quinta-feira, 30 de julho de 2009

O sonhador do sonho


1. O sofrimento é uma ênfase colocada em tudo aquilo que o mundo fez para te machucar. Aqui está claramente exposta a versão demente que o mundo tem do que seja a salvação. Como um sonho de punição, no qual o sonhador está inconsciente do que lhe trouxe o ataque a si mesmo, ele se vê atacado injustamente e por algo que não é ele próprio. Ele é a vítima dessa “alguma outra coisa”, uma coisa fora de si mesmo, pela qual ele não tem nenhuma razão para ser responsabilizado. Ele tem que ser inocente porque não sabe o que faz, mas apenas o que lhe é feito. Ainda assim, o seu ataque a si próprio continua evidente, pois é ele que carrega o sofrimento. E não pode escapar porque a fonte do sofrimento é vista fora dele.

2. Agora está sendo mostrado a ti que podes escapar. Tudo o que é necessário é olhares para o problema assim como é, e não do modo como o tinhas colocado. Como poderia existir uma outra forma de se resolver um problema que é muito simples, mas foi obscurecido por escuras nuvens de complicação feitas para manter o problema sem solução? Sem as nuvens, o problema emergirá em toda a sua simplicidade primitiva. A escolha não será difícil, porque o problema é absurdo quando visto com clareza. Ninguém tem dificuldade de tomar uma decisão para permitir que um problema simples seja resolvido, se esse problema é visto como algo que está ferindo-o e é muito fácil de ser removido.

3. O “raciocínio” pelo qual esse mundo é feito, no qual se baseia e pelo qual ele é mantido é simplesmente o seguinte: “Tu és a causa do que eu faço. A tua presença justifica a minha cólera e tu existes e pensas à margem de mim. Enquanto atacas, eu tenho que ser inocente. E aquilo de que eu sofro é o teu ataque.” Ninguém que olhe para esse raciocínio exatamente como é pode deixar de verificar que ele não procede e não faz sentido. Apesar disso, parece razoável, porque parece que o mundo está te ferindo. E assim, aparentemente, não há necessidade de ires além do óbvio em termos de causa.

4. De fato, essa necessidade existe. A necessidade de que o mundo escape da condenação é uma necessidade que aqueles que aqui habitam estão unidos para compartilhar. No entanto, eles não reconhecem a sua necessidade comum. Pois cada um pensa que se fizer a sua parte, a condenação do mundo cairá sobre ele. E é isso que percebe como se fosse a sua parte na libertação do mundo. A vingança tem que ter um foco. De outro modo, a faca do vingador ficará em sua própria mão e apontada para ele mesmo. E ele precisa vê-la na mão de um outro para poder ser a vítima de um ataque que não escolheu. E assim sofre com os ferimentos feitos por uma faca que um outro segura, mas não ele mesmo.

5. Esse é o propósito do mundo que ele vê. E encarado dessa maneira, o mundo provê os meios através dos quais esse propósito parece ser cumprido. Os meios atestam o propósito, mas não são eles próprios uma causa. Tampouco a causa vai mudar, se for vista à parte de seus efeitos. A causa produz os efeitos, que então testemunham a causa e não a si mesmos. Olha, portanto, para o que está além dos efeitos. Não é aqui que a causa do sofrimento e do pecado têm que estar. E não pares no sofrimento e no pecado, pois não passam de reflexos daquilo que os causa.

6. A parte que desempenhas em resgatar o mundo da condenação é o teu próprio escape. Não te esqueças de que as testemunhas do mundo do mal não podem falar, exceto por aquilo que tenha visto uma necessidade de mal no mundo. E foi aí que a tua culpa pela primeira vez foi contemplada. Na separação do teu irmão teve início o primeiro ataque a ti mesmo. E é a isso que o mundo dá testemunho. Não busques outra causa, nem procures desfazê-la entre as poderosas legiões de testemunhas mundanas. Elas apóiam a sua reivindicação da tua fidelidade. Naquilo que esconde a verdade não é onde deves procurar achar a verdade.

7. As testemunhas do pecado estão todas dentro de um pequeno espaço. E é aqui que achas a causa da tua perspectiva no mundo. Houve um tempo no qual não tinhas consciência do que era no realidade a causa de tudo o que o mundo parecia lançar sobre ti, sem o teu convite e sem a tua solicitação. De uma coisa estavas certo: entre as muitas causas que percebias como portadoras do dor e de sofrimento para ti, a tua culpa não constava. E tampouco os tinhas requisitado para ti mesmo. Foi assim que todas as ilusões vieram. Aquele que as faz não se vê fazendo-as, e a realidade delas não depende dele. Qualquer que seja a causa que tenham, é algo bastante à parte dele e o que ele vê está separado da sua própria mente. Ele não pode duvidar da realidade de seus sonhos, porque não vê a parte que desempenha em fazê-los e em fazê-los parecerem reais.

8. Ninguém pode acordar de um sonho que o mundo está sonhando por ele. Ele vem a ser uma parte do sonho de alguma outra pessoa. Não pode escolher despertar de um sonho que não fez. Ele fica impotente, uma vítima de um sonho concebido e alimentado, por uma mente separada. De fato, essa mente não se importa com ele, e está tão pouco preocupada com a sua paz e a sua felicidade quanto o tempo ou a hora do dia poderiam estar. Ela não o ama, mas o coloca à sua vontade em qualquer papel que satisfaça ao seu sonho. Tão pequeno é o valor que lhe é dado, que ele não passa de uma sombra que dança, pulando para cima e para baixo de acordo com um roteiro sem sentido, concebido dentro do sonhar vão do mundo.

9. Esse é o único retrato que és capaz de ver, a única alternativa que podes escolher, a outra possibilidade de causa, se tu não fores o sonhador dos teus sonhos. E isso é o que escolhes se negas que a causa do sofrimento está em tua mente. Fica contente por ela de fato estar aí, pois assim és a única pessoa que pode decidir o teu destino no tempo. A. escolha é tua, entre uma morte de sono e sonhos maus ou um despertar feliz e a alegria da vida.

10. Entre o que poderias escolher senão entre a vida ou a morte, o despertar ou o dormir, a paz ou a guerra, os teus sonhos ou a tua realidade? Existe um risco de pensares que a morte é paz, porque o mundo equipara o corpo ao Ser Que Deus criou. No entanto, uma coisa nunca pode ser o seu oposto. E a morte é o oposto da paz, porque é o oposto da vida. E a vida é paz. Desperta e esquece todos os pensamentos de morte, e descobrirás que tens a paz de Deus. Entretanto, se a escolha realmente te é dada, então tens que ver as causas das coisas que escolheste exatamente como são e aonde se encontram.

11. Que escolhas se pode fazer entre dois estados, se apenas um é claramente reconhecível? Quem poderia estar livre para escolher entre efeitos, quando ele vê apenas um como algo que depende dele? Uma escolha honesta jamais poderia ser percebida como uma escolha na qual a opção está dividida entre um tu diminuto e um mundo enorme, com sonhos diferentes acerca da verdade em ti. A brecha entre a realidade e os sonhos não está entre o sonhar do mundo e o que sonhas em segredo. Essas coisas são uma só. O sonhar do mundo não é senão uma parte do teu próprio sonho que deste para os outros, e viste como se fosse o início e o fim do teu. No entanto, o sonhar do mundo teve início com o teu sonho secreto, que não percebes, embora ele tenha causado a parte que vês e não duvidas que seja real. Como poderias duvidar enquanto estás deitado dormindo e sonhas em segredo que a sua causa é real?

12. Um irmão separado de ti, um antigo inimigo, um assassino que te assalta no meio da noite e planeja a tua morte, no entanto, a planeja de forma lenta, demorada – é com isso que sonhas. Entretanto, por trás desse sonho há ainda outro, no qual passas a ser o assassino, o inimigo secreto, o vingador e o destruidor do teu irmão e do mundo da mesma forma. Aqui está a causa do sofrimento, o espaço entre os teus pequenos sonhos e a tua realidade. A pequena brecha que nem sequer vês, o lugar onde nascem as ilusões e o medo, o momento do terror e do antigo ódio, o instante do desastre, tudo isso está aqui. Aqui está a causa da irrealidade. E é aqui que ela será desfeita.

13. Tu és o sonhador do mundo dos sonhos. Ele não tem outra causa nem nunca terá. Nada mais amedrontador do que um sonho vão aterrorizou o Filho de Deus e o fez pensar que ele perdeu a sua inocência, negou o seu Pai e fez uma guerra contra si mesmo. Tão amedrontador é o sonho, tão aparentemente real, que ele não poderia despertar para a realidade sem o suor do terror e um grito de medo mortal, a não ser que um sonho mais gentil precedesse o seu despertar e permitisse que a sua mente mais calma desse boas-vindas à Voz Que chama com amor para que ele desperte ao invés de temê-la; um sonho mais gentil, no qual o seu sofrimento foi curado e seu irmão veio a ser seu amigo. A Vontade de Deus é que ele desperte gentilmente e com alegria e deu-lhe o meio para despertar sem medo.

14. Aceita o sonho que Ele deu em lugar do teu. Não é difícil mudar um sonho uma vez que o sonhador já tenha sido reconhecido. Descansa no Espírito Santo e deixa que os Seus sonhos gentis tomem o lugar daqueles que sonhaste no terror e no medo da morte. Ele traz sonhos que perdoam, nos quais a escolha não é entre quem é o assassino e quem será a vítima. Nos sonhos que Ele traz não existe assassínio e não há morte. O sonho da culpa está se apagando da tua vista, embora os teus olhos estejam fechados. Um sorriso veio para iluminar a tua face adormecida. O sono agora é de paz, pois estes são sonhos felizes.

15. Sonha suavemente com o teu irmão sem pecado, que se une a ti em santa inocência. E desse sonho o próprio Senhor do Céu despertará o Seu Filho amado. Sonha com a benignidade do teu irmão, em vez de habitares nos seus equívocos em teus sonhos. Seleciona a atenção cuidadosa que ele te presta como matéria dos teus sonhos, ao invés de contares os ferimentos que ele provocou. Perdoa-lhe as suas ilusões e agradece-lhe por toda a ajuda que prestou. E não deixes de lado as muitas dádivas que ele te deu, porque ele não é perfeito em teus sonhos. Ele represento o seu Pai, que tu vês como Aquele Que te oferece ambas, vida e morte.

16. Irmão, Ele dá só a vida. Entretanto, o que vês como as dádivas que o teu irmão te oferece representa as dádivas que sonhas que o teu Pai te dá. Permite que todas as dádivas do teu irmão, oferecidas a ti, sejam vistas à luz da caridade e da benignidade. E não deixes dor alguma perturbar o teu sonho de profunda apreciação pelas suas dádivas a ti.

Um Curso Em Milagres


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