo, completo em cada um deles. A morte está nessa dádiva cintilante. Não permitas que o teu olhar permaneça no cintilar hipnótico da moldura. Olha para o retrato e reconhece que é a morte que te é oferecida.

10. É por isso que o instante santo é tão importante na defesa da verdade. A verdade em si mesma não necessita de defesa, mas tu, de fato, necessitas de defesa contra a tua aceitação da dádiva da morte. Quando tu, que és a verdade, aceitas uma idéia tão perigosa para a verdade, ameaças a verdade com a destruição. E a tua defesa tem que ser agora empreendida para manter a verdade íntegra. O poder do Céu, o Amor de Deus; as lágrimas de Cristo e a alegria do Seu Espírito eterno são convocadas para defender-te do teu próprio ataque. Pois tu Os, atacas, sendo parte Deles e Eles têm que salvar-te pois amam a Si Mesmos.

11. O instante santo é uma miniatura do Céu, que te é enviada do Céu. É também um retrato, montado em uma moldura. Entretanto, se aceitas essa dádiva, não verás a moldura em absoluto, porque a dádiva só pode ser aceita através da tua disponibilidade para focalizar toda a tua atenção no retrato. O instante santo é uma miniatura da eternidade. É um retrato da intemporalidade, montado em uma moldura de tempo. Se focalizas o retrato, vais reconhecer que foi só a moldura que te fez pensar que era um retrato. Sem a moldura, a retrata é visto pelo que representa. Pois assim como todo o sistema de pensamento do ego está nas suas dádivas, também assim todo o Céu está nesse instante, tomado por empréstimo da eternidade e montado no tempo para ti.

12. Duas dádivas te são oferecidas. Cada uma é completa e não pode ser parcialmente aceita. Cada um é um retrato de tudo o que podes ter, visto de modos muito diferentes. Não podes comparar o seu valor comparando um retrato com uma moldura. Tens que comparar apenas os retratos ou a comparação é totalmente sem significado. Lembra-te de que é o retrato que constitui a dádiva. E só com base nisso é que estás realmente livre para escolher. Olha para os retratos. Ambos. Um é um retrato diminuto, difícil de se ver por trás das pesadas sombras de seu invólucro enorme e desproporcional, o outro é levemente emoldurado e pende na luz, belo para ser contemplado tal como é.

13. Tu, que tanto tens tentado e ainda continuas tentando adequar o melhor retrato à moldura errada e assim combinar a que não pode ser combinado, aceita isso e fica contente: cada um desses retratos é emoldurado de forma perfeita para o que representam. Um está emoldurado para ficar fora de foco e não ser visto. O outro está emoldurado para transparecer perfeita clareza. O retrato da escuridão e da morte torna-se cada vez menos convincente à medida em que o investigas dentre seus invólucros. À medida em que cada pedra sem sentido, que parece brilhar na moldura quando está escuro, é exposto à luz, passa a ser opaco e sem vida e deixa de distrair-te do retrato. E finalmente olhas para o retrato em si mesmo, vendo afinal que, sem a proteção da moldura, ele não tem significado.

14. O outro retrato está levemente emoldurado, pois o tempo não pode conter a eternidade. Não há distração aqui. O retrato do Céu e da eternidade torna-se mais convincente à medida em que olhas para ele. E agora, através da comparação real, uma transformação de ambos os retratos pode afinal ocorrer. E a cada um é dado o seu lugar de direito quando ambos são vistas, um em relação ao outro. O retrato escuro, trazido à luz, não é percebida como amedronta-dor, mas o fato de que é apenas um retrato é afinal compreendido. E o que vês nele, vais reconhecer pelo que é: um retrato do que pensaste que fosse real e nada mais. Pois além desse retrata, nada verás.

15. O retrato da luz, em contraste claro e inequívoco, é transformado no que está além dele. À medida em que olhas para ele, reconheces que não é um retrato, mas uma realidade. Ele não é uma representação figurada de um sistema de pensamento, mas o Pensamento em si mesmo. O que representa está lá. A moldura se desvanece gentilmente e Deus surge na tua lembrança, oferecendo-te a totalidade da criação em troca do teu pequeno retrato, totalmente sem valor e inteiramente privado de significado.

16. À medida em que Deus ascende a Seu lugar de direita e tu ao teu, experimentarás mais uma vez o significado do relacionamento e conhecerás o que é verdadeiro. Vamos juntos ascender em paz para o Pai dando a Ele ascendência em nossas mentes. Nós tudo ganharemos por dar a Ele o poder e a glória, sem guardar nenhuma ilusão acerca de onde estão. Estão em nós, através da Sua1ascendência. O que Ele deu é Seu. Brilha em todas as Suas partes, assim como no todo. Toda a realidade do teu relacionamento com Ele está em nossos relacionamentos uns com os outros. O instante santo brilha igualmente sobre todos os relacionamentos, pois nele todos são um. Pois aqui está apenas a cura, já completa e perfeita. Pois aqui está Deus e onde Ele está só o que é perfeito e completo pode estar.

Um Curso Em Milagres


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