terça-feira, 29 de setembro de 2009

A última questão sem resposta


1. Não vês que toda a tua miséria vem da estranha crença em que não tens poder? Ser impotente é o custo do pecado. A impotência é a condição do pecado, o único requisito que ele exige para que se acredite nele. Só os impotentes poderiam acreditar nele. A enormidade não tem apelo nenhum a não ser para o pequeno. E só aqueles que, em primeiro lugar, acreditam que são peque­nos, poderiam ver atrativos nela. Traição ao Filho de Deus é a defesa daqueles que não se identificam com ele. E tu és por ele ou contra ele, ou o amas ou o atacas, proteges a sua unidade ou o vês despedaçado e abatido pelo teu ataque.

2. Ninguém acredita que o Filho de Deus não tenha poder. E aqueles que se vêem impotentes necessariamente acreditam que não são o Filho de Deus. O que podem ser exceto seu inimigo? E o que podem fazer exceto invejar o seu poder e pela sua inveja fazerem-se temerosos em relação a esse poder? Esses são os es­curos, silenciosos e temerosos, solitários e incomunicáveis, com medo de que o poder do Filho de Deus venha a trespassá-los e matá-los e assim erguem contra ele a sua impotência. Eles se unem ao exército dos impotentes para batalhar na sua guerra de vingança, amargura e despeito contra ele, para torná-lo uno com eles. Porque não têm o conhecimento de que são unos com ele, não sabem a quem odeiam. Eles são, de fato, um exército pesaro­so, cada um com tanta possibilidade de atacar o seu irmão ou voltar-se contra si mesmo quanto de lembrar que pensavam que tinham uma causa em comum.

3. Frenéticos, vociferantes e fortes os escuros parecem ser. No en­tanto, não conhecem o próprio “inimigo”, sabem apenas que o odeiam. No ódio, eles vieram a se juntar, mas não se uniram uns aos outros. Pois caso o tivessem feito, o ódio seria impossível. O exército dos impotentes tem que ser dispersado na presença da força. Aqueles que são fortes nunca são traidores porque não têm necessidade de sonhar com o poder e de encenar o seu sonho. Como poderia um exército atuar em sonhos? Atuaria de qual­quer maneira. Poderia ser visto atacando qualquer pessoa com qualquer coisa. Sonhos não têm razão em si mesmos. Uma flor torna-se uma lança envenenada, uma criança torna-se um gigante e um camundongo ruge como um leão. E o amor torna-se ódio com a mesma facilidade. Isso não é um exército, mas uma casa de loucos. O que parece ser um ataque planejado é um hospício.

4. O exército dos impotentes é, de fato, fraco. Ele não tem armas não tem inimigo. Sim, ele pode assolar o mundo e buscar um inimigo. Mas jamais pode achar o que não existe. Sim, ele pode sonhar que achou um inimigo, mas esse se deslocará até mesmo no momento em que for atacado de forma que o exército corre imediatamente para achar outro e nunca vem a descansar na vitória. E, à medida em que corre, volta-se contra si mesmo, pensando que capturou um vislumbre do grande inimigo, que sem­pre esquiva-se do seu ataque assassino tornando-se alguma outra coisa. Como parece traiçoeiro esse inimigo que muda tanto a ponto de ser impossível reconhecê-lo.

5. No entanto, o ódio tem que ter um alvo. Não pode haver fé no pecado sem um inimigo. Quem, entre aqueles que acreditam no pecado, ousaria acreditar que não tem um inimigo? Poderia ele admitir que ninguém o tornou impotente? A razão com certeza lhe proporia não mais buscar o que não existe para ser achado. Entretanto, é preciso que, em primeiro lugar, ele esteja disposto a perceber um mundo onde isso não exista. Não é necessário que compreenda como poderá vê-lo. Nem deveria tentar. Pois se foca­liza em algo que não pode compreender, apenas ressaltará a sua própria impotência e permitirá que o pecado lhe diga que o seu inimigo tem que ser ele próprio. Ao invés disso, que pergunte a si mesmo apenas essas questões a respeito das quais ele não pode deixar de tomar uma decisão para que isso seja feito para ele:

Desejo um mundo que eu governe ao invés de um mundo que me governe?

Desejo um mundo no qual eu tenha poder ao invés de ser impotente?

Desejo um mundo no qual não tenho inimigos e não posso pecar?

E quero eu ver aquilo que neguei porque é a verdade?

6. Podes já ter respondido às primeiras três questões, mas ainda não à última. Pois essa ainda parece amedrontadora e distinta das outras. No entanto, a razão te asseguraria que todas elas são a mesma. Nós dissemos que esse ano enfatizaria a igualdade das coisas que são a mesma. Essa questão final, que é de fato a últi­ma pela qual tens que te decidir, ainda parece conter uma ameaça que as outras já não te trazem. E essa diferença imaginada teste­munha o fato de que tu acreditas que a verdade pode ser o inimi­go que ainda podes achar. Aqui, então, aparentemente estaria a última esperança remanescente de achar o pecado e de não acei­tar o poder.

7. Não te esqueças de que a escolha entre o pecado ou a verdade, impotência ou poder, é a escolha entre atacar ou curar. Pois a cura vem do poder e o ataque da impotência. Aquele que atacas, não podes querer curar. E aquele que queres ver curado, tem que ser aquele que escolheste para ser protegido do ataque. E o que é essa decisão senão a escolha entre vê-lo através dos olhos do cor­po ou permitir que ele seja revelado a ti através da visão? Como essa decisão conduz a seus efeitos, não é problema teu. Mas o que queres ver não pode deixar de ser escolha tua. Esse é um curso sobre a causa, não sobre o efeito.

8. Considera cuidadosamente a tua resposta à última questão que deixaste ainda sem resposta. E deixa que a tua razão te diga que ela tem que ser respondida e é respondida nas outras três. E en­tão ficará claro para ti, à medida em que observas os efeitos do pecado sob qualquer forma, que tudo o que precisas fazer é simplesmente perguntar a ti mesmo:

É isso o que eu quero ver? É isso o que eu quero?

9. Essa é a tua única decisão; essa é a condição para o que ocorre. Como acontece é irrelevante, mas não o por quê. Tens controle sobre isso. E se escolhes ver um mundo sem um inimigo no qual não és impotente, os meios para vê-lo te serão dados.

10. Por que a questão final é tão importante? A razão te dirá por­que. Ela é a mesma que as outras três, exceto no que diz respeito ao tempo. As outras são decisões que podem ser tomadas e en­tão desfeitas e refeitas outra vez. Mas a verdade é constante e implica um estado no qual as vacilações são impossíveis. Podes desejar um mundo que governes e que não te governe e depois mudar a tua mente. Podes desejar trocar a tua impotência por poder e perder esse desejo, assim que um pequeno lampejo de pecado te atrair. E podes querer ver um mundo sem pecado e permitir que um ‘inimigo’ te tente a usar os olhos do corpo e mudar o que desejas.

11. Em conteúdo, todas as questões são a mesma. Pois cada uma pergunta se estás disposto a trocar o mundo do pecado pelo que o Espírito Santo vê, já que é isso o que o mundo do pecado nega. E, portanto, aqueles que olham para o pecado estão vendo a negação do mundo real. Apesar disso, a última questão acrescenta o desejo por constância ao teu desejo de ver o mundo real, de tal modo que esse desejo vem a ser o único que tens. Respondendo ‘sim’ à questão final, acrescentas sinceridade às decisões que já tomaste em relação a todo o resto. Pois somente então terás renunciado à opção de mais uma vez mudares de idéia. Quando isso for o que não queres, o resto terá sido totalmente respondido.

12. Por que pensas que não tens certeza se as outras questões fo­ram respondidas? Seria necessário que fossem perguntadas com tanta freqüência, caso tivessem sido? Enquanto a última decisão não é tomada, a resposta é ao mesmo tempo ‘sim’ e ‘não’. Pois respondeste ‘sim’ sem perceber que esse ‘sim’ necessariamente significa ‘que não disseste não’. Ninguém se decide contra a sua própria felicidade, mas pode fazê-lo quando não vê que é isso o que está fazendo. E se vê a sua felicidade como alguma coisa em mudança constante, agora isso, agora aquilo, e agora uma sombra fugidia que não está ligada a coisa alguma, ele de fato se decide contra a felicidade.

13. A felicidade fugidia ou a felicidade em forma mutante, que se desloca com o tempo e o lugar, é uma ilusão que não tem signifi­cado. A felicidade tem que ser constante, porque ela é alcançada pela renúncia ao desejo do inconstante. A alegria não pode ser percebida, exceto através da visão constante. E a visão constante só pode ser dada àqueles que desejam a constância. O poder do desejo do Filho de Deus permanece sendo a prova de que ele está errado quando se vê como impotente. Deseja o que queres e o contemplarás e pensarás que é real. Todo pensamento tem ape­nas o poder de liberar ou matar. E nenhum pensamento pode deixar a mente do pensador ou deixar de afetá-lo.

Um Curso Em Milagres


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